Segundo o Expresso, "a indicação para não testar a generalidade das pessoas mais próximas de um caso positivo consta de uma norma da Direção-Geral da Saúde (DGS) publicada na semana passada e está a provocar críticas severas na comunidade médica. O Governo é acusado de sacrificar a contenção do vírus para reduzir o número de infetados, melhorando a imagem do país".
O jornal adianta, segundo um dos pontos da nova norma, os testes de diagnóstico aos contactos de alto risco passam a ficar ao critério das autoridades de Saúde, sendo especialmente reservado para infeções em surtos, aglomerados ou coabitantes. "O problema está no facto de não serem identificadas as pessoas que privaram com o contacto de alto risco e que podem também estar infetadas. À partida, só serão sujeitas a teste se vierem a ter sintomas, mas, entretanto, perdeu-se a identificação precoce de novas infeções", refere a notícia.
A decisão terá motivado que dois especialistas consultores da DGS encarregados da revisão de normas para a pandemia enviassem uma carta à diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, a comunicar que cessam funções se a regra não for retirada. Um deles, António Diniz, pneumologista e antigo diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/Sida da DGS, disse ao Expresso que "arrisca-se não fazer testes aos casos secundários até poderem estar sintomáticos. Alguns países fizeram-no e não correu bem, sublinhando que “a estratégia contra a pandemia é nacional, não é para ficar ao critério da autoridade de Saúde de cada região”.
A indicação em causa preocupa também a Ordem dos Médicos (OM). O Gabinete de Crise, presidido pelo pneumologista e consultor da DGS Filipe Froes, citado também na notícia do Expresso refere que “as implicações desta norma preocupam, porque a OM defendeu sempre a realização, o mais precocemente possível, do teste de diagnóstico laboratorial nos casos suspeitos e nos contactos de alto risco para caracterizar a realidade epidemiológica e atuar em conformidade”.
A norma em causa foi publicada no dia 24 de julho e refere-se ao rastreio de contactos que é um dos pontos-chave na estratégia de contenção da propagação da COVID -19. Segundo a DGS, "a norma formaliza procedimentos que já são realizados pelas autoridades de saúde e tem por base a melhor e mais atual evidência científica e os contributos de peritos em Saúde Pública, incluindo autoridades de saúde, que diariamente atuam no terreno".
No comunicado enviado aos meios de comunicação social na madrugada deste sábado, o teor da notícia do Expresso é desmentido. "Não é verdade, portanto, que Portugal vá reduzir o número de testes, como afirma o jornal. Nem é verdade que a norma em causa exclua ou restrinja o universo de pessoas sujeitas à realização de testes. E muito menos é verdade que estejam a ser violadas quaisquer indicações da OMS", escreve a Direção Geral da Saúde sobre a manchete do jornal Expresso.
"Pelo contrário, as autoridades de saúde portuguesas continuam firmemente empenhadas na aplicação da estratégia de “testar, testar, testar”, o que já conduziu à realização em Portugal de mais de 1,6 milhões de testes laboratoriais para SARS-CoV-2, tendo a percentagem de testes positivos vindo a diminuir de forma consistente ao longo das últimas semanas (2,9% no dia 29 de julho)", pode ler-se no mesmo comunicado.
Segundo a DGS, a possibilidade da realização de testes a contactos de casos confirmados de Covid-19 "sempre dependeu, e continua a depender, da estratificação de risco efetuada pelas autoridades de saúde". "Por isso, a DGS desmente categoricamente a restrição da realização de testes a contactos de casos confirmados, tal como o fez, oportunamente, junto do jornal Expresso".
O tema divide a comunidade médica como espelha a notícia do Expresso. Rui Portugal, responsável pelo Gabinete de Crise da Covid-19 na região de Lisboa foi outro dos especialistas ouvidos pelo jornal e que afima "é uma loucura os testes que estão a ser feitos. No início não existiam e depois vieram para a rua e passaram a ser um ato de desejo e não um ato clínico". SegundoRui Portugal, “a nova norma ajuda-nos a não passar uma imagem catastrofista e defende a saúde pública, que não fica posta em risco. Por isso, faz sentido”.
O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia também concorda com a alteração decidida pela DGS: “Vamos testar, testar, testar quando se justifica. O que tem de ser assegurado é que um caso positivo tem um inquérito epidemiológico bem feito, com os contactos identificados e em isolamento”, afirma ao Expresso.
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