“Recordo-me de uma ocasião em que uma jovem queria ser vista. Era bonita, da minha terra, ia para uma festa e maquilhou-se totalmente. Eu pensei: por de trás da maquilhagem o que fica? Não maquilheis a alma, o coração. Sede como sois, sinceros, transparentes”, disse o Papa.
Francisco dirigia-se aos jovens no decorrer da missa na Basílica de São Pedro, no Vaticano, a propósito da 39.ªJornada Mundial da Juventude (JMJ) que se vai realizar, em 2027, em Seul, Coreia do Sul, sendo que em 2025 Roma acolhe o Jubileu dos Jovens.
No final da missa, uma delegação de Portugal, que acolheu a JMJ em 2023, entregou a um grupo de coreanos o símbolo das jornadas, a Cruz dos Jovens, e um ícone mariano, inaugurando assim a peregrinação que termina com a celebração em Seul.
No decorrer da homilia, o papa levantou-lhes “perguntas difíceis, mas importantes” e refletiu, com base no Evangelho, sobre três aspetos do caminho dos cristãos: as acusações, a necessidade de consenso e a verdade.
“Se olharmos à nossa volta, o que vemos parece diferente. O que podemos dizer sobre as guerras, a violência, os desastres ecológicos? O que podemos pensar sobre os problemas que vocês, queridos jovens, também devem enfrentar olhando para o futuro, como a precariedade no trabalho e a incerteza económica — e não só – as divisões que polarizam a sociedade?”, questionou.
O papa Francisco falou da atual “necessidade de consensos” para aconselhar os jovens a “não se deixarem contagiar pelo desejo, hoje tão difundido, de serem vistos, aprovados, elogiados”.
“Quem se deixa levar por estas fixações, acaba por viver na angústia. Reduz-se a abrir o caminho a acotovelar-se, a competir, a fingir, a trair os próprios ideais para ter um pouco de aceitação e visibilidade. A vossa dignidade não se vende”, advertiu.
Neste sentido, disse aos jovens que Deus os ama “tal como são” e apelou a que “não se deixem enganar por aqueles que, persuadindo com promessas vãs”, nas realidade, só os querem “manipular, condicionar e usar para os seus próprios interesses”.
“Não se conformem em ser ‘estrelas por um dia’ nas redes sociais ou em qualquer outro contexto. O céu em que são chamados a brilhar é maior: é o céu de Deus […] Os consensos não salvam o mundo, não dão felicidade, mas a gratuitidade do amor. O amor não se compra nem se vende, é gratuito”, disse.
Da mesma forma, Francisco lamentou que, como Jesus, hoje em dia, às vezes, os cristãos são colocados “sob acusação” na escola e entre amigos.
“Pode haver quem queira fazer-vos sentir fracassados, porque se mantêm fieis ao Evangelho e aos seus valores […] Não tenham medo das condenações, não se preocupem, antes ou depois, as críticas caem e os valores superficiais que as sustentam revelam-se, porque são ilusões”, avisou.
Por último, defendeu a prática do amor e da caridade na atualidade turbulenta que se vive e assegurou que “não é verdade, como alguns pensam, que os acontecimentos do mundo saíram das mãos de Deus”.
“Não é verdade que a história se faça pelos violentos e prepotentes, pelos orgulhosos e arrogantes. Muitos males que nos afligem são obra do Homem, engano do mal, mas tudo será submetido, no final, ao juízo de Cristo. Aqueles que destroem pessoas ou fazem a guerra, que cara terão quando se apresentarem perante Deus? Que responderão?”, referiu.
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