“O volume de obra é muito significativo, estende-se mais no tempo e está-se a refletir claramente na socioeconomia destes concelhos”, afirmou hoje à agência Lusa o presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar, Alberto Machado.
A construção das três barragens está a dar emprego a operários e técnicos superiores dos concelhos do Alto Tâmega, no distrito de Vila Real, e atraíram também mão-de-obra de fora deste território, que consome no comércio local, come nos restaurantes, ocupa unidades hoteleiras e arrenda casas e apartamentos.
“A capacidade de arrendamento que havia neste território praticamente esgotou e a procura continua porque, conforme as obras vão avançando, vão chegando mais técnicos e operários”, salientou o autarca.
Em pico de obra, o empreendimento deverá dar emprego direto a 3.500 trabalhadores e ainda permitirá criar 10.000 postos de trabalho indiretos.
Segundo fonte da espanhola Iberdrola, responsável pelo empreendimento, neste momento trabalham na obra cerca de 1.000 trabalhadores.
No terreno fala-se de muito movimento, de uma nova vida que está a atingir estas vilas do interior do país e algumas das suas aldeias, muito afetadas pelo envelhecimento da população.
Na Casa Fontes, em Pedras Salgadas, Vila Pouca de Aguiar, também “já se notam bastante as consequências” do empreendimento.
“Temos tido muita procura de alojamento. Estamos completamente lotados. Estamos com uma taxa de ocupação semanal de 100%, de segunda a sexta-feira, e mais quartos tivesse”, afirmou João Fontes, responsável por esta unidade hoteleira, que possui 12 quartos.
O empresário falou num “balão de oxigénio” para este território.
Nos estaleiros foram já criadas camaratas e também cantinas. Estas cantinas desviaram alguns clientes dos restaurantes locais mas, mesmo assim, são muitos os trabalhadores que diariamente comem nos estabelecimentos destes concelhos.
Na aldeia de Carrazedo do Alvão, Sílvia Morais explora um restaurante na Estrada Nacional 206, e disse que diariamente serve cerca de “20 a 25 almoços” a trabalhadores da obra.
Na Portela de Santa Eulália, já no concelho de Ribeira de Pena, Carmo Fernandes é responsável por um restaurante, café e supermercado.
“O negócio está a correr bem. Sentimos uma quebra após a abertura das cantinas, mas agora estamos a subir novamente. Estão sempre empresas novas a chegar. Temos uma média de 50 pessoas a almoçar aqui”, salientou.
Carmo Fernandes referiu que, mesmo sendo temporariamente, esta é uma obra que está a ajudar o negócio neste território.
“Mesmo na vila nota-se perfeitamente que o movimento triplicou”, salientou a empresária.
O Sistema Eletroprodutor do Tâmega é um dos maiores projetos hidroelétricos levados a cabo na Europa nos últimos 25 anos e contempla a construção de três aproveitamentos hidroelétricos na região do Alto Tâmega: Gouvães (bombagem), Daivões (turbinação) e Alto Tâmega (turbinação).
As barragens deverão estar concluídas em 2023 e o maior volume de trabalhos concentra-se entre os anos 2018 e 2020.
Aprender a soldar para trabalhar nas barragens
Na escola de soldadura de Vila Pouca de Aguiar, 15 formandos estão a aprender a soldar e anseiam por arranjar, já neste verão, trabalho nas obras das barragens do Alto Tâmega.
Rui Rendeiro, 23 anos e natural da aldeia de Cidadelha de Jales, é um dos formandos e afirmou à agência Lusa que a sua ambição é conseguir arranjar trabalho perto de casa, nas obras do Sistema Eletroprodutor do Tâmega, concessionado à espanhola Iberdrola.
“Vamos ver como corre. A ideia é ser chamado para ir para a barragem. Já tinha trabalhado nisto e aproveitei, agora, para seguir carreira nesta área”, disse.
O formando explicou que, nesta escola profissional, estão a aprender a soldar ensaiando técnicas que terão que usar se foram contratados para o empreendimento.
Os formandos estão a ter formação técnica especializada para se poderem integrar na construção da tubagem de conduta forçada que irá fazer parte do circuito hidráulico do aproveitamento de Gouvães e terá a duração aproximada de três anos.
Ricardo Alves, também de 23 anos e residente em Vila Pouca de Aguiar, despediu-se do emprego que tinha para ir para o curso de soldadura porque acha que “é uma boa oportunidade”.
“Espero ir trabalhar para a barragem, mas se tal não acontecer, tendo este curso tenho mais possibilidade de arranjar emprego. Acho que esta é uma boa saída profissional”, frisou.
A escola nasceu da colaboração entre o município, o Centro de Formação Profissional da Indústria da Fundição, Instituto de Emprego e Formação Profissional e a empresa Andritz Hydro.
A Câmara de Vila Pouca de Aguiar investiu cerca de 132 mil euros neste projeto que, segundo o presidente Alberto Machado, serve o propósito “de promover a empregabilidade local”.
“O melhor investimento que o município pode fazer é nas pessoas. Os formandos poderão ter trabalho garantido na referida área industrial”, salientou o autarca.
Alberto Machado falou numa “simbiose entre os promotores”. “Temos jovens que precisam de formação específica e de entrar no mercado de trabalho. Estão a fazer esta formação e os que tiverem aproveitamento positivo irão entrar no mercado de trabalho”, afirmou à Lusa.
A Andritz Hydro, empresa contratada pela Iberdrola, prevê a necessidade de reforçar a mão-de-obra especializada em soldadura, tendo em conta as suas especificações técnicas.
Está prevista a utilização de 110 toneladas de material de soldadura para a execução desta construção, cujo processo de soldadura terá uma duração estimada de mais de 250.000 horas.
Em pico de obra, o Sistema Eletroprodutor do Tâmega deverá dar emprego direto a 3.500 trabalhadores e ainda permitirá criar 10.000 postos de trabalho indiretos.
Segundo fonte da espanhola Iberdrola, neste momento trabalham na obra cerca de 1.000 trabalhadores.
A Iberdrola referiu ainda que assumiu o compromisso de “privilegiar nas suas contratações o mercado laboral local, promovendo, desta forma, empregos e oportunidades que contribuem para a dinamização socioeconómica da comunidade local e das empresas parceiras”.
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