A noite mais longa do ano da Invicta não vai existir. A pandemia, que já teve o epicentro no Norte, obrigou ao cancelamento dos festejos que unem Porto e Gaia para, noite dentro, brincar ao São João. Desta vez, porém, as ordens são para fechar tudo e ficar em casa.
As cores garridas dos cartazes da câmara destoam das ruas que, há poucas semanas, não tinham vivalma. Um pouco por toda a cidade, a autarquia portuense espalhou mensagens pedir para que o São João deste ano seja em casa. "A festa é como a sardinha, quer-se pequenina", "Arraial? Só meia dúzia no quintal", "Grão na asa, festa em casa", "No São João, fica ao portão”, lê-se nas mensagens.
Os MUPI, que pegam na imagem criada em 2014 por Eduardo Aires para o município, fazem parte de uma estratégia maior para evitar ajuntamentos nas ruas da Invicta numa noite que costuma ser cheia, da Trindade à Ribeira, das Fontainhas a Miragaia.
Fonte da autarquia explicou hoje ao SAPO24 que nem vai haver o falado drive-in (ecrã gigante onde as pessoas podiam assistir ao FC Porto vs. Boavista FC dentro do carro) no Queimódromo para assistir ao dérbi da cidade, nem haverá quaisquer celebrações oficiais para além de uma iniciativa na Rádio Festival.
A 9 de junho, o presidente da câmara do Porto, Rui Moreira, admitiu que não tem poderes para proibir as pessoas de andar na rua ou se reunirem em casa, mas uniu esforços com outras instituições para dificultar a vida a quem queira festejar na rua.
“Não podemos impedir as pessoas de circular e não podemos tentar impor medidas que as pessoas não cumprem e que não podemos obrigá-las a cumprir", explicou.
Mais recentemente, num despacho de 19 de junho, Moreira decidiu que os cafés e lojas de conveniência fecham às 19 e que os restaurantes não podem ter ninguém dentro depois das 23 horas.
As salas de espetáculos, como o Coliseu, não poderão funcionar. As medidas do despacho juntam-se ao corte de trânsito automóvel e pedonal na Ponte Luís I e às restrições no transporte público.
Segundo uma nota da câmara, a Metro do Porto concordou já em terminar a operação mais cedo do que o normal na noite do dia 23, estando a CP a estudar a supressão de serviço entre as estações de Campanhã e São Bento no período noturno e a STCP a avaliar a supressão das linhas da rede de madrugada para desincentivar os movimentos pendulares.
O que não foi possível adiar, no entanto, foi o jogo que opõe as duas grandes equipas da cidade: FC Porto vs Boavista FC, marcado para as 21:15 do dia 23, contra a vontade do autarca.
Segundo um parecer da PSP, citado a 17 de junho também pela câmara, o encontro poderá ser um foco de concentração indesejado de adeptos, sugerindo-se o seu adiamento. A autarquia lembra que “os restantes jogos onde intervêm os clubes com mais adeptos, foram todos agendados para dias de semana, exatamente pelas mesmas razões, pelo que não faria sentido a realização do dérbi da cidade, logo na noite de São João”.
Ainda este fim de semana, a PSP do Porto foi chamada para dispersar um grupo de “algumas centenas” de jovens que se juntou na zona da Cordoaria, no centro da cidade, tendo a operação decorrido sem incidentes.
Segundo adiantou à agência Lusa fonte daquela polícia, o alerta terá sido dado por um morador na zona, na noite de sábado, para uma concentração de “muita gente” — sem saber precisar o número, apontou para “algumas centenas” — que conviviam e bebiam ao ar livre, ao som de música, “junto à Cordoaria e ao Campo Mártires da Pátria”.
Por se tratar de um ajuntamento não autorizado devido aos riscos de contágio da covid-19, os elementos da PSP deram indicações para que o grupo dispersasse, o que aconteceu sem incidentes.
Segundo a mesma fonte, o grupo “terá dispersado em direção a [Vila Nova de] Gaia, onde se terá concentrado noutro local, mas depois regressou” à Cordoaria, acabando por ser de novo dispersado por agentes da PSP. Todavia, acrescentou, não houve detenções, nem foram identificados os intervenientes, já que acabou por ser cumprida a ordem policial.
Em termos totais, o Norte tem agora um total de 17.249 casos confirmados de covid-19, Lisboa e Vale do Tejo 16.762, o Centro 3.991, o Algarve 521 e o Alentejo 374. Os números totais atribuídos aos concelhos com mais casos no Norte do país foram de novo este domingo alterados no Boletim da DGS, depois de no boletim de sábado terem sido revistos em baixa.
O Porto voltou a ter o mesmo número de casos que tinha na sexta-feira, com 1.414 casos, o mesmo sucedendo com Matosinhos, com 1.292, e com Braga, com 1.256.
No boletim de sábado, o Porto constava com apenas 1.363 (menos 51), Matosinhos apresentava 1.279 (-13) e Braga 1.238 casos atribuídos (-18). Gondomar, que na sexta-feira tinha 1.098 casos atribuídos e no sábado recuou para 1.081 no boletim da DGS, tem hoje um total de 1.093. Vila Nova de Gaia mantinha no domingo o mesmo número total de 1.611 casos referidos no boletim divulgado no sábado.
A Direção-Geral da Saúde realça que os números apresentados referem-se ao total de notificações médicas no sistema SINAVE (excluindo notificações laboratoriais), pelo que podem "não corresponder à totalidade dos casos por concelho".
Comentários