As declarações da ativista de 51 anos, detida na prisão de Evin, em Teerão, desde 2021, foram proferidas cinco dias após um tribunal da capital iraniana ter agravado, por mais um ano, a pena de prisão por ter apelado ao boicote eleitoral nas eleições legislativas de março.
“Não participarei nas eleições ilegais organizadas pelo Governo opressivo e ilegítimo da República Islâmica”, declarou Mohammadi num comunicado divulgado pela família.
“Como podem eles empunhar com uma mão uma espada, forca, armas e prisões contra o povo e com a outra mão uma urna de voto e falsamente chamar-lhe eleições?”, perguntou a ativista.
A vencedora do Prémio Nobel da Paz de 2023 afirmou que o objetivo das eleições é “consolidar o poder e a tirania” de um “regime que acredita na repressão, no terror e na violência para se manter no poder”.
“Estas eleições não darão legitimidade à República Islâmica”, afirmou.
Mohammadi foi condenada seis vezes desde 2021 a um total de 13 anos e três meses de prisão e 154 chicotadas, entre outras punições.
O Irão vai realizar eleições presidenciais antecipadas na sequência da morte do Presidente ultraconservador Ebrahim Raisi num acidente de helicóptero, juntamente com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Hosein Amir Abdolahian, e seis outras pessoas, a 19 de maio.
As eleições realizar-se-ão num contexto de forte descontentamento da opinião pública face à má situação económica e à repressão social, especialmente contra as mulheres, com a nova campanha para reimpor o uso do véu, o que ameaça traduzir-se numa baixa taxa de participação.
A República Islâmica do Irão sempre atribuiu grande importância à participação nas eleições como sinal da sua legitimidade e do apoio popular.
As eleições parlamentares de março registaram a taxa de participação mais baixa dos últimos 45 anos da República Islâmica, com apenas 41% do eleitorado a ir às urnas.
Seis candidatos disputam a presidência, incluindo o líder Mohamad Baqer Qalibaf, presidente do parlamento, o ultra-conservador Saeed Jalili e o reformista Masoud Pezeshkian, este último leal ao ayatollah Ali Khamenei, tal como disse à agência Lusa o marido da ativista Taghi Rahmani.
O também ativista iraniano esteve quinta-feira em Lisboa para apresentar o livro “Tortura Branca”, escrito pela mulher, e que relata as experiências de 13 outras mulheres, além da própria da autora, nas “prisões infames” no Irão, onde são, segundo conta, vítimas de “humilhações cruéis, de assédios e espancamentos, de isolamento total, sem assistência médica, com interrogatórios extenuantes e castigos severamente punitivos”.
Em declarações à Lusa, Rahmani considerou que a mulher deveria estar em liberdade e que o agravamento, de um ano, da pena de prisão “não tem fundamento”.
“É um crime. Mas a palavra é mais forte do que ‘crime’. O agravamento da pena de prisão por mais um ano, depois de já a ter aumentado em dois anos em janeiro passado, não tem em conta a lei e não tem qualquer fundamento”, afirmou Rahmani, expressando-se em farsi, com as suas palavras a serem traduzidas para português por um cidadão iraniano residente em Portugal.
A ativista foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz de 2023 “pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irão e pela promoção dos direitos humanos e da liberdade para todos”.
A entrevista completa concedida pelo marido de Narges Mohgammadi sairá na manhã de domingo na Lusa.
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