"Depois de todas as discussões (...), fiquei espantado. Este tipo de decisão revela muita coragem da parte da Academia Sueca", declarou aos jornalistas que o esperavam em frente à sua residência, em Chaville, na região de Paris, França.
Autor controverso, sobretudo devido às suas posições pró-sérvias, Peter Handke defendeu, ao longo da carreira, que se deveria "eliminar" o Nobel da Literatura, que classificava de "falsa canonização" que "não oferece nada aos leitores".
Aos jornalistas, disse hoje estar emocionado com a distinção, pensar de maneira diferente quanto ao Nobel e negou ter qualquer "posição política", tendo apenas a preocupação de obedecer à "natureza de escritor".
"Por causa dos problemas que tive há vinte anos [sobre a posição quanto à guerra nos Balcãs], nunca pensei que me escolhessem", disse Peter Handke à imprensa, confessando-se "emocionado", desde o momento em que recebeu a chamada do secretário da Academia Sueca, Anders Olsson, comunicando-lhe a atribuição do Nobel da Literatura de 2019.
Além das posições pró-sérvias, sobretudo quando as forças da NATO intervieram no Kosovo, em 1999, Handke foi de novo causa de polémica quando, em 2006, esteve presente no funeral do ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic, acusado de genocídio e de crimes contra a humanidade.
Confrontado pela imprensa, Handke negou ter qualquer "posição política": "A minha natureza é a de um escritor, não de um jornalista", disse.
Quanto às críticas ao Nobel da Literatura, Handke disse ter falado "como leitor e não como autor". "Hoje já não penso assim", acrescentou, assegurando que estaria "de certeza" em Estocolmo, para receber o prémio, em dezembro.
Peter Handke, 76 anos, soma mais de 80 títulos, numa carreira de cinco décadas, que vai de "As Vespas", em 1966, e de "A Ansiedade do Guarda-redes na altura do Penalti", em 1970, a “O Ladrão de Frutas”, o seu mais recente romance, que deverá ser publicado em Portugal no próximo ano, através da Relógio d'Água.
Romancista, dramaturgo, poeta, realizador, o escritor austríaco Peter Handke, que venceu hoje o Nobel da Literatura 2019, chegou a definir-se como um prosador para quem "não escrever é muito importante", como disse em entrevista à Lusa em 2009, numa das suas presenças em Lisboa.
Nascido em 1942, em Griffen, na Áustria, Peter Handke foi apresentado pela Academia Sueca como "um dos mais influentes escritores da Europa depois da Segunda Guerra Mundial".
"A Mulher Canhota", "Poema à Duração", "A Tarde de Um Escritor", "Para Uma Abordagem da Fadiga", "Insulto ao Público", "A Hora em que Não Sabíamos Nada Uns dos Outros", "A Viagem à Terra Sonora", "Ensaio sobre o Dia Conseguido", "Os Insensatos Estão a Extinguir-se", "Jogo das Perguntas", "Numa Noite Escura Saí da Minha Casa Silenciosa" e "Os Belos Dias de Aranjuez" são algumas obras de Handke editadas em Portugal.
Os seus livros surgiram em diversas editoras portuguesas, desde a década de 1970, como as antigas Plátano e Difel, mas também a Presença, a Assírio & Alvim, a Relógio d’Água, os Livros Cotovia ou a Sistema Solar/Documenta.
Handke é também argumentista de "Movimento em Falso" (1975) e "As Asas do Desejo" (1987), dois filmes do cineasta alemão Wim Wenders, que também dirigiu "Os Belos Dias de Aranjuez" (2016).
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