“Ainda se pode ver a tinta nas paredes”, comenta Stig Ørskov, CEO do JP/Politikens Hus, grupo criado em 2001, fruto da fusão entre o Morgenavisen Jyllands-Posten, fundado em 1871, e o Politiken. “Comecei aqui como jornalista. Quando estas máquinas começavam a trabalhar a casa tremia, sabíamos que o deadline estava próximo”, recorda.
Hoje, porém, o não há dealine. As novas tecnologias permitem aos meios de comunicação social estar 7 dias por semana, 24 horas por dia com o leitor, seja no computador, no tablet ou no telemóvel, e isso veio alterar drasticamente o panorama do setor, refere o CEO no Digital Media Europe 2017, conferência onde se discute o futuro do Jornalismo, os seus desafios e se dão a conhecer algumas das apostas dos principais grupos de meia europeus.
Apesar dos desafios que isto também representa, é nas vantagens desta disrupção que Ørskov se quer centrar, nomeadamente no aumento das subscrições online e no aparecimento de novas startups de media que estão a mudar o setor, e dá exemplos: O The New York Times conta hoje com 1,6 milhões de subscritores, o Financial Times tem 650 mil, a Vox Media, com oito marcas, regista 170 milhões de visitantes únicos por mês, o Buzzfedd chega mesmo aos 200 milhões, e o Quartz já fatura 30 milhões de dólares por ano (28 milhões de euros).
Os números são animadores e Ørskov destaca o denominador comum entre todas estas marcas: “o conteúdo é rei”, é de “grande qualidade, baseado em factos e distinto [face ao que existe no mercado]”. É uma questão de prioridades, diz, e o conteúdo deve vir em primeiro lugar, seguido da distribuição e só depois surge a monetização.
E quando o tema é fazer dinheiro com conteúdo - algo que tem dominado as discussões em torno do futuro dos media -, Dorthe Bjerregaard-Knudsen, COO do JP/Politikens Hus, salienta a necessidade de o Jornalismo mostrar que “joga numa liga diferente”.
“Focamo-nos na luta das pageviews por demasiado tempo”, lamenta a responsável de operações do JP/Politikens Hus. “Hoje sabemos que as pageviews são infinitas no mercado e pressionam os preços”, acrescenta. “Devíamos focar-nos na atenção, que é um recurso escasso, e precisamos de recursos escassos para monetizar”, conclui.
“Mas não somos os únicos a disputar a atenção do leitor”, recorda Dorthe Bjerregaard-Knudsen, fazendo referência sobretudo às redes sociais. Então, qual é a proposta de valor que um jornal oferece?
“Nós somos diferentes porque editamos o nosso conteúdo, este é aprovado por seres humanos e não máquinas, e isso permite-nos oferecer um lugar seguro para os anunciantes, algo que as redes sociais não conseguem garantir”, diz, recordando a mais recente polémica com o Facebook em que um homem filmou um assassinato e publicou na rede social. “Nenhum anunciante quer ver o seu produto associado a terrorismo”, exemplifica.
A par disso, há a questão da transparência: “Toda a gente sabe o que os nossos números revelam, uma vez que são validados por terceiros”, diz, numa referência aos números unilateralmente partilhados pelas redes sociais.
Numa conferência que junta mais de 40 oradores e cerca de 300 participantes, Dorthe Bjerregaard-Knudsen fala de uma mudança de paradigma. Passou-se de uma lógica centrada no utilizador, onde quer que ele esteja, para uma lógica em que o contexto também é importante. “É cada vez mais relevante mostrar ao anunciante que o site e o contexto também importam”, reforça.
Atualmente o JP/Politikens Hus tem um total de 2.400 funcionários - entre os quais 900 editores e jornalistas, 70 designers e 35 fotógrafos - e publica três jornais nacionais, sendo eles o tabloide Ekstra Bladet - que vai renovar a sua marca -, o Morgenavisen Jyllands-Posten e o Politiken.
A conferência Digital Media Europe 2017 tem lugar de 24 a 26 de abril em Copenhaga, na Dinamarca.
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