Em declarações à agência Lusa Pinto-Ribeiro disse que Ludwig van Beethoven (1770-1827), de quem este mês se assinalam os 250 anos do nascimento, “inovou” com esta formação instrumental – piano, clarinete e violoncelo.
Filipe Pinto-Ribeiro, que lidera o DSCH – Schostakovich Ensemble desde a sua fundação, em 2006, realçou que a introdução do clarinete na formação de trio “foi inovador” na época, assim como ter o compositor dado maior protagonismo do que era habitual ao violoncelo.
O DSCH – Schostakovich Ensemble, agrupamento de geometria variável, é nesta gravação constituído pelo clarinetista Pascal Maraguès, 1.º clarinetista da Orquestra de Paris, Adrian Brendel, que aqui se estreia com o célebre violoncelo “Montagnana”, que pertenceu a Lynn Harrell, falecido em abril último, além do pianista.
Filipe Pinto-Ribeiro sublinhou “a grande cumplicidade” entre os músicos para o resultado final do trabalho, que se refere ao “período criativo” em que Ludwig van Beethoven tinha cerca de trinta anos (1798-1803), e já vivia em Viena, a capital da música na época, onde se impôs num “meio musical muito competitivo”.
“A estratégia de Beethoven foi apresentar-se em Viena com os Trios com piano, que escolheu como seu Opus 1, diferenciando-se logo à partida dos dois grandes compositores que o antecederam, Haydn e Mozart, que eram mais famosos pelas suas sinfonias e quartetos de cordas. Com os Trios, Beethoven colocou em evidência o seu instrumento, o piano, que, à época, teve muitos avanços técnicos na sua construção e que foram potenciados até ao limite pelo compositor que era também um extraordinário pianista”, disse Pinto-Ribeiro.
Os trios gravados – Opus 11 e 38 -, correspondem a uma “fase muito feliz de Beethoven”, apesar de começar a sentir os primeiros sinais de surdez.
“Beethoven gozava na altura de um amplo reconhecimento e admiração e expressa [nestes trios] muita fantasia, pujança e otimismo. São obras também de forte apelo popular, por exemplo na forma como Beethoven vai buscar inspiração e utiliza uma melodia, de uma ópera de Joseph Weigl, que na altura se tornou famosa ao ponto de ser assobiada nas ruas de Viena”, disse Pinto-Ribeiro, referindo ser um “período em que Beethoven, apesar da sua juventude, demonstra já uma grande maturidade”.
Em Viena o compositor e músico virtuoso teceu um conjunto de relações com a nobreza e o poder económico, das quais realça a amizade com o arquiduque Rudolfo, herdeiro da coroa imperial dos Habsburgos, de forma a conseguir sobreviver, “sem nunca ter deixado de ser um músico de total liberdade e dos ideais da Revolução Francesa [de 1789]”.
“Essas relações, conquistadas a pulso e pelo seu talento, dão-lhe as necessárias condições para compor”, referiu à Lusa Pinto-Ribeiro.
O DSCH – Schostakovich Ensemble tem tocado em todo o país e em várias salas no estrangeiro. Este CD, dedicado a Beethoven, por ocasião dos 250 anos do seu nascimento, em Bona, na Alemanha, foi gravado em Paris, na sala Seine Musicale, e sucede ao álbum saído em 2018 com a primeira gravação mundial da Integral da Música de Câmara para Piano e Cordas de Dmitri Schostakovich, no qual participaram também Pinto-Ribeiro e Adrian Brendel, que discográfica francesa Paraty editou, à semelhança deste novo álbum.
Filipe Pinto-Ribeiro estudou no Conservatório Tchaikovsky, em Moscovo, onde foi discípulo de Lyudmila Roshchina, e se doutorou com a mais elevada classificação, em 2000. Tem desenvolvido regular atividade solística e camerística, abrangendo um vasto repertório que se estende do Barroco até aos nossos dias.
Em Portugal, fez a estreia de várias obras, entre as quais os 24 Prelúdios e Fugas, de Schostakovich, o Concerto para Piano e Orquestra, de Dvorák, a versão para piano das “Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz”, de Haydn, o Concerto para piano e orquestra “Introitus”, de Sofia Gubaidulina, assom como “As Quatro Últimas Estações de Lisboa”, de Eurico Carrapatoso, e “Alepo”, de Luís Tinoco, obras que lhe foram dedicadas pelos próprios compositores.
Sobre Pascal Moraguès, Pinto-Ribeiro disse ser “um dos principais clarinetistas da atualidade”, que tem feito uma “brilhante carreira” como solista, atuando em várias salas como o Kennedy Center, em Washington, a Konzerthaus, em Viena, e o Wigmore Hall, em Londres, entre outras.
O músico francês trabalhou com músicos, compositores e regentes como Pierre Boulez, Daniel Barenboin, Yuri Bashmet e Zubin Mehta. Além do DSCH – Schostakovich Ensemble, é também membro do Quinteto Moraguès, do Victoria Mullova Ensemble e do Katia e Marielle Labèque Ensemble.
Moraguès leciona no Conservatório Nacional Superior de Música, em Paris, na Escola Superior de Música de Lausanne, na Suíça, e na Escola Superior de Música Rainha Sofia, em Madrid. Em 2007, foi feito cavaleiro da Ordem das Artes e Letras, pelo Governo de França.
Adrian Brendel é um “virtuoso” do violoncelo e um dos “mais polivalentes e originais” violoncelistas da atualidade. Brendel tem trabalhado com músicos como Imogen Cooper, Kit Armstrong, Alasdair Beatson e maestros como Györy Kurtág, Thomas Adès e Peter Eötvös.
Brendel é professor em Londres, na Real Academia de Música e na Escola de Música e Teatro Guidhall, e a sua discografia inclui um álbum monográfico de Beethoven em duo com o lendário pianista Alfred Brendel, seu pai, com uma interpretação considerada de referência da integral das Sonatas para Violoncelo e Piano de Beethoven.
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