
António e Fradique Mendes Ferreira, que nasceram em 1992 e 1987 em São João dos Angolares, no sul São Tomé e Príncipe, onde cresceram, acumulam milhões de visualizações e audições nas plataformas 'online' e têm mais de um milhão de seguidores nas redes sociais.
Em miúdos só pensavam “jogar à bola, ir à pesca, brincar”, sem nunca imaginarem que aos 33 e aos 38 anos iriam subir a um palco no Estádio da Luz para atuarem para milhares de pessoas.
Mesmo mais tarde, quando iniciaram a carreira, há 15 anos, tal feito não lhes passaria pela cabeça, partilharam com a Lusa, na sexta-feira, no Estádio da Luz, à margem dos ensaios do espetáculo.
“Não imaginávamos que a música ia colocar-nos aqui hoje, aqui no Estádio da Luz. E para nós é uma bênção. Na nossa caminhada fomos encontrando pessoas, os nossos fãs, que fizeram com que estejamos aqui hoje, e estão connosco, a nossa família, toda a Lusofonia. É algo mágico, um momento histórico”, afirmou António Mendes Ferreira.
Os Calema são os primeiros artistas lusófonos a atuarem em nome próprio na Luz e isso mais do que o peso da responsabilidade fá-los “sentir orgulho”.
“Porque foi algo que construímos de uma forma tão sincera e bonita com o público estes anos todos que não é uma pressão, porque nós mostramos ao público a parte mais clara de nós. Então eles já sabem que vamos fazer o melhor, para que eles possam ter a melhor experiência possível. E esta conquista, esta taça, este troféu, vai diretamente para cada uma das pessoas que estão aqui, que estão em casa, que não conseguirão ir, pessoas que fizeram parte desse percurso até aqui”, afirmou Fradique.
O concerto de hoje será também, de certa forma, uma maneira de homenagear todos os que antes deles “tentaram e não conseguiram”.
“Fazer o Estádio da Luz não é só um objetivo nosso, mas também de muitos que tentaram e que não conseguiram fazê-lo. Este será um concerto histórico não só para nós mas também para a toda a Lusofonia”, afirmou António.
Hoje, em palco, além dos dois irmãos, da banda que os acompanha e de um corpo de bailarinos, estarão também vários cantores convidados, como os portugueses Mariza, Sara Correia, Dino D’Santiago, João Pedro Pais, o francês TAYC, o angolano Anselmo Ralph, o brasileiro Dilsinho e o santomense Bill.
Antes de se radicarem em Portugal, António e Fradique Mendes Ferreira passaram alguns anos em França, país com o qual ainda mantêm ligação, tendo no início deste ano realizado por lá vários concertos, em localidades como Paris, Bordéus, Lyon e Estrasburgo.
A celebrarem 15 anos de carreira, contam com seis trabalhos de estúdio editados: “Ni Mondja Anguené” (editado em 2010), “Bomu Kêlê” (2014), “A nossa vez” (2017), “Yellow” (2020), “Voyage – Part II” (2024) e “Voyage – Part III”.
Em 2019 editaram o álbum “Ao vivo no Campo Pequeno”.
Há dois anos gravaram com os cantores Nuno Ribeiro e Mariza o ‘single’ “Maria Joana”, que atingiu milhões de visualizações nas plataformas de ‘streaming’ e venceu o PLAY – Prémio da Música Portuguesa de Canção do Ano, a única categoria cujo vencedor é escolhido pelo público.
Além disso, receberam o PLAY de Melhor Grupo em três anos consecutivos: 2023, 2024 e 2025.
Em 2021 fundaram a Associação Bomu Kêlê (significa "Acreditar"), que tem como missão a promoção da educação como instrumento de capacitação de crianças e jovens para um futuro digno e mais promissor.
Em maio deste ano assinaram um protocolo com a autarquia do Seixal, onde vivem atualmente, para desenvolverem o projeto Aldeia da Música, um espaço de apoio e mentoria de artistas e bandas emergentes do concelho.
À Lusa, Fradique falou no bom que é “poder, através da câmara do Seixal, ajudar o concelho, e ao mesmo tempo ajudar santomenses, muita malta da Lusofonia, que precisa de direcionamento na área da música e não só”.
Através deste projeto, referiu António, os dois irmãos poderão passar um pouco do que aprenderam ao longo da carreira, “a experiência na estrada”, a jovens “que têm um sonho, que querem fazer alguma coisa na vida”.
“Achamos que é muito importante eles terem esse tipo de mentoria no início, que muda todo o percurso deles”, disse.
O espaço Aldeia da Música, em fase de obras, irá contar com dois pisos, estúdio de gravação, camarins, salas de escrita/criação, salas de produção, bar/lounge, secretaria, entre outros espaços, bem como um outro onde ficará a sede da Associação Bomu Kêlê.
Os Calema irão equipar o estúdio de gravação, que será colocado ao serviço das jovens bandas do concelho, sendo mentores para potenciar a sua capacidade para singrar no panorama nacional.
Hoje as portas do Estádio da Luz abrem às 17h00 e haverá constrangimentos de trânsito rodoviário em várias artérias que circundam o equipamento, assim como condicionamentos ao estacionamento.
*Por Joana Ramos Simões (texto) e Manuel de Almeida (foto), da agência Lusa
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