“O PS brincou durante anos com o Novo Banco, o PS está hoje a brincar com o parlamento, está hoje a brincar com esta comissão de inquérito”, acusou o deputado social-democrata Duarte Pacheco, em declarações aos jornalistas nos Passos Perdidos no parlamento.
Em causa está o facto de o PS ter requerido hoje os depoimentos por escrito do ex-Presidente Cavaco Silva, dos antigos primeiros-ministros Durão Barroso e Passos Coelho e a audição presencial do ex-comissário europeu e atual candidato à Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, na comissão de inquérito do Novo Banco.
“Querer ouvir ex-Presidentes da República, ex-primeiros ministros sobre aquilo que os administradores propostos pelo doutor Ricardo Salgado vêm dizer, quando essas mesmas pessoas disseram isso na primeira comissão de inquérito e, na altura, eles não sentiram essa necessidade, eu pergunto se não é brincar com a realidade de forma inaceitável e execrável”, apontou.
Duarte Pacheco lembrou que “na anterior comissão de inquérito” à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo, que terminou em 2015, “houve um trabalho sério que prestigiou o parlamento e prestigiou os deputados que a integravam”.
“E nesse relatório, que foi aprovado só com o voto contra do PCP – recordo, só com o voto contra do PCP – está claro que o Governo da altura [PSD/CDS] nunca foi confrontado com uma proposta concreta de recapitalização do BES, fosse essa recapitalização pública ou privada”, argumentou.
O deputado continuou, dizendo que “hoje os tempos são outros e a atual comissão de inquérito parlamentar está a investigar aquilo que o Governo do PS fez: o seu comportamento, a alienação do banco, o modo como acompanhou a gestão e automaticamente o comportamento do PS alterou-se, passou de responsabilidade a irresponsabilidade”.
“E esse comportamento irresponsável do PS ficou bem evidente no requerimento que agora apresentou”, apontou o deputado.
Duarte Pacheco vincou que “sem dados novos, com base num depoimento que já tinha acontecido na primeira comissão de inquérito de administradores, propostos pelo doutor Ricardo Salgado”, o PS “vem abraçar a narrativa do doutor Salgado sobre a viabilidade do BES”.
Para o deputado, este facto é “incompreensível” e “esta aliança entre o PS e a narrativa do dr. Ricardo Salgado é inaceitável, é inesperada, é execrável”.
Duarte Pacheco fez ainda um apelo ao “bom senso” para que “o parlamento não saia mais desprestigiado por comportamentos de brincadeira que o PS infelizmente quer pôr em cima da mesa para iludir e esconder as suas responsabilidades”.
O anúncio dos pedidos do PS foi feito hoje no parlamento pelo coordenador do PS nesta comissão de inquérito, João Paulo Correia, um dia depois da audição de José Honório, ex-administrador do BES e Novo Banco, que segundo o socialista revelou que o antigo presidente do BES Ricardo Salgado entregou, em 2014, um memorando a cada uma das autoridades políticas em que dava conta do “buraco gigante em que estava enfiado o GES”.
Numa publicação na rede social Twitter, o presidente do PSD, Rui Rio, relacionou hoje o pedido feito pelo PS para ouvir Carlos Moedas no inquérito sobre Novo Banco com as próximas eleições autárquicas, ironizando que podem chamar também ao processo os candidatos do PSD ao Porto e Gaia.
Carlos Moedas, que era neste período secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, será o candidato da coligação PSD/CDS-PP à Câmara de Lisboa nas próximas eleições autárquicas.
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