D. Nuno Almeida toma posse no domingo e, na véspera da cerimónia, que terá lugar na catedral de Bragança, falou com os jornalistas sobre várias temas da Igreja e do desafio de aos 61 anos assumir a quarta diocese do país mais vasta em termos de território, com os menos de 123 mil habitantes dispersos por 600 localidades de 321 paróquias.
Depois de ser bispo auxiliar de Braga, D. Nuno Almeida chega à diocese de Bragança-Miranda com “nenhum programa, mas alguns sonhos” para um caminho que quer “partilhar com as realidades vivas e em diálogo com a sociedade”.
”Gostaria, juntamente com os diversos órgãos da diocese podermos encontrar um programa, um plano, que chegará a seu tempo, que eu não trago na manga, neste momento”, afirmou.
A diocese de Bragança-Miranda está há quase um ano e meio sem bispo, gerida por um administrador diocesano, Adelino Paes, depois de o anterior prelado, José Cordeiro, ter sido nomeado para arcebispo de Braga.
D. Nuno Almeida sucede àquele que foi o bispo mais jovem de Portugal e que comparou “a uma espécie de celeiro com muito grão, que também já foi lançado à terra”.
“O percurso que fez é uma espécie de exemplo para outras dioceses”, afirmou, acrescentando que o propósito que tem é “dar continuidade” a esse trabalho.
O novo bispo propõe-se fazer “um percurso de diálogo, olhando os problemas, vendo as necessidades, interpretando, refletindo sobre os problemas e as questões que existem, e depois tomando decisões juntos”.
Realçou a importância da presença física numa diocese com apenas 72 padres, nem todos em funções, e 13 diáconos, mas com uma média de idades ainda jovem.
Nas vésperas da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) referiu que todas as edições anteriores “foram um momento de provocação vocacional” e julga que “vai acontecer também” com o evento em Lisboa.
Localmente, defende que “as paróquias devem abrir as portas e até as janelas para que os jovens se possam sentir em casa”.
Considerou os tempos atuais de “incerteza” a nível global e que “há motivos de interrogação, de perplexidade”.
“Por vezes há dificuldade para encontrar rumo para os problemas da vida pessoal, familiar, encontrar o sentido para a vida de cada dia, de valores, que seja uma espécie de GPS e de bússola para a vida das pessoas”, apontou.
Diz-se preocupado por constatar que “muita gente vive numa espécie de 'debaixo de um guarda-chuva', sem uma abertura espiritual, não confundindo a dimensão espiritual do ser humano com a vida religiosa, de projetar, de olhar mais longe, que leva também a vertebrar a vida por valores que nos humanizam”.
Em relação “à questão dolorosa, extremamente mesmo desagradável, difícil" dos "abusos da Igreja e da sociedade”, não quis “aprofundar muito”, mas “sem fugir à questão, com muita simplicidade”, disse “não pode haver na Igreja vítimas de abusos”.
“Não pode haver abusadores e também não pode haver o silenciar quando infelizmente e dolorosamente sabemos que podem acontecer”, acrescentou, considerando “as coisas claras”, depois do “caminho que a Igreja fez” e que “é hora de agir”.
“Houve de facto um momento que não correu nada bem, mas julgo que a igreja tem feito um bom caminho”, insistiu, lembrando que se viu “metido numa tempestade” por um artigo que escreveu no jornal diocesano de Braga, o Diário do Minho, sobre o assunto, mas entende que está esclarecido.
Como bispo prometeu estar atento e incentivou “quem ainda não sentiu força para poder abrir o coração e comunicar, que não tenha receio porque neste momento a Igreja oferece várias possibilidades para quem tiver que partilhar alguma situação dolorosa de abuso, o possa fazer e receber a ajuda que possa ser necessária”.
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