"O número de apelos tem registado um aumento significativo, de ano para ano, havendo ainda muito a fazer para quebrar o muro de silêncio e passividade perante os maus tratos à pessoa idosa", destaca um comunicado da Fundação Bissaya Barreto.
Até ao momento, a instituição recebeu 416 apelos, 97 dos quais nos cinco primeiros meses deste ano, mais do dobro do que em igual período de 2016.
"Os maus tratos são perpetrados, maioritariamente, no contexto das relações familiares, seguido da comunidade próxima. Nas situações que chegaram ao Serviço SOS Pessoa Idosa, metade dos agressores são filhos das vítimas", refere a nota.
A maioria das vítimas são mulheres, viúvas, com uma média de idade de 79 anos, e mais de um terço vivem sozinhas, sendo menor a percentagem das que vivem com o cônjuge ou com filhos.
O Serviço SOS Pessoa Idosa recebe os apelos, sinaliza os casos junto das entidades competentes e faz um acompanhamento ativo do desenrolar do processo até à resolução, numa ação de coordenação e de articulação entre todos os serviços e organismos locais.
"O balanço destes três anos é muito positivo no contributo que demos às pessoas que nos procuram, porque os testemunhos que recebemos, não só dão conta da influência positiva na resolução das situações, como nos transmitem agrado pela forma como validamos e respeitamos os apelos que nos chegam", afirma Fátima Mota, responsável pelo serviço e assessora da Área Social da Fundação Bissaya Barreto, citada no comunicado.
Segundo Fátima Mota, o aumento de denúncias deve-se, por um lado, "ao esforço de divulgação a nível nacional feito pela fundação, mas também à atenção dada pela comunicação social às ações que têm vindo a ser desenvolvidas (como é exemplo o Congresso sobre o Envelhecimento, em outubro passado)".
"Ao lerem notícias sobre o problema da violência contra idosos, as pessoas, em geral, ficam com uma maior consciência de que ele existe, e que é comum a muitas pessoas e que se trata de um crime", lê-se na nota.
O trabalho do serviço está, no entanto, ainda no início, reconhece a responsável, que aponta duas grandes dificuldades: por um lado, "os estereótipos sobre o idoso (incompetente, decrépito, cinzento, pouco produtivo, lento, dependente, de quem até temos pena), o paternalismo e a infantilização do idoso a quem se retira a palavra e a possibilidade de se autodeterminar" e, por outro, "a falta de proteção legal das vítimas e uma lei desajustada que não protege o idoso e, muitas vezes, não respeita a sua vontade".
"Da experiência adquirida destes três anos, verifica-se a necessidade de uma maior sensibilização dos atores sociais, que podem fazer a diferença numa situação de violência sobre idosos", refere Fátima Mota.
No âmbito do protocolo de cooperação assinado com a Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra em setembro de 2015, o Serviço SOS Pessoa Idosa vai realizar, este ano, ações de formação e de sensibilização junto da GNR e PSP, que são o primeiro recurso das vítimas na maioria dos casos.
As ações vão decorrer em todas as comarcas sob a égide da Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra, começando por Viseu.
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