Um novo sismo, de magnitude 6,3, atingiu hoje de madrugada a província de Hérat, onde milhares de pessoas dormiam ao relento pela quarta noite consecutiva, depois de as suas casas terem sido reduzidas a pó pelo sismo de sábado – de magnitude equivalente – e respetivas réplicas.

“É horrível, toda a cidade de Hérat está aterrorizada. Estamos tão assustados que, mesmo quando vemos uma árvore a mover-se [por causa do vento], pensamos que é outro terramoto”, disse Abdul Qudos, de 32 anos, à agência noticiosa France-Presse (AFP).

As autoridades locais e nacionais deram números por vezes contraditórios sobre o número de mortos no primeiro terramoto, antes de o fixarem terça-feira em 2.053.

Mas, já hoje, o ministro da Saúde afegão, Qalandar Ebad, corrigiu os números, atribuindo a confusão ao isolamento das zonas mais afetadas e à dupla contagem por parte dos diferentes serviços envolvidos no esforço de socorro.

“Quando aldeias inteiras são destruídas e populações dizimadas (…) é um processo muito difícil verificar o número de pessoas afetadas, mortas e feridas”, afirmou nãos jornalistas em Cabul.

Atualmente, acrescentou, o total é de “mais de 1.000 mortos confirmados”, havendo ainda 2.400 feridos.

O novo sismo de hoje, cujo epicentro foi detetado cerca de 30 quilómetros a norte de Hérat, a capital da província com o mesmo nome, provocou pelo menos um morto e 130 feridos, anunciou ainda Qalandar Ebad.

“[As pessoas] estão a viver fora das suas casas, que já estão destruídas, mas foram atingidas pelos destroços que caíram das ruínas instáveis”, disse à AFP Abdul Zahir Noorzai, funcionário do hospital regional de Hérat.

O terramoto foi seguido de duas réplicas de magnitude 5,0 e 4,1, na região da cidade milenar de Hérat, onde vivem mais de 500.000 pessoas.

Desde sábado, muitos dos habitantes da cidade estão a passar a noite nos jardins ou nos carros. Nas zonas rurais mais afetadas, as pessoas dormem em tendas ou no chão.

“Os nossos filhos estão tão assustados que ficam acordados até de manhã. Não dormem”, disse Aziz Ahmad, 40 anos.

No hospital regional de Hérat, os pacientes estão a ser tratados num pátio exterior. Várias ambulâncias chegaram hoje de manhã, mas a maioria das vítimas sofreu ferimentos ligeiros.

Voluntários com pás e picaretas trabalham incansavelmente para encontrar sobreviventes após o terramoto de sábado, que destruiu completamente pelo menos seis aldeias no distrito rural de Zenda Jan e afetou mais de 12.000 pessoas, segundo a ONU.

Fornecer abrigos em grandes quantidades com a aproximação do inverno será um desafio para as autoridades talibãs, que tomaram o poder em agosto de 2021 e têm relações tensas com as organizações de ajuda internacional.

“Não resta uma única casa, nem sequer um quarto onde possamos passar a noite”, lamentou Mohammad Naeem, 40 anos, que perdeu 12 membros da sua família, incluindo a mãe, no sábado.

A maior parte das casas nas zonas rurais do Afeganistão são feitas de barro e construídas em torno de postes de madeira, com muito pouco reforço de aço ou betão.

Várias gerações de uma mesma família vivem normalmente debaixo do mesmo teto, permitindo que os terramotos mais fortes devastem comunidades inteiras.

O Afeganistão já está a sofrer uma grave crise humanitária, com a retirada generalizada da ajuda estrangeira desde o regresso dos talibãs ao poder.

O país é frequentemente atingido por sismos, em especial na cordilheira de Hindu Kush, perto do ponto de encontro das placas tectónicas euro-asiática e indiana.

Em junho de 2022, um terramoto de magnitude 5,9 matou mais de mil pessoas e deixou dezenas de milhares de desalojados na província empobrecida de Paktika, no sudeste do país.