“É a nossa salvação. É a única maneira. Só temos água do Alqueva, não dá para regar de outra maneira aqui, não temos nem furos, nem charcas, só Alqueva”, diz à Lusa o agricultor Miguel Gomes, de 41 anos, numa parcela de 25 hectares de olival perto de Beja.
Esta é uma das parcelas de olival da empresa criada por Miguel e os seus irmãos Luís, João e António Gomes, graças à água do Alqueva.
Os irmãos tinham uma exploração agrícola familiar, que “foi vendida”, mas “nunca” quiseram “deixar o campo”, conta.
Entretanto, começaram a trabalhar “em grandes grupos de investimento espanhóis” e perceberam “a mais-valia” que é a água do Alqueva e que a cultura do olival é “certa”.
Por isso, juntaram-se para criar um negócio e investir em olival, diz Miguel, lembrando que o investimento começou em 2016, quando arrendaram e plantaram a parcela de 25 hectares.
O negócio foi crescendo e os irmãos Gomes já têm três parcelas de olival de regadio em sebe a produzir, duas no concelho de Beja e uma no de Serpa, num total de 86,5 hectares.
“São tempos complicados e sem o Alqueva não havia hipótese para fazer este investimento”Miguel Gomes
E vão plantar este ano mais 60 hectares no concelho de Beja, “aproveitando todas as condições com a facilidade da água do Alqueva”, que “dá uma garantia”, sobretudo nos atuais tempos de seca.
“São tempos complicados e sem o Alqueva não havia hipótese para fazer este investimento”, frisa, referindo que na recente campanha olivícola produziram uma média de 3.400 quilos de azeite por hectare.
“Tivemos uma produção muito alta. Se fosse sequeiro, se calhar, nem metade tínhamos”, vinca, explicando que a azeitona produzida é transformada em azeite virgem extra no lagar da Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches, à qual vendem a produção.
A “ideia” dos Gomes é “continuar” a investir, “com calma”, para aumentarem a área de olival, refere Miguel, que se dedica “a 100%” à empresa, enquanto os irmãos mantêm os empregos.
No vizinho concelho de Cuba, nas terras de António Vieira Lima, de 46 anos, só há vestígios da plantação de milho do ano passado, mas os pivots de rega não enganam. O Alqueva mudou o negócio do agricultor, que passou a produzir sobretudo duas culturas de regadio.
A “maior mudança” foi, “sem dúvida nenhuma”, a garantia de produtividade, diz à Lusa António, junto a um dos pivots da herdade onde planta 370 hectares de milho.
“No passado, tínhamos sempre a insegurança [sobre] se chove, não chove, temos água, não temos água, e, hoje em dia, a certeza da água abre-nos a porta a podermos fazer investimento quase com a certeza de que iremos ter o retorno”, frisa.
Antes do Alqueva, António fazia um regadio deficitário e baseado em culturas de sequeiro, às quais, “em alturas chave”, dava um “aporte” de água, captada através de furos, para “aumentar o rendimento”.
Em 2008, já com água do Alqueva, António começou a produzir milho, cultura que “dá um rendimento muito superior” e é a que “melhor se adapta” aos solos da herdade. Um ano depois, plantou 15 hectares de vinha numa parcela de terreno fora da herdade.
Em 2021, António produziu 6.000 toneladas de milho, que exportou para Espanha, e 250 toneladas de uva para vinho, que vendeu à Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito, da qual é sócio.
“Nunca” poderia ter ido “tão longe no investimento” e seria “completamente impossível” produzir milho e vinha se não tivesse acesso à água do Alqueva, porque não teria certezas de retorno, vinca.
Com a “garantia” do Alqueva, “o investimento é muito calculado, mas com um nível de risco muito inferior”, nota António, rematando: “A água é um custo, mas a falta dela é um custo muito maior”.
Após 20 anos a encher, o Alqueva, que já implicou um investimento de 2.427 milhões de euros, produz energia, reforça o abastecimento público de água a 200.000 habitantes, rega 130.000 hectares e está a expandir-se para beneficiar mais 20.000.
Mais defeitos que virtudes
Quando se completam 20 anos sobre o início do enchimento daquele que é o maior lago artificial da Europa ocidental a Lusa falou com os que na altura começaram por ser contra a construção de um projeto tão grande e que depois tentaram que ele fosse mais pequeno. Nada conseguiram.
Das organizações que integravam o movimento ambientalista destacavam-se o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), Liga para a Proteção da Natureza (LPN), Quercus e o Centro de Estudos da Avifauna Ibérica (CEAI).
"O território passou a ser um espaço de produção, como uma fábrica”José Paulo Martins
De fevereiro de 2002 a fevereiro de 2022, os ambientalistas ouvidos pela Lusa pouco mudaram no que ao essencial diz respeito. “Tínhamos e continuamos a ter receios, no regadio por exemplo”, afirma à Lusa José Paulo Martins, à época dirigente da Quercus e hoje na organização ambientalista Zero.
E acrescenta: “A pressão é imensa para o regadio. O agronegócio instalou-se, o pequeno agricultor morreu. Agora há grandes grupos, fundos financeiros. O território passou a ser um espaço de produção, como uma fábrica”. Para produzir, frisa, não o que país precisa mas o que for mais rentável, seja o olival, seja o amendoal.
José Paulo Martins admite que há água para a rega, mesmo com seca, mas avisa que está a aumentar a superfície, o que pode não ser bom.
Joaquim Pedro Ferreira, biólogo, que há 20 anos representava o CEAI, critica também a agricultura. Diz que a qualidade da água e o regadio são questões dramáticas e afirma-se chocado com o que chama passividade do poder local em relação à proliferação da agricultura intensiva.
“A maior parte das populações da zona circundante do Alqueva não beneficiou do projeto”João Joanaz de Melo
Alqueva, diz, não levou ao Alentejo nem habitantes nem emprego, e a população local tem à sua volta um olival intensivo carregado de fitofármacos e degradação de solos, que prejudicam a saúde.
O ambientalista cita o INE para falar da perda de população. E José Paulo Martins também diz que Alqueva nem conseguiu fixar pessoas e inverter a tendência de desertificação.
Segundo os dados oficiais têm razão. Beja tinha em 2011 quase 36 mil pessoas (valor semelhante ao de 2001) e em 2021 tinha 33.401. Évora tinha 56.596 pessoas em 2011 (também semelhante ao valor de 2001) e em 2021 a população desceu para 53.591 pessoas. Perdeu essencialmente adultos até aos 64 anos.
Essa “fuga” das pessoas refere-a também João Joanaz de Melo, que se envolveu na luta por um outro Alqueva como líder do GEOTA. É que, diz à Lusa, “a maior parte das populações da zona circundante do Alqueva não beneficiou do projeto”.
Porque os projetos do Alqueva são “para enriquecer quem faz as obras e eventualmente algumas empresas”, já que se baseiam num modelo que depende da vontade de terceiros. E aumentar o regadio, avisa, tem de ser feito com muito mais cuidado do que tem sido até agora.
Alias, acrescenta Joanaz de Melo, não faz sentido destruir ecossistemas para ter sistemas agrícolas que não são rentáveis nem competitivos a nível europeu, desde logo pelo preço elevado da água. “Uma coisa é regadio complementar, como uma peça de empreendimento agrícola, para hortícolas ou frescos, o resto não faz sentido porque não há nem agua nem competitividade”.
Face às alterações climáticas, Joaquim Pedro Ferreira contrapõe com outros avisos e com o que lhe faz mais sentido. Em Alqueva investe-se num sistema que é ao contrário do que devia ser, sentencia.
“O sistema agrossilvopastoril foi substituído por um sistema feito para a agroindústria das grandes multinacionais” e neste momento “não há regras”, diz à Lusa, afirmando-se preocupado com a perda de biodiversidade, e concluindo: “O cenário que vejo é muito mau”.
Alqueva, segundo Joaquim Pedro Ferreira, não ganhou em paisagem (quem diz ao contrário “é porque não conheceu a paisagem anterior”), optou por um modelo agrícola que “não vai trazer nada de bom à região”, e há com tudo isso “uma despreocupação com as pessoas”.
E há ainda outro problema, invisível, alertam os ambientalistas: a qualidade da água.
Eugénio Sequeira, dirigente da LPN, diz que ao receber efluentes o rio Guadiana recebe sal. “Cada habitante (de cidades junto do rio) é responsável por 50 gramas de sal por ano no rio e isso leva depois à salinização dos solos”.
O dirigente não tem dúvidas de que se “estão a fazer asneiras” no Alqueva, de que “a longo prazo vai haver problemas”, e de que o aumento do regadio vai aumentar a degradação dos solos. E pergunta quem é que está a estudar a quantidade de sal que todos os dias é lançado no Guadiana através dos esgotos.
“Há sempre espécies que se aproveitam mas o resultado líquido de Alqueva em termos puramente ecológicos foi uma degradação. A biodiversidade perdeu, isso é inequívoco”João Joanaz de Melo
Deixa ainda à Lusa mais uma certeza: o Alqueva a longo prazo vai ser um elefante branco, e vai mesmo inquinar as águas subterrâneas e a falta de estudos sobre estas matérias “é de uma irresponsabilidade enorme”. Joaquim Pedro Ferreira e José Paulo Martins também dizem que a água tem demasiados nutrientes. O antigo dirigente da Quercus conta que em Espanha já houve problemas com o jacinto-de-água, uma planta aquática invasora, e acrescenta que nem o turismo salva o Alqueva, uma região com “cenários espetaculares” no vale do Guadiana antes do enchimento.
Alqueva proporcionou um espelho de água, como outros, mas o habitat de uma barragem não é o mesmo de um lago, não fixa vegetação, não tem uma orla de vida, diz.
É certo, acrescenta, que algumas espécies se fixaram, alguns corvos-marinhos, algumas outras aves, mas “a barragem é um aquário de peixes exóticos”, e não é um habitat muito rico.
Joaquim Pedro Ferreira também desvaloriza as aves oportunistas que aproveitaram a barragem, nada comparado com o desaparecimento de espécies em risco de extinção, do fim de espécies de peixes importantes, como o saramugo.
“Há sempre espécies que se aproveitam mas o resultado líquido de Alqueva em termos puramente ecológicos foi uma degradação. A biodiversidade perdeu, isso é inequívoco”, resume João Joanaz de Melo.
E resume mais, diz que a lógica de Alqueva foi e continua a ser megalómana, que lhe faltou discernimento, que é um mito dizer-se que vai desenvolver o Alentejo.
Todas as contas feitas, diz o ambientalista e professor, dão à barragem algumas virtudes e muitos impactos.
Alqueva, 20 anos depois, não é nas palavras de Joanaz de Melo nem “os amanhãs que cantam nem a desgraça absoluta”.
Ambientalistas recordam as lutas perdidas
A barragem de Alqueva, no Alentejo, também foi feita de lutas pelo ambiente, mas, há 20 anos, as associações envolvidas perderam as principais, como recordaram à Lusa alguns dos ambientalistas nelas envolvidos.
Um dos maiores investimentos do Estado português, a barragem, o maior lago artificial da Europa ocidental, começou a ser cheia a 08 de fevereiro de 2002, numa cerimónia presidida pelo então primeiro-ministro, António Guterres. Os ambientalistas também lá estiveram, e levaram até um avião, com uma tarja e a frase “Ninguém nos demove, cota 139”.
Nos 20 anos do início do enchimento da barragem a Lusa falou com alguns dos principais protagonistas na altura da área do ambiente, que lembraram as lutas e as críticas, incluindo a campanha que fizeram por um enchimento faseado, assente no chamado “Movimento Cota 139 pelo Alentejo Sustentável”.
O movimento integrava, entre outros, o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), Liga para a Proteção da Natureza (LPN), Quercus e o Centro de Estudos da Avifauna Ibérica (CEAI). Não conseguiu os objetivos que se propunha, mas colocou as questões ambientais na rota de Alqueva.
“Conseguimos chatear” o primeiro-ministro, recorda à Lusa José Paulo Martins, hoje da organização ambientalista Zero mas que na altura era um dirigente da associação Quercus.
O movimento surgiu quando a barragem estava ainda em construção e os ambientalistas perceberam que a não conseguiam travar, optando por “minimizar impactos” e defendendo que nos primeiros anos se optasse por encher a barragem apenas até à cota 139 e não, como acabou por acontecer, à cota 152.
“As nossas propostas não eram tidas em conta e deixámos de acompanhar o processo de Alqueva”José Paulo Martins
José Paulo Martins recua aos anos de 1990, as primeiras reuniões sobre a barragem, o início da construção em 1995, o “estudo de impacto ambiental feito à pressa”, sem ter em conta os impactos na zona de rega, no transvase, no estuário do Guadiana. “Em 1995 estava tudo aprovado, foi tudo muito rápido”.
“Contestámos o processo, a questão da dimensão da barragem era fundamental”, diz José Paulo Martins, acrescentando que o movimento pela cota 139 começou bem antes do fecho da barragem, e, se não impediu o enchimento total, pelo menos obrigou a novos estudos, a que se fizesse um sistema para proteger as bacias de espécies exóticas invasoras.
Ainda assim foi pouco o que conseguiram. José Paulo Martins diz: “As nossas propostas não eram tidas em conta e deixámos de acompanhar o processo de Alqueva”.
“Lutei contra o Alqueva. Uma coisa é uma barragem com água boa e outra coisa é uma barragem que recebe efluentes de várias cidades de Espanha”Eugénio Sequeira
Uma frase com um sentido idêntico ao de outra de Eugénio Sequeira, dirigente da LPN. “Não ouviram nada do que dissemos”. E acrescenta: “Lutei contra o Alqueva. Uma coisa é uma barragem com água boa e outra coisa é uma barragem que recebe efluentes de várias cidades de Espanha”.
Eugénio Sequeira diz que alertou então para a destruição de solos, explicou que a água da barragem numa cota mais baixa evaporava menos. “Defendíamos que tinham que ser feitas todas as contas antes, mas o estudo de impacto ambiental não teve nada disso em consideração”, lamenta o ambientalista.
Como José Paulo Martins diz que “não mudava hoje nada da contestação” de há 20 anos.
Mas Joaquim Pedro Ferreira, biólogo e investigador, então representante do CEAI, mudava. E explica à Lusa que hoje pensa que foi um erro defender a cota 139.
“Devíamos ter defendido outro modelo de exploração de recursos hídricos. Quando percebemos que a barragem ia ser feita tomámos a decisão de minimizar estragos. Mas não ganhámos nada com isso. Hoje há ali uma enorme área de agricultura superintensiva, com poluição, degradação dos solos, perda de biodiversidade, trabalho escravo”, diz. E lembra o que os ambientalistas defendiam barragens de menor dimensão na região, em vez da gigante Alqueva.
“Nos anos 1970 e 1980 o movimento ambientalista era maioritariamente contra a barragem”, resume também à Lusa outro dos dirigentes associativos da altura, João Joanaz de Melo, do Geota.
Conhecedor e muito envolvido no processo, Joanaz de Melo lembra que o projeto de Alqueva remonta aos anos 1950, que nos anos 1970 se chegaram a construir as ensecadeiras e que depois tudo parou. E que nos anos 70 e 80 Alqueva era um assunto “essencialmente emocional”, com grandes defensores e detratores e nenhum estudo técnico.
Joanaz de Melo crê que os primeiros estudos de impacto ambiental no país foram sobre o Alqueva e diz depois que quando se avançou com a obra Alqueva tinha-se tornado “um mito” e todos os partidos eram favoráveis à barragem, ainda que os ambientalistas não, teimando nas pequenas barragens.
“A partir do final dos anos 90 a posição dos ambientalistas mudou, na perspetiva de que a barragem se ia fazer em qualquer caso, e a a aposta começou a ser como mitigar os impactos de Alqueva”, porque na altura os estudos não apresentavam alternativa à grande barragem, era “o Alqueva ou nada”.
"Muitas das medidas de minimização dos impactos ambientais não aconteceram”João Joanaz de Melo
O movimento em defesa da cota 139 pretendia “evitar o desmatamento o mais possível”. O responsável diz reconhecer que Alqueva era uma boa estratégia pelo controlo do rio Guadiana, porque caso contrário “o Guadiana era espanhol”, mas não necessariamente naquela dimensão.
E acrescenta Joanaz de Melo: “Na cota 139 consegue-se operar Alqueva em segurança e cumprindo todos os objetivos fundamentais”, um deles irrigar pelo menos 1.100 hectares durante três anos de seca consecutiva numa grande parte do Alentejo, com dotações de rega muito superiores às hoje praticadas, com culturas de alto consumo de água.
Operar Alqueva a cota 139 era, no entender do ambientalista e professor universitário, suficiente pelo menos nos primeiros 20 anos, e evitava destruição de ecossistemas raros e o efeito de barreira da própria albufeira.
“Entre a quota 139 e a 147 poupávamos para aí um terço da área e a maior parte dos sistemas sensíveis. Mas foi decidido que a quota era mesmo 152, na lógica de que se faz a barragem e depois logo se vê o que se faz com a água. Na altura nem estudo de solos havia, que solos podiam ser regados”, diz Joanaz de Melo.
"Não houve um esforço sério para discutir o conceito de barragem para o Alqueva"João Joanaz de Melo
Joaquim Pedro Ferreira acrescenta que à cota 139 se preservavam bosques de sobreiros e azinheiras, matagal mediterrânico, e habitats de cegonhas-pretas e de rapinas não seriam tão afetados, além de que se mantinha um corredor ecológico para o lince ibérico.
E lamenta a ausência em todo o processo de Alqueva dos ministros do Ambiente da altura, e a ausência de preocupações ambientais. “Muitas das medidas de minimização dos impactos ambientais não aconteceram”.
Tudo junto, 20 anos depois, Joaquim Pedro Ferreira é de opinião de que as organizações não governamentais ligadas ao ambiente se deviam ter mantido contra a construção da barragem.
João Joanaz de Melo também mudava alguma coisa se pudesse recuar algumas décadas. Os ambientalistas “teriam certamente feito um esforço maior para mudar o empreendimento à cabeça, para mudar o conceito”. Mas ainda assim diz que não foi má a estratégia de mitigação e acredita que até houve “um esforço sério para diminuir impactos”.
“Só não houve foi um esforço sério para discutir o conceito de barragem para o Alqueva”. De resto, remata Joanaz de Melo, no Alqueva nunca se discutiram seriamente os conceitos. “E continuam a não se discutir hoje”.
*Com Luís Miguel Lourenço (texto) e Nuno Veiga (fotos), da agência Lusa
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