Na astronomia fala-se muitas vezes de fenómenos espantosos, bizarros ou assustadores. As frases mais comuns incluem «como nunca se viu», «como só se verá daqui a n mil anos» ou «como só se viu há n mil anos». O dia-a-dia é feito de inúmeros acontecimentos e qualquer coisa que se passe no céu tem de ser ampliada para que os ouvidos terrestres lhe prestem atenção. Mas, efetivamente, o que temos pela frente de 1 de janeiro a 31 de dezembro? Que se veja de Portugal, já agora? Temos muitas jogadas em carteira. Talvez, por uma questão de espaço, valha a pena abordar apenas janeiro.

Quando anoitecer no dia 4 de janeiro, Saturno estará ocultado pela lua crescente. Será muito belo ver o planeta a surgir da parte não iluminada do nosso satélite natural, o que deverá ocorrer por volta das 18:40. Todos os olhos na Lua a essa hora, portanto. No dia seguinte, a Lua ocultará Neptuno, mas será durante o dia. Mesmo que fosse em horário de escuridão, o fenómeno passaria despercebido, que Neptuno brilha muito menos que as estrelas mais débeis.

Também no dia 4 de janeiro ocorrerá o periélio. Não se vê e não se sente, uma vez que ocorre durante o inverno boreal. Uma excelente contribuição da astronomia para o equilíbrio climático terrestre (o afélio ocorre em julho).

Nas noites maravilhosas de janeiro, gélidas e serenas, vemos Orion, as Plêiades, Gémeos, o Touro e outras lindas constelações. Vemos Sírio, a estrela mais brilhante do céu, a fazer o seu curto percurso anual na constelação de Cão Maior (é uma pergunta que costuma sair no Trivial Pursuit, por isso agora já sabe). As três Marias são o cinturão do caçador, mas na calmaria polar do inverno parecem uma adaga pronta a trespassar a pobre Terra. Na verdadeira espada da constelação vemos a lindíssima nebulosa de Orion, que num bom telescópio nos mostra esta espantosa maternidade escolar nossa vizinha.

No dia 16 de janeiro, Marte estará em oposição. Lembramo-nos sempre das histórias espantosas de 2003 e de «Marte tão grande como a Lua Cheia». A tal reta Sol-Terra-Marte será formada neste dia, precisamente.

Depois, no dia 21 de janeiro, mas não exatamente no dia, que se poderá ver um pouco antes ou um pouco depois, temos enfim um alinhamento visível de planetas: Vénus, Marte, Júpiter e Saturno. Juntam-se-lhes Úrano e Neptuno, mas não se vão deixar ver. A Lua estará minguante, o que ajuda nos espetáculos no céu. Se não estiver nublado, vai ser uma visão de pasmar.

O programa no céu para janeiro será este. Vale a pena acompanhar estes quatro planetas visíveis a olho nu (Vénus parece furar o céu, não parece?) e os dias que, maravilhosamente, se alongam e se tornam menos ríspidos. E apresentamos no final o que se vai passar em fevereiro?