Os comboios já são um calvário para muitos dos mais de 13 milhões de habitantes da capital japonesa nas horas de ponta da manhã. Ao menor sinal de incidente, as estações viram um inferno: é praticamente impossível chegar às plataformas e fica difícil até respirar dentro das carruagens sobrelotadas.
Durante os Jogos Olímpicos, as autoridades japonesas esperam "mais de 10 milhões de visitantes e até 920.000 espectadores e credenciados olímpicos por dia”O alerta é de Kasumi Yamasaki, responsável pelos transportes para os Jogos de Tóquio.
Os operadores ferroviários preveem aumentar a frequência dos comboios e metros, mas "as linhas circulam já em plena capacidade nas horas de pico, de 7h às 9h", explica à agência France-Presse.
Os especialistas esperam um aumento de 10% no número de passageiros nos comboios da cidade e temem uma subida de 20% no número de automóveis nas ruas, o que poderá provocar atrasos importantes e engarrafamentos perigosos.
"Se medidas drásticas não forem tomadas, arriscamo-nos a sofrer tumultos fatais nas estações ferroviárias", alerta o professor Azuma Taguchi, da Universidade Chuo.
Contra a cultura empresarial
O resultado: é preciso convencer os funcionários a trabalhar a partir de casa, ou, pelo menos, a evitar as horas de pico. No Japão, porém, não ir ao trabalho é um desafio cultural.
Para habituar as empresas e os funcionários antes dos Jogos, as autoridades decretam há vários anos "dias de trabalho à distância" durante o período de 22 de julho a 6 de setembro, que corresponde às datas dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
As autarquias e cerca de três mil empresas privadas — incluindo a gigante do ramo de automóveis Toyota — participam nesta iniciativa. Até ao momento, campanhas deste tipo não deram muito resultado.
Além de não poderem realizar todas as funções a partir de casa, os funcionários têm outros obstáculos a superar, afirma Kanako Nakayama, responsável pelo trabalho remoto no ministério do Interior.
As empresas muitas vezes mostram-se reticentes, devido "à preocupação com a segurança de dados confidenciais, à dificuldade de controlar as condições de trabalho e porque a cultura de empresa insiste na importância da comunicação pessoal".
Escritório balnear
Os testes mostram, contudo, que quem trabalha de casa não é menos produtivo. Pelo contrário.
Depois de deixar a filha na creche, Yoshie Midorikawa volta para casa e começa a sua jornada de trabalho. Ela liga o computador e envia uma mensagem para os colegas pelo telemóvel, avisando que está ligada.
"Assim economizamos muito tempo e energia, evitando os trajetos quotidianos, especialmente quando os comboios sofrem atrasos", garante esta mulher de 42 anos, representante comercial da empresa de serviços informáticos Kunai.
Os especialistas e os responsáveis governamentais esperam que os esforços feitos para o período dos Jogos Olímpicos possam criar um legado no futuro: "É uma oportunidade de instalar o trabalhar À distância e criar, assim, um estilo de vida sem stress", defende o professor Taguchi.
A deslocalização temporária das empresas sediadas para lugares turísticos fora de Tóquio também é uma solução possível. É o caso de Shirahama, cidade ao oeste do Japão que conta com dois edifícios comerciais construídos com a ajuda do Estado.
"Destacamos a presença próxima de praias, fontes termais e um acesso fácil a um aeroporto para as pontes aéreas entre Tóquio e este local de trabalho", explica Masakatsu Ogawa, responsável local.
Além de as receitas da cidade terem disparado, graças ao imposto sobre empresas, a população local também "rejuvenesceu" com estes trabalhadores à distância urbanos. A autarquia já começou a planear a construção de um terceiro edifício comercial.
Por Kyoko Hasegawa/AFP
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