“Uma família afegã esteve quatro anos à espera de recolocação no espaço na União Europeia (UE). O pai e os cinco filhos foram recebidos em Portugal no dia 21 outubro de 2021. A principal preocupação do pai foi perceber e garantir o acesso das crianças à escola algo que, por vistos, não tinha no Afeganistão”, começou por contar Vasco Malta, Chefe de Missão da Organização Internacional para as Migrações (OIM), durante a conferência Planetiers World Gathering, a decorrer no pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa.
No dia em que se celebrou o 77.º aniversário da Organização das Nações Unidas, esta segunda-feira, o responsável da Organização Internacional para as Migrações em território nacional citou o exemplo para descrever o papel deste braço da ONU para a migração.
“O papel da OIM foi, juntamente com autoridades nacionais e internacionais, de garantir que essas pessoas tinham colocação no país”, adiantou ao SAPO24 à margem do painel “Leaving no one behind: the role of the United Nations in building a new global development model”.
“Em 10 dias, as crianças já estavam na escola”, revelou. “O pai, fotógrafo de profissão, integrou-se e hoje tem uma pequena empresa. Faz fotografias de casamentos”, confidenciou.
“Ninguém pode ficar para trás”, exclamou Vasco Malta. “O que pretendemos, de facto, é garantir que nenhuma pessoa que se quer movimentar do ponto A para o ponto B fique para trás. E procuramos garantir que possa alcançar os seus objetivos e seguir o seu projeto de vida. O papel da OIM é ajudar nesse movimento”, esclareceu.
Continuou. “Na OIM defendemos uma ligação clara, segura e ordeira que beneficia todos: as sociedades de origem, de destino e, acima de tudo, os migrantes”, migrantes esses que “contribuem para o crescimento económico” nos países de acolhimento, sublinhou o diretor-geral desta Organização intergovernamental responsável pela ajuda a migrantes, fundada em 1951 e presente “em cerca de 180 países”, e em Portugal desde 1976.
Covid e Ucrânia: os maiores desafios desde a fundação
Habituados a lidar com crises humanitárias e fluxos de população, Vasco Malta centrou a conversa nos acontecimentos a nível global nos últimos dois anos. “Por um lado, a crise pandémica do Covid. Depois o que está a acontecer na Ucrânia. São dos maiores desafios” que a organização enfrentou até à data.
No caso do conflito ucraniano socorreu-se de números. “Cinco milhões saíram do país e 7,5 milhões deslocados internos vivem fora das suas casas e das suas cidades”, alertou.
Mas as crises a nível planetário não se ficam por aqui. Podemos falar de outras crises humanitárias. “No Paquistão, Bangladesh. As cheias levaram ao fluxo em massa de pessoas”, indicou.
Quer seja por “conflitos” ou “alterações climáticas”, Vasco Malta avisou ser indispensável “estar atento para prestar a necessária ajuda a pessoas que pretendem sair de um ponto para o outro de forma segura, ordeira e ordenada”, detalhou.
O responsável da organização para as Migrações destacou ainda um pequeno grande pormenor dos tempos atuais onde é urgente agir. “É um flagelo enorme e a nossa perceção, nas nossas missões no mundo, é que nos últimos dois anos o tráfico de seres humanos aumentou. Tráfico para exploração laboral ou sexual”, alertou. “Os números são avassaladores. Há casamentos forçados...”, frisou. “É preciso fazer mais, atuar mais”, atirou.
No terreno, diz, a OIM tem monitorizado “vários projetos contra o tráfico de seres humanos”, esclareceu. “Na Ucrânia demos formação nos pontos de receção na primeira linha dos refugiados de forma a estarem atentos para saberem sinalizar as situações de tráfico humano”, referiu.
Por um lado, “procuramos alertar as autoridades para este fenómeno”, e, por outro, procuram “tentar garantir que as vítimas saibam onde obter ajudas no caso de caírem no tráfico sexual ou laboral”, disse. E ainda “ajudamos a quem quer a regressar ao seu país”, acrescentou.
O digital tem sido uma das ferramentas usadas. “Na OIM temos softwares para ajudar nos fluxos migratórios. Permite de forma mais real e rápida quem está na primeira linha ter acesso à informação para ajudar o migrante a migrar de forma segura. E isso significa formação para tentar despistar eventuais casos de tráfico humano”, esclareceu. “Não tenho números em que a digitalização impediu, mas a verdade, ajuda. É um processo, entre outros, para ajudar a movimentação de pessoa”, conclui Vasco Malta.
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