Se o primeiro debate foi surpreendente por o foco ter sido a Europa, o último (neste formato) foi surpreendente por os temas terem sido tão nacionais. Logo à partida começou com António Costa, ainda que o tema fosse a sua possível ida para a Europa, o foco era o facto de não ter sido constituído arguído. Os candidatos tentaram, mas essa linha de partida desconcentrou Bugalho que como uma enguia tentava esquivar-se para não tocar nos temas que dizem respeito ao Governo.
A seguir a António Costa, e aos problemas da justiça (portuguesa), o primeiro tema da noite foi o PRR e se no caso de não ser cumprido, os candidatos irão fazer pressão para que os prazos sejam alargados. Marta Temido Ministra sente-se atacada pela introdução, e contra-ataca depois de dizer que o PS estará disposto a pedir para alargar os prazos. "Os portugueses não terão de estar preocupados com a não utilização de verbas. O novo governo conseguiu apresentar o que faltava apresentar porque o trabalho estava preparado. Não vejo qual é o impedimento para o que estava garantido. O novo governo da AD não tem motivos para qualquer desculpa. Chegaram ao poder com uma dívida pública abaixo dos 100%".
O tema nacional fez com que o confiante e assertivo Sebastião Bugalho desse lugar a um hesitante candidato esta noite. Não lhe faltou a preparação a que nos habituou nos temas europeus, mas como quis evitar os nacionais apenas pareceu perdido. Chega mesmo a dizer que não é porta-voz do Governo, informação que mais à frente contrariará. Responde à questão e tenta à força voltar à Europa. “O que espero é que o PRR seja executado o mais rapidamente possível para que os portugueses tenham soluções para os problemas. Se nos cruzarmos com uma situação em que Portugal beneficiaria do alargamento do prazo, acho que nenhum eurodeputado português seria contra. Mas a decisão não cabe aos eurodeputados.”
É neste momento que se revela a surpresa da noite, com uma elegância Catarina Martins consegue não só responder em "europês", como ainda apontar o florete aos candidatos da AD e PS. Primeiro, critica a orientação sob a qual foi construído o PRR, depois acusa: "Os socialistas deixaram que seja a Comissão Europeia a decidir. E a extrema-direita vai ter mais poder." Sem deixar Bugalho de fora, dizendo que nesta questão o PSD esteve junto do PS.
Fidalgo Marques, como vem sendo habitual, começou a resposta no tema que lhe foi questionado, "estaremos lá a defender os interesses de Portugal. Mas aquilo que temos de olhar é para o Bloco Central, que não tem conseguido executar estes fundos" e, desta vez, terminou na tourada.
Foi na senda deste tema que se dá o debate mais peculiar da noite. Uma Catarina Martins muito bem preparada discute com Bugalho as novas regras orçamentais da UE. Foi um dos momentos mais acesos de uma noite morna, mas onde Catarina Martins conseguiu mostrar que, talvez fruto da experiência, percebe bem o que é um debate televisivo. Conseguiu distrair Bugalho e deixar Temido debaixo da sua sombra.
Depois de assistirmos a mais um pouco de discussão de política nacional, um tema mascarado de Europa: a inclusão do aborto na carta fundamental da União Europeia. É Bugalho quem tem primeiro a palavra, e explica que o PSD apenas votou contra a inclusão do aborto como direito fundamental na UE por uma questão jurídica. Tenta explicar equilíbrio entre o direito à vida e o direito das mulheres. Garantido, porém, "dou a minha palavra de honra que no que diz à posição da AD, nesta equipa não haverá qualquer recuo nos direitos das mulheres. A delegação portuguesa do PPE também se vai levantar para defender os direitos das mulheres. Aliás, o atual primeiro-ministro fez um compromisso de jamais reverter esse direito". Mas a armadilha estava lançada, e demorou-se demasiado num fio condutor que mais parecia um novelo.
Marta Temido e Catarina Martins lembram que há mulheres que ainda morrem na Europa e uma luz do Sebastião Bugalho dos outros debates parece acender-se e atira Malta para cima da mesa, o único Eatado-Membro da UE onde o aborto é criminalizado e tem governação socialista.
No fim discutiu-se corrupção e transparência, momento em que uma hábil Catarina Martins conseguiu inserir as relações da Europa com Israel num dia em que o Tribunal Penal Internacional ordenou a Israel que suspenda de imediato a ofensiva em Rafah.
Em resumo, no último debate das europeias não conseguimos sequer ficar a saber o que os candidatos pensam acerca de Portugal.
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