"Odette Ferreira foi uma mulher à frente do seu tempo, envolvida desde o primeiro momento na investigação e na luta contra a sida. Uma cidadã a quem a Saúde Pública muito deve", lê-se numa nota divulgada pelo seu gabinete.
A ex-presidente da Comissão Nacional de Luta Contra a Sida Odette Santos-Ferreira, pioneira na investigação da doença em Portugal, morreu no domingo, aos 93 anos.
Ferro Rodrigues recorda que, quando foi ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, pode "testemunhar de perto a sua coragem, a sua determinação, a sua capacidade de comunicar com o grande público e com os grupos de risco".
"Foi absolutamente notável o trabalho que desenvolveu junto dos toxicodependentes, lançando um programa de troca de seringas que salvou muitas vidas", escreveu, na mensagem em que afirma ter recebido da notícia "com muita tristeza" e transmite a condolências, em nome do parlamento, à sua família.
Em fevereiro deste ano, Odette Santos-Ferreira foi condecorada por Marcelo Rebelo de Sousa numa cerimónia reservada, tendo recebido a grã-cruz da Ordem da Instrução Pública.
No princípio dos anos de 1980, Odette Santos-Ferreira caracterizou os primeiros casos de infeção por VIH em doentes originários da Guiné-Bissau com um quadro clínico de imunodeficiência, tendo identificado um grupo de amostras com um comportamento anormal face ao método de diagnóstico usado e que constituiu o ponto de partida para a descoberta do VIH do tipo 2.
Prossegue as investigações durante essa década, nomeadamente no Instituto Pasteur de Paris, autoridade de renome mundial na matéria, que acabaram por conduzir à descoberta do VIH do tipo 2.
Odette Santos-Ferreira foi coordenadora da Comissão Nacional de Luta Contra a SIDA, cargo que exerceu de 1992 a 2000, por nomeação do ministro da Saúde, tendo desenvolvido inúmeros projetos com impacto significativo na prevenção e disseminação da doença.
O projeto da sua autoria de maior impacto nacional e internacional foi a troca de seringa nas farmácias, denominado "Diz não a uma seringa em segunda mão", que teve como finalidade diminuir o risco de transmissão do VIH e de outras doenças transmissíveis (hepatitie B e C) à população toxicodependente por via endovenosa.
Este projeto foi considerado pela Comissão Europeia o melhor projeto apresentado por um país europeu, não só pela inovação, mas por ter sido possível desenvolvê-lo em todo o território nacional.
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