“O PS, ao dizer que viabilizava o Orçamento do Estado, permitiu que toda a hipocrisia, todo o cinismo, toda a demagogia, toda a ‘reacionarisse’ do Chega e da IL ficasse liberta de ter que aprovar um orçamento com o qual estão profundamente de acordo, e que vêm de forma fanfarrona votar contra”, acusou Paulo Raimundo.
O dirigente comunista falava num almoço com quadros técnicos e intelectuais, no Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa, um dia após a aprovação na generalidade da proposta de OE2025, viabilizada com os votos a favor dos dois partidos que apoiam o Governo, PSD e CDS-PP, a abstenção do PS e os votos contra da restante oposição.
Paulo Raimundo defendeu que tanto o Chega como a IL “estão de acordo com todas e cada uma das decisões” que constam no documento apresentado pelo executivo, “em particular aquelas que dão benefícios aos grandes grupos económicos que são o sustento financeiro desses mesmos partidos”.
“E o PS libertou-os de ter que votar a favor do seu próprio orçamento”, ironizou.
Na ótica do secretário-geral do PCP, o PS decidiu viabilizar a proposta orçamental – que nas próximas semanas segue para a fase de especialidade, no parlamento – “porque lá no fundo, no fundo, no fundo, o que está em causa neste orçamento é a continuidade das opções políticas do orçamento que está em vigor”, aprovado pela anterior maioria absoluta socialista.
Apesar de reconhecer que existem algumas diferenças, Paulo Raimundo defendeu que não são significativas, dando alguns exemplos: “O orçamento que está agora em vigor prevê 1.600 milhões de euros em benefícios fiscais para as grandes empresas. Este que foi aprovado ontem prevê 1.800. Há uma diferença, mas convenhamos”.
Raimundo prosseguiu, afirmando que o orçamento ainda em vigor “está a concretizar 1.300 milhões de euros para as parcerias público-privadas” e que a proposta orçamental aprovada na quinta-feira “transfere 1.500 milhões de euros”.
“Há uma diferença, podemos dizer que aplicaram a inflação. Aplicaram a inflação, o princípio é o mesmo”, ironizou.
O secretário-geral comunista considerou que a proposta orçamental foi apresentada pelo Governo “mas foi escrito pelo punho dos grupos económicos”, e contou com a firme oposição do PCP desde o início “não por obsessão" ou porque os comunistas “não gostam do PSD ou da AD”.
“É assim, porque aquilo que está em curso agora, é o aprofundamento das injustiças e das desigualdades, é o ataque aos direitos e à soberania”, criticou.
Na ótica dos comunistas, a proposta orçamental não apresenta medidas capazes de reter os jovens no país nem permite a existência de funcionários públicos suficientes para o funcionamento dos serviços do Estado.
“Nem mais um funcionário público: nem mais um professor, nem mais um médico, nem mais um funcionário para a justiça. Está na cara o que querem: desmantelar, apertar, criar condições para que o serviço público não dê resposta e escancarar as portas ao negócio privado em todas as vertentes do nosso trabalho”, vaticinou.
Numa intervenção de cerca de meia hora, Paulo Raimundo enalteceu o contributo dos trabalhadores intelectuais, investigadores e profissionais da cultura, e fez vários apelos à mobilização dos comunistas para “chamar mais gente” para a militância.
Afirmando que o partido “sofre ataques de todo lado” e “por vontade de alguns já não existia”, Raimundo disse esperar que o XXII Congresso do PCP, que se realiza em dezembro, em Almada, Setúbal, reúna “o máximo de camaradas possível”.
“Nesta casa, neste partido, ninguém tem medo do debate, pelo contrário, recomenda-se o debate. Ninguém tem medo das opiniões, pelo contrário, queremos que elas venham, sejam elas quais forem”, salientou.
(Notícia atualizada às 16h41)
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