A urna de cedro coberta com uma bandeira cubana saiu de Havana na quarta-feira, transitando durante três dias por estradas repletas de pessoas que gritavam "Eu sou Fidel!", e fazendo paragens diárias no caminho em direção a Santiago de Cuba, no extremo oriente da ilha.
O presidente Raúl Castro, que assumiu o poder quando o seu irmão Fidel ficou doente, em 2006, fará,na noite deste sábado, um discurso muito esperado durante a homenagem ao líder da revolução em que estarão presentes vários dignatários estrangeiros.
Após um período de luto de nove dias, o corpo do "Comandante" será sepultado numa cerimónia privada no domingo, no Cemitério de Santa Ifigénia de Santiago, onde jaz o herói da independência nacional, José Martí. Há vários dias, que o cemitério permanece fechado e os trabalhadores apressam-se a finalizar os últimos detalhes da cerimónia. O funeral será realizado sem a presença de câmaras de meios de comunicação social estrangeiros.
Enediel Rodriguez, de 50 anos, prepara uma sala de televisão na qual os curiosos poderão acompanhar o avanço do cortejo. "Repousa em Santiago de Cuba, porque Martí é nosso herói nacional e porque foi ideia dele repousar ao seu lado", explica Enediel enquanto ajusta uma pulseira com a inscrição "26 de julho", em referência ao movimento criado por Fidel Castro após o fracassado assalto ao Quartel Moncada, em Santiago de Cuba, em 1953. O grande fracasso desta missão suicida conduzida pelos irmãos Castro e na qual participaram outros 121 combatentes inexperientes foi o ato inicial da revolução cubana.
A urna com as cinzas de Fidel fará uma também uma paragem na fortaleza. Três anos depois do ataque, em 30 de novembro de 1956, o herói local Frank País dirigia uma revolta armada destinada a apoiar o desembarque na região do iate Granma, que transportava, a partir do México, os irmãos Castro e o argentino Ernesto "Che" Guevara. A insurreição de Frank País fracassou, o líder revolucionário foi assassinado pela polícia e os passageiros do Granma fugiram para as montanhas vizinhas de Sierra Maestra, de onde lançaram uma guerra de guerrilhas, que se estendeu por 25 meses.
No dia 1 de janeiro de 1959, Fidel anunciou, a partir de Santiago, a vitória da revolução. Na sexta-feira, 2 de dezembro, foi lembrado em Cuba o 60º aniversário do desembarque do Granma na praia Las Coloradas, 220 km a oeste de Santiago. Em Havana, Matanzas, Cárdenas, Cienfuegos, Santa Clara, Sancti Spíritus, Camagüey, Las Tunas, Holguín, Bayamo, centenas de milhares de simpatizantes permaneceram na berma das estradas para se despedir do líder revolucionário.
A morte de Fidel, no dia 25 de novembro aos 90 anos, gerou vários debates sobre o seu legado e sobre o rumo que Cuba pode tomar sem o líder que a governou durante quase meio século. A maioria dos cubanos foram incitados ao longo desta semana a jurar que continuarão com o legado socialista do homem que moldou o destino do país e desafiou a superpotência americana por meio século. A maior parte dos dissidentes informaram que permanecerão sem se manifestar, por medo de represálias, mas planeiam retomar imediatamente a sua luta contra o governo.
"Saberemos tomar conta dele e montar guarda como deve de ser", afirma com orgulho Margarita Aguilera, que aos 54 anos dirige uma loja municipal de distribuição de tabaco. Para ela, Fidel "foi o pai de todos os cubanos e de todos os desamparados do mundo".
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