A presidente do Supremo Tribunal, Norma Piña, e sete outros apresentaram cartas de demissão na terça e quarta-feira, afirmando que deixariam os cargos em vez de concorrer às eleições judiciais marcadas para junho de 2025.

Os únicos juízes que manifestaram interesse em ir a eleições são Lenia Batres, Yazmín Esquivel e Loreta Ortiz, magistrados alinhados com o programa do atual Governo.

Os juízes do Supremo Tribunal eram anteriormente selecionados pelo parlamento do México.

Também na quarta-feira, a câmara baixa do parlamento aprovou uma nova alteração constitucional que impede que a justiça do México suspenda a aplicação de recentes emendas à Constituição, incluindo a reforma judicial.

O Supremo Tribunal mexicano tinha previsto analisar nos próximos dias uma queixa apresentada pela oposição, que denunciou a inconstitucionalidade da reforma judicial.

A reforma judicial foi aprovada pelo anterior chefe de Estado, Andrés Manuel López Obrador, semanas antes de deixar o poder, em 01 de outubro.

Durante o seu mandato, Obrador acusou o sistema judicial mexicano de ser corrupto e servir apenas os interesses económicos da elite, enquanto mais de 90% dos crimes ficam impunes no México, de acordo com organizações não-governamentais.

A reforma judicial estabelece que os juízes que não se candidatem ou não sejam eleitos perderão o direito à pensão de reforma, salvo se apresentarem a demissão antes do encerramento do concurso.

A nova Presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirmou na terça-feira que a demissão dos juízes se deve ao desejo de preservar “muito dinheiro” das suas pensões de reforma.

Também o presidente do Senado, a câmara alta do parlamento, Gerardo Fernández Noroña, sugeriu que os juízes estão a recusar-se a participar nas eleições “para saírem de malas cheias”.

Os opositores consideram que a reforma judicial vai pôr em causa a independência dos juízes e torná-los vulneráveis às pressões do crime organizado.

Os Estados Unidos, principal parceiro comercial do México, consideraram a reforma “um risco” para a democracia mexicana e “uma ameaça” para as relações comerciais bilaterais, numa altura em que o México ultrapassou a China como o maior parceiro comercial do vizinho do norte.

Também organizações multilaterais como as Nações Unidas e o Tribunal Interamericano de Direitos Humanos, organizações empresariais, como a Câmara de Comércio Internacional e agências de notação financeira como a Fitch e a Moody’s alertaram para repercussões negativas para o México devido a esta reforma.