O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, citado na nota de imprensa enviada à agência Lusa, referiu que o eventual fecho rotativo das urgências de obstetrícia de quatro dos maiores hospitais de Lisboa "ultrapassa os limites do aceitável e não constitui em si uma solução para o problema que se arrasta".
"É necessário existir um planeamento adequado das necessidades dos serviços, ter uma organização modelar e encontrar verdadeiras soluções para os problemas e não apenas insistir na improvisação em cima do joelho", defende o bastonário.
Segundo noticia hoje o jornal Público, as urgências de obstetrícia de quatro dos maiores hospitais de Lisboa vão estar fechadas durante o verão, fechando rotativamente uma de cada vez, devido à falta de especialistas.
De acordo com o Público, "a partir da última semana de julho e até ao final de setembro" as urgências de obstetrícia da Maternidade Alfredo da Costa, Hospital de Santa Maria, São Francisco de Xavier e Amadora-Sintra vão estar "fechadas num esquema de rotatividade".
Para Miguel Guimarães, o fecho rotativo das urgências não passa de "um remendo", sendo que o efeito dominó de tal medida "pode ter consequências imprevisíveis na atividade cirúrgica, no internamento, na vigilância, nos tempos de espera, na taxa de cesarianas e, em última análise, na qualidade e segurança clínica dos cuidados prestados às grávidas e aos recém-nascidos".
Na nota de imprensa da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães refere que Portugal corre o risco de reverter os anos de trabalho positivo na área da saúde materno-infantil.
Apesar de afirmar que "as carências não são de hoje", o bastonário insiste que é necessário perceber "o que aconteceu nos últimos meses" para que se esteja a assistir "a um colapso diário de vários serviços hospitalares".
A mesma nota recorda que dos 1.400 especialistas em ginecologia e obstetrícia inscritos na Ordem dos Médicos com menos de 70 anos apenas 850 trabalham no Serviço Nacional de Saúde, sendo necessários "pelo menos mais 150 especialistas".
O Conselho Regional da Ordem dos Médicos convocou todos os Diretores Clínicos, Diretores de Obstetrícia e de Unidades Neonatais da Região Sul para uma reunião urgente na terça-feira para a Sede da Ordem dos Médicos.
PCP pede audição da ARS sobre fecho rotativo de urgências de obstetrícia de Lisboa
Por sua vez, o grupo parlamentar do PCP enviou hoje um requerimento para a audição do Conselho Diretivo da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) sobre o fecho rotativo das urgências de obstetrícia da capital.
"Hoje, dia 20 de junho, é noticiado que quatro maternidades de Lisboa - Alfredo da Costa, São Francisco Xavier, Santa Maria e Amadora Sintra - vão encerrar os serviços de urgência durante o período de verão. Sendo também dito que existe uma proposta da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo para que funcionem de forma rotativa", afirma o PCP, no requerimento endereçado à Comissão Parlamentar de Saúde, fazendo referência à notícia avançada hoje pelo jornal Público.
No documento enviado à agência Lusa, o grupo parlamentar comunista salienta que a principal causa apontada para o encerramento dos serviços é a falta de médicos especialistas em ginecologia e obstetrícia e anestesistas.
"As carências destes profissionais, apesar de há muito identificadas e do conhecimento do Governo, não foram debeladas pese embora a existência de instrumentos, designadamente, no Orçamento do Estado, como a contratação de profissionais ou a substituição do recurso a prestação de serviços por contratos de trabalho permanente" que permitiriam resolver o problema, sustenta o PCP.
Para o grupo parlamentar, esta proposta de fecho rotativo por parte da ARSLVT não serve as grávidas e concorre "para o enfraquecimento da resposta pública".
Nesse sentido, o PCP pede a presença do Conselho Diretivo da ARSLVT "com caráter de urgência", propondo que a audição seja agendada para a próxima reunião da Comissão Parlamentar de Saúde, na quarta-feira.
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