São
. Manuel ri-se. Também é preciso rir, aqui diante deste "muro de Berlim" que corta Esmoriz do mundo. Lá do outro lado da cerca sanitária, o irmão quer trazer-lhe limões. Não pode. “Vou ali à fronteira e trazes-me o saco para o lado de cá... Por amor de Deus”, encena.Ovar, no distrito de Aveiro, foi a primeira localidade portuguesa a ser encerrada por trás de uma cerca sanitária. De um dia para o outro, os habitantes daquele concelho ficaram trancados. Ali está tudo "calmo, calmíssimo, parado". Nas ruas não há gente, só as constantes autoridades e a GNR em avisos. "Vai havendo uma pessoa ou outra que vai ver a praia, respirar um bocado o ar do mar — mas aqui está muito parado”, descreve Manuel Pinto.
Vive em Esmoriz, a última freguesia de Ovar, antes de Espinho, já do outro lado. O irmão e a respetiva quinta ficam em Paramos.
“Parece que nem as folhas das árvores mexem. Parece que está a atravessar não a cidade, mas uma pintura da cidade”, descreve Jaime Valente, diretor da rádio local Antena Vareira. "As pessoas interiorizaram mesmo que tinham de fazer isto”.
Nem os jornalistas podem cruzar a linha. Assim, só os de lá que podem ver e contar. Jaime corrobora o cenário que Manuel descreve ao SAPO24: "No dia a dia é radicalmente diferente” da cidade que aqui havia.
"Quero muito sinceramente pensar que todas estas medidas venham a ser excessivas, uma preocupação excessiva. Espero bem que sim”, diz, por seu lado, Luís Ventura, diretor do Ovar News, que conta ‘online’ a vida dos vareiros.
Manuel concorda que "é melhor pecar por excesso do que por defeito”. Todavia, "esta situação às vezes é uma confusão. Este cerco, cerco, cerco, não se poder movimentar daqui para fora confunde as pessoas.”
"Está tudo fechado em casa; há uma ambulância que pára numa rua: o medo existe. E infelizmente têm parado muitas em muitas ruas”, descreve Jaime.
“Não diria medo”, contrapõe Manuel. “Talvez tristeza. Falo às vezes com algumas pessoas — poucas — e começa a haver um bocadinho de ansiedade. As pessoas não estavam preparadas. Não estavam preparadas nem esperavam uma coisa destas. Nem aqui, nem em qualquer parte pelo mundo fora. As pessoas sentem-se presas, tristes”, relata.
"A situação já era claramente grave ainda antes do cerco", descreve Rui Costa, um empresário do Porto que vive em Ovar. "Em muitos aspetos, o presidente da câmara foi bastante diligente, porque já andava literalmente desesperado a pedir às pessoas para se recolherem, a pedir aos cafés para fechar. A cidade já estava bastante parada ainda antes do cerco sanitário". "Parece que estás num livro do Huxley, ou no 1984, só falta o Big Brother. Tem sido assim um bocado assustador", diz Rui.
"Já se notava um clima de medo, já vias pouquíssima gente na rua, os cafés já estavam fechados. Já estava a ser bastante agressivo", mesmo antes dos decretos. Com a cerca sanitária, vieram as dificuldades: "A minha mãe não vê as minhas filhas vai fazer um mês", exemplifica Rui.
Luís Ventura alerta ainda para "um facto muito preocupante que tem surgido nos últimos dias: as redes sociais das pessoas aqui de Ovar estão repletas de anúncios de falecimentos", perceciona o responsável pelo 'Ovar News'.
"Tive o cuidado de falar com médicos que me disseram que não há números oficiais, não há nenhuma estatística feita, mas a experiência deles diz que sim”, conta Luís Ventura.
"Há, por exemplo, uma funerária aqui em Ovar, que me disse: 'nós trabalhamos de manhã, à tarde e à noite’ — os cemitérios estão fechados, os coveiros vêm abrir a porta a qualquer hora do dia”, relata.
O proprietário de uma fábrica de caixões em Ovar reconhece que os agentes funerários — de todo o país — estão a procurar reforçar os armazéns, mas afasta cenário de rotura de stocks. Sente, no entanto, "a preocupação dos clientes pelo que poderá vir".
"Querem, de certa forma, precaver-se um bocadinho", explica. "Em vez de ter um stock de 12, já querem ter 18 ou 20, para estarem mais apetrechados para conseguirem dar uma resposta caso as coisas cheguem a um cenário mais negativo", diz o empresário, que prefere não ser identificado.
A fábrica tem uma declaração da autarquia que permite a entrada das matérias primas e a saída dos produtos.
Habituado a trabalhar em casa um dia por semana, agora que está obrigado ao teletrabalho, Rui Costa notou outra coisa: "preciso de uma cadeira em condições", conta. "Estou à rasca das costas e não tenho como comprar a porcaria da cadeira."
Noutros casos, bancários também a trabalhar em casa tiveram de ir buscar o equipamento informático à fronteira: "foi um filme brutal, tiveram de ir ao limite da cerca buscar o material."
É um ambiente um bocadinho assustador, isso é. Mas também sinto que com o passar dos dias as pessoas acabam por se adaptar. Acho é que não é sustentável por muito tempo. De uma maneira ou de outra, isto vai ter de evoluir para algo diferente", diz Rui. "As pessoas vão começar a perder um pouco a paciência e a noção de risco", alerta.
"Ou se assume que a solução são estas limitações à liberdade de movimentação — e aí tem de ser generalizado — ou, então, ter uma cerca sanitária nesta fase não faz muito sentido", afirma o empresário.
Saltar a cerca
Os limões ficam em Espinho. Mas nem sempre ocorre desse jeito. Isto de ficar fechado nos 48,98 quilómetros quadrados do concelho "mexe com as pessoas”, lembra Manuel Pinto.
"Ainda ontem estive a falar com umas pessoas amigas e disseram-me que vão por ali abaixo até ao Furadouro [ainda em Ovar] e à Torreira [já na Murtosa] e não têm tido problemas. As autoridades não lhes dizem nada — mas também dizem que lá para baixo não há movimentação nenhuma: não se vê nada. Está muito, muito, muito parado."
"Vai sempre haver quem fure” a cerca, lamenta Jaime. “Há casos horríveis de pessoas que foram detidas, pessoas referenciadas como de confinamento obrigatório, que estavam infetadas, e que foram encontradas a conduzir.”
Esta segunda-feira, a PSP deteve em Ovar uma mulher, de 78 anos, infetada com o novo coronavírus, que andava a fazer compras num hipermercado. Em comunicado, a polícia refere que a septuagenária, residente no concelho de Ovar, foi detida por violação de confinamento obrigatório na segunda-feira, pelas 16:20.
"A mulher foi intercetada num estabelecimento comercial daquela cidade e era conhecedora do resultado positivo do teste à covid-19, bem como do dever de confinamento obrigatório, pelo que foi acompanhada até ao seu domicílio, por esta Polícia", refere a mesma nota.
Ainda segundo a PSP, a detida, antes da ida ao hipermercado deslocou-se, também, a um Centro de Saúde onde foi consultada e lhe prescreveram vários medicamentos. A ocorrência foi comunicada ao Ministério Público.
"Tem havido algumas operações policiais intensas — ainda ontem, aqui em frente a casa, houve uma operação em que parava toda a gente, sem exceção, e as instruções eram muito claras: se não tivesses uma justificação, e eles até tinham uma lista de empresas cujos trabalhadores podiam circular, eras cordialmente convidado a ir para casa", conta Rui Costa.
"Continua é a ver-se muitos velhotes na rua, a ir ao supermercado. Esse é que é o problema", diz o empresário, que mora em frente a um supermercado. "Tem sido feito, pelo menos do que eu consigo ver da varanda de minha casa, um esforço da polícia para consciencializar as pessoas".
Há um supermercado local que juntou amigos com tempo livre para distribuir. "Basta telefonares para lá e eles fazem as entregas em casa", diz Rui. "Andam aqui o dia todo feitos loucos para trás e para a frente, porque é o único supermercado na zona que está a fazer isso — pelo menos que eu saiba".
"Tem sido essa a solução, mas não sei se chega a toda a gente", lembra o empresário. "Não sei se toda a gente tem conhecimento disso".
Jaime descreve também o caso de "uma família necessitada", a quem a Cruz Vermelha levava refeições. Porém, "sempre que iam levar a refeição, o senhor andava cá fora”, conta. Reconhecendo que, "no geral, mesmo essas situações têm vindo a decrescer, muito pela força da ação das autoridades"
"Há pessoas que às vezes não entendem", diz Rui, afastando também qualquer "hostilidade" das forças de segurança. "Tem sido respeitoso de ambas as partes".
"Quem não vai lá pela sua própria cabeça só vai à força”, atira o radialista.
Um bando de leprosos
"Vamos ficar com notícias até ao fim da vida”, brinca Manuel. "É o que nós fazemos: ouvir notícias. São sempre as mesmas, mas vamos ouvindo". É pela comunicação social que lhe vai chegando a informação. Salvador Malheiro, PSD, tem feito o relato da situação no concelho a que preside através das redes sociais. Com sumários todos os dias, onde faz um balanço dos números e das estratégias.
Foi, aliás, no Facebook que surgiram os primeiros alertas do autarca: a calamidade. iminente, o fecho das fronteiras do município. A mortandade.
”Para uns, o Salvador Malheiro tem dado informações em excesso, medrosas; para outros não. Tem informado bastante", considera Manuel.
O também vice-presidente do PSD tem-se desdobrado na imprensa. O SAPO24 procurou falar com ele, mas tal não foi possível: a agenda, justificou sempre a assessora da comunicação.
Jaime reconhece que "nos momentos mais importantes, o presidente esteve sempre disponível" para falar com a imprensa de Ovar. A autarquia pediu apenas que os jornalistas não estivessem sempre a tentar falar com ele, explica o diretor da Antena Vareira.
O jornalista sublinha, no entanto, que o gabinete de crise montado pelo executivo do social-democrata tem "regras muito rígidas sobre as declarações: mais ninguém fala a não ser o presidente".
"Cria algumas dificuldades, mas é uma decisão deles com que temos de viver". Embora, "sinceramente", conta Jaime, não se notem limites à informação. Todavia, está o país a ter um retrato fidedigno daquilo que se passa por trás da cerca? "Pois...", responde Luís. "Acho que tem de ser assim, com algum alarmismo.”
"Não somos um grande centro. Porto, Coimbra, Lisboa têm muito melhores condições, estão melhor preparados do que aqui em Ovar. Com o cerco sanitário, se não fosse um certo nível de alarmismo, julgo que [lá fora] não olhavam para nós, nem sequer estariam a tomar todas estas providências a contar com um cenário pior ainda do que já está."
Sem barulho, “dificilmente chegaria algum tipo de ajuda, estaríamos aqui entregues a nós”.
Afinal, ninguém escolheu ficar fechado. Coisa que a imprensa nacional nem sempre explica. ”A população sente-se um bocadinho triste” com "tantas notícias, tantos detalhes, tantos pormenores, tantas coisas que, não poucas vezes, não são as mais importantes", diz Jaime. "A ideia que aqui circula nas pessoas é que nos estão a vender como um bando de leprosos. E nós não somos nada disso."
"Fomos empurrados para esta situação por um evento fortuito, que aconteceu na cidade, que também muitos tentam fazer ligar ao Carnaval, o que toda a gente rejeita”, conta o diretor da rádio local.
"O sentimento das pessoas em Ovar é este: tivemos azar, mas soubemos estar à altura para nos defendermos. Porém, não só para nos defendermos, como — e quem está à volta tem de perceber isto — para defender os outros.”
"Isso não se coaduna com um bombardear constante de detalhes sem grande importância que foram passando", diz o jornalista, lembrando "uma fase em que só se falava das pessoas que furavam a cerca”.
“E ninguém falava das que respeitavam?”
Apesar da calma, a incerteza marca a “pintura” em que se transformou a cidade: ”Quando vejo aquelas camas todas no hospital improvisado em que foi transformada a Pousada da Juventude; quando vejo as camas que estão a ser postas no hospital de campanha para que está a ser adaptada a Arena Dolce Vita, onde a equipa de basquetebol ovarense costuma jogar; e quando vejo aquele número de camas, só me lembro de que uma destas camas pode estar reservada para mim”.
Dos primeiros casos à cerca
- A 11 de março, a câmara de Ovar confirmou os primeiros dois casos de infeção pelo novo coronavírus no concelho: trata-se de uma trabalhadora da Yazaki Saltado e da filha de 17 anos. A autarquia decidiu encerrar a Unidade de Saúde Familiar de São Vicente de Pereira, onde a jovem tivera consulta dias antes, bem como a escola onde a rapariga estudava e a escola frequentada pelo irmão mais novo.
- No dia seguinte, a câmara anuncia encerramento da Unidade de Saúde Familiar de São João de Ovar, devido à confirmação de mais um caso de infeção pelo novo coronavírus. A autarquia diz não dispor de mais dados sobre o novo doente, mas adianta que o caso "não se refere a nenhum munícipe de Ovar".
- Entretanto, a Yazaki Saltano envia para casa de quarentena os trabalhadores que estiveram em contacto direto com a colaboradora infetada. Em causa estão 59 das 2.200 pessoas que trabalham na empresa.
- No dia, 13 de março, são confirmados mais oito casos de pessoas infetadas no concelho. A câmara determina o encerramento de todos os serviços municipais, incluindo o mercado municipal.
- Três dias depois, o número de infetados sobe para 16. O executivo de Salvador Malheiro determina o encerramento de todos os serviços administrativos até ao próximo dia 3 de abril. Esta medida exceciona os serviços municipais de Proteção Civil, de Conservação e Manutenção do Espaço Publico, Cemitério, Resíduos e gestão do Ambiente, que se mantêm em estado de vigilância.
- O número de casos duplica em 24 horas. O município entra em quarentena geográfica depois de a Autoridade de Saúde Regional do Centro ter mandado encerrar todos os estabelecimentos do concelho e limitar a movimentação de pessoas no território.
- Nesse mesmo dia 17, o Governo declara o estado de calamidade pública para o município. Isto quer dizer que os residentes no município estão impedidos de sair de Ovar. Foi, então, publicado em Diário da República o despacho com “efeitos imediatos” e que vigorou até 2 de abril, determinando que dentro do município de Ovar “é interditada a circulação e permanência de pessoas na via pública, exceto para deslocações necessárias e urgentes”.
- A 18 de março, o concelho acorda isolado, com cerca de 70 postos fronteiriços e controlo de entradas e saídas. Em causa estão 40 postos controlados por cerca de 90 agentes da PSP e GNR e ainda 30 entradas obstruídas apenas por barreiras físicas.
- No dia 2 de abril fica a saber-se que o cerco sanitário será prolongado até dia 17 de abril, mas aliviam-se as restrições: é permitido o escoamento de mercadorias e o serviço de 'take-away' em restaurantes
Serviços de apoio no concelho
- A autarquia de Ovar já suspendeu, durante três meses, o pagamento das rendas nos regimes de arrendamento apoiado, o que vai permitir um apoio a 180 famílias.
- Foi reforçado também o apoio alimentar, fornecimento de refeições às pessoas que se encontram na condição de sem abrigo e em extrema vulnerabilidade, durante o fim de semana. Para além disso, o apoio em espécie às IPSS com cantina social, ao projeto “Mãos Solidárias” e às Conferências Vicentinas também reforçado.
- Para as famílias que se encontram em situação de extrema vulnerabilidade económica, a autarquia passa a fazer entregas de alimentos ao domicílio.
- No que toca aos medicamentos, a câmara oferece-se também para os pagar, mediante o envio das receitas médicas — e após a devida validação.
- Estas medidas juntam-se ao Fundo de Emergência Social, Água e Saneamento e ao Apoio ao Arrendamento Urbano para Fins Habitacionais, que serão agilizados.
- Para as pessoas em situação sem-abrigo, o município disponibiliza o balneário público de Lamarão todos os dias durante apenas duas horas (das 10 às 12). Lá, quem não tenha tecto ou viva num alojamento precário pode ter acesso a banho e mudas de roupa.
- Segundo a autarquia, não estão pensadas iniciativas para o comércio online no concelho orquestradas pelo poder municipal.
- Também a SEMA – Associação Empresarial, que representa os empresários em Ovar, não tem implementadas medidas do género.
Trinta empresas foram autorizadas a reiniciar a atividade durante o cerco
- As empresas autorizadas pelo Governo a laborar durante o estado de calamidade pública declarado em Ovar devido à covid-19 são já 30, a avaliar pelos diplomas emitidos nos últimos dias pelo Ministério da Economia e Conselho de Ministros.
- O primeiro documento relativo aos tempos de exceção que se vivem nesse município do distrito de Aveiro é a Resolução do Conselho de Ministros n.º 18-B/2020, que autoriza os fabricantes de "equipamentos de proteção e segurança" a manterem atividade durante o cerco, o que abriu caminho à retoma do funcionamento pelo menos da Bosch Secutiry Systems.
- Entretanto, segunda-feira o Ministério da Economia emitiu o Despacho n.º 4235-A/2020, alargando essa autorização especificamente à Alcobre, Bi-Silque, Cordex, Kirchhoff Automotive Portugal, Polipop, Tecnocabel, Valmet e Yazaki Saltano Ovar.
- Mais tarde, o Despacho N.º 4235-C/2020 viabilizava a laboração da Elastictek e da Exporplás, e o Despacho N.º 4270-B/2020, abrangia mais 19 empresas. São elas: a Cosmopak - Indústria de Cosméticos e Embalagens, Enfios, Ferral - José Luís & Cia., Ferromar - Comércio e Indústria de Fernando de Pinho Teixeira, Flex 2000 - Produtos Flexíveis, Fopil - Fábrica Ovarense de Plásticos Industriais, IPTE Ibéria - Automação Industrial, Jacinto Marques de Oliveira e Sucessores, Lusotufo - Indústrias Têxteis Irmãos Rolas, M. Oliveira Perfis Metálicos, Metalúrgica Falcão & Filhos, Omnicor - Manufaturas Internacionais de Cordoarias, Poly Lanema, Ramada Aços, Researchpack, Safina - Sociedade Industrial de Alcatifas, Sicor - Sociedade Industrial de Cordoaria, Sika Portugal - Produtos Construção e Indústria e Stow Ovar Manufacturing.
- O ministério da Economia refere nesse último despacho que os estabelecimentos em causa se dedicam, "na sua maioria, à produção de equipamentos ou componentes utilizados nas indústrias alimentares, de saúde e de equipamentos de proteção e segurança, sendo por isso essenciais para o regular funcionamento destas cadeias de valor". O documento realça ainda que "a interrupção da sua atividade é suscetível de impactar fortemente o funcionamento da vida comum".
- Numa publicação na rede social Facebook, o presidente da Câmara Municipal de Ovar, Salvador Malheiro, alertou que o caráter de exceção "não é justo para o pequeno e médio empresário", o que já proclamara dias antes, após várias notícias vão dando conta da insatisfação de empresas locais quanto à distinção criada entre vários setores.
- "Defendo que, depois da Páscoa, na próxima terça-feira, mantendo-se este cenário de tendência positiva dos novos casos [de covid-19], toda a indústria no município de Ovar deve poder trabalhar", defendeu o autarca. Insistindo, contudo, que "a atividade económica não pode pôr em causa a saúde pública", Salvador Malheiro declara que o Governo se deve pronunciar em despacho sobre a retoma de toda a economia local "o mais rapidamente possível, para que as empresas se possam preparar com tempo". O presidente da Câmara argumenta ainda: "Depois de tanto esforço e penalização dos nossos empresários, correspondente à aquisição de muitos ventiladores [para hospitais], é hora de começarmos a reerguer a nossa economia".
- O líder da bancada municipal de Ovar do CDS-PP, Fernando Camelo de Almeida, critica, contudo, este "circo do cerco" e as "cambalhotas políticas" de Salvador Malheiro, apontando-lhe contradições e afirmando que a autorização gradual para milhares de pessoas trabalharem no concelho "é só para [lhe] dar tempo de antena na Imprensa, para dificultar a vida aos 'pequenos' [empresários] e fomentar o estigma sobre os vareiros".
- Para demonstrar esse raciocínio, o político que é membro da direção nacional do CDS recorda: "A 02 de abril, o presidente da câmara diz que defende a manutenção do cerco para não desperdiçar todo o trabalho positivo que foi feito em Ovar, porque a situação ainda não está controlada; no dia 02 há pelo menos duas empresas que começam a laborar; dia 05 é permitida a laboração de mais oito empresas; hoje autorizam a laboração de duas e horas depois sai uma nova autorização para a laboração de mais 19".
- Com base nessa evolução, Fernando Camelo Almeida conclui: "O presidente da câmara - que, para umas coisas diz ser ouvido pelo Governo e para outras já não - vem agora dizer que defende a abertura de todas as empresas na próxima terça-feira. Tinha sido mais correto não terem renovado o cerco sanitário e tinha-se evitado toda esta trapalhada e também a injustiça intolerável para com as pequenas e médias empresas".
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