Em declarações à Lusa depois da reunião da Comissão Política do PAN — que arrancou na tarde de sábado e terminou durante a noite –, Inês de Sousa Real afirmou que o partido decidiu “promover a auscultação dos filiados e filiadas” para que se possam exprimir “quer em relação aos resultados eleitorais, quer em relação à estratégia” do partido.
Depois de o ainda deputado Nelson Silva ter pedido a organização de um Congresso eletivo para “apurar responsabilidades” pelo resultado das eleições legislativas — o PAN perdeu o grupo parlamentar e voltou a ter um único deputado –, Sousa Real disse que essa possibilidade “não ficou afastada”, mas reiterou que é necessário ouvir as bases “para perceber se daqui resulta também essa sua vontade”.
Numa reunião em que se debateram as responsabilidades pela perda de mandatos, Inês de Sousa Real afirmou que houve “múltiplos fatores” que concorreram para o resultado do PAN, designadamente o “receio pela ascensão da direita”, a “questão do voto útil” e as “polémicas” que procuraram “pôr em causa o trabalho do partido”.
No entanto, a porta-voz — que, durante a campanha, mostrou-se disponível para entendimentos com o PS ou PSD — reconheceu também não ter conseguido explicar que, apesar de o PAN não se acantonar “na dicotomia de esquerda-direita”, isso não significava que estava disponível “para viabilizar qualquer Governo”, afirmando que nunca apoiaria um executivo apoiado pela extrema-direita ou que avançasse em matérias como a “eucaliptização do país”.
“Aquilo que foi um erro foi a forma de comunicação, porque claramente as pessoas não perceberam aquilo que nós estávamos a tentar dizer. O PAN nunca se mostrou disponível para viabilizar qualquer Governo. (…) Por alguma razão, a mensagem não passou, e, portanto, temos que, de alguma forma, de nos reestruturar, temos que pensar estrategicamente também naquela que é a nossa forma de comunicar”, indicou.
Inês de Sousa Real afirmou que, durante a reunião da Comissão Política, os restantes membros mostraram confiança na sua liderança, e designadamente no “caminho da auscultação das bases”, e sublinhou que houve uma “reflexão em relação àquilo que possa ter corrido menos bem ao longo destes anos”.
Reconhecendo que ouviu “críticas”, a porta-voz indicou, no entanto, que as críticas apontadas “se estendem para lá esta direção”, e que se traduzem também “num trabalho que foi feito anteriormente” à sua liderança.
Sousa Real reforçou que a sua direção tem “apenas sete meses”, o que considera ser um período insuficiente para conseguir implementar uma “estratégia política quer interna, quer externamente”.
“O PAN não é um partido presidencial, é um partido horizontal, em que os seus órgãos, de forma colegial, tomam as decisões. E, portanto, não faz qualquer sentido que este órgão coletivo que foi eleito há sete meses, não tenha uma oportunidade de mostrar a sua visão, de implementar aquilo que é a sua estratégia para o partido e para o país”, frisou.
A porta-voz reconheceu tratar-se de um “momento difícil do ponto de vista interno” — porque “nenhum partido gosta de ver o decrescimento da sua representação na Assembleia da República –, mas sustentou que a auscultação das bases é o “caminho da união” que permitirá ao partido “sair mais forte e consolidado deste momento”.
Sublinhando que esse processo é uma estreia para o partido — que, desde a sua fundação há 11 anos, disse ter funcionado sobretudo por “via representativa e não por via direta” — a porta-voz defendeu que visa fazer com que o partido seja “o mais democrático, aberto, plural e transparente possível”.
“Entendemos que esta é uma reflexão que tem que incidir e envolver todas as pessoas de forma transparente, de forma próxima”, frisou.
Comentários