Para o presidente turco, a cerimónia ofendeu não so só os cristãos mas toda a humanidade ao incluir um espetáculo LGBT. “Uma atividade desportiva que deveria unir a humanidade foi, infelizmente, inaugurada com um ato inimigo dos valores humanos”, afirmou Erdogan numa reunião do seu partido em Ancara.
“Os Jogos Olímpicos tornaram-se um instrumento de perversão que destrói a natureza humana, subverte a família e ameaça a segurança das gerações futuras”, acrescentou.
“O que foi feito em Paris propõe arrastar o ser humano, a mais nobre das criações, para um nível inferior ao dos animais. A cena infame de Paris ofende não só a família católica, não só o mundo cristão, mas também a nós", disse.
“Telefonarei ao Papa assim que tiver oportunidade”, acrescentou.
Erdogan referiu que o Presidente francês, Emmanuel Macron, o convidou a participar no evento e que inicialmente aceitou, mas mudou de ideias depois de uma neta sua, de 13 anos, lhe ter telefonado a avisar que haveria um espetáculo LGBT.
A homossexualidade é legal na Turquia desde 1858 e, embora exista uma vibrante comunidade gay e lésbica nas principais cidades, como Istambul e Ancara, é repudiada pelos setores mais conservadores da sociedade e, em especial, pelo AKP, o partido de Erdogan.
Nas últimas eleições gerais, no ano passado, concorreram vários candidatos transgénero, sem ganharem lugares, e o próprio Erdogan convidou várias vezes o cantor e diva transgénero Bülent Ersoy para jantares oficiais durante o mês sagrado do Ramadão.
Por outro lado, o líder supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, denunciou a cerimónia pela inclusão de imagens de um grupo numa mesa, com várias drag queens, que faziam lembrar a Última Ceia.
“O respeito por #JesusCristo é um assunto indiscutível (...) para os muçulmanos. Condenamos estes insultos dirigidos contra as figuras sagradas das religiões divinas, incluindo Jesus Cristo #Olimpíadas2024", escreveu a conta oficial do ayatollah Khamenei no X.
Durante a cerimónia de abertura, em 26 de julho, causou polémica uma sequência intitulada “Festivity”, que começou com a imagem de um grupo à mesa, incluindo várias drag queens famosas, evocando a última refeição de Jesus com os seus apóstolos.
Liderados pela DJ francesa Barbara Butch, uma ativista feminista e lésbica, vários modelos, incluindo a mulher transgénero Raya Martigny, entraram depois na passerelle.
Houve quem interpretasse o ato como uma zombaria da Última Ceia.
Em 27 de julho, um grupo de bispos franceses emitiu uma declaração condenando o que consideraram “cenas de escárnio e de troça do cristianismo”.
Desde então, muitas outras figuras e instituições religiosas, incluindo as islâmicas, bem como vários líderes e funcionários internacionais, incluindo o antigo Presidente dos EUA, Donald Trump, condenaram a cerimónia.
Os organizadores, por seu lado, garantiram que “nunca houve qualquer intenção de desrespeitar qualquer grupo religioso”.
“Se as pessoas se sentiram ofendidas, é claro que lamentamos muito, muito”, disse Anne Descamps, porta-voz dos Jogos Olímpicos de Paris 2024.
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