O pronunciamento é simbólico, mas gerou condenações internacionais e críticas por parte da Autoridade Palestiniana, antes da viagem do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, a Washington, na próxima semana.

A Casa Branca informou que está prevista uma reunião com o presidente Joe Biden caso ele esteja recuperado da covid-19. O governo democrata adiantou, no entanto, que a criação de um Estado palestiniano "não é algo a que o presidente Biden vá renunciar", ressalvou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby.

Netanyahu enfrenta há meses a pressão do seu principal aliado, os Estados Unidos, que, juntamente com Qatar e Egito, têm mediado as negociações para obter uma trégua em Gaza e a libertação de reféns. Mas o primeiro-ministro israelita insistiu nesta semana em que "é o momento de aumentar ainda mais a pressão" sobre o movimento islamista palestiniano Hamas.

As suas tropas intensificaram nos últimos dias os bombardeamentos sobre a Faixa de Gaza, que deixaram centenas de mortos na última semana, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas.

A resolução aprovada durante a madrugada pelo Parlamento israelita (Knesset) afirma que a criação de um Estado palestiniano, em territórios ocupados por Israel, "perpetuaria o conflito" e "desestabilizaria a região".

"A Knesset de Israel opõe-se firmemente à criação de um Estado palestiniano a oeste do rio Jordão", porque "representaria um risco existencial para o Estado de Israel e os seus cidadãos".

O texto foi aprovado por 68 votos, num Parlamento de 120 cadeiras, e afirma que "promover" um Estado palestiniano encorajaria "o Hamas e os seus apoiantes", após o ataque do movimento islamista em 7 de outubro, quando comandos do Hamas mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo uma contagem baseada em dados oficiais israelitas.

O Ministério da Saúde do governo do Hamas em Gaza anunciou nesta quinta-feira que 38.848 pessoas morreram no território palestiniano desde o início da guerra.

A Autoridade Palestiniana, que exerce administração parcial na Cisjordânia ocupada, afirmou que "não haverá paz nem segurança para ninguém sem o estabelecimento de um Estado palestiniano", e acusou a coligação de extrema direita que governa Israel de "mergulhar a região em um abismo".

A França expressou a sua "consternação" pelo voto que afirmou "contradizer as resoluções adotadas pelo Conselho de Segurança da ONU". Egito e Jordânia também condenaram a aprovação do texto.

A criação de um Estado palestiniano nos territórios ocupados por Israel após a Guerra dos Seis Dias em 1967 manteve-se por décadas como um símbolo dos esforços diplomáticos da comunidade internacional para resolver o conflito.

Os Acordos de Oslo na década de 1990 permitiram a criação da Autoridade Palestiniana e o seu objetivo era avançar uma negociação para a criação de um Estado palestiniano. O secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou-se também dececionado com a resolução israelita desta quinta-feira.

Todas as instalações de saúde no sul da Faixa de Gaza estão em um "ponto de rutura" devido ao fluxo de vítimas dos bombardeamentos israelitas, declarou o Comité Internacional da Cruz Vermelha.

A guerra também destruiu grande parte das casas e infraestrutura do território, deixando quase toda a população sem comida ou água potável, e levou ao ressurgimento do vírus causador da poliomielite. Autoridades sanitárias da Faixa de Gaza e de Israel confirmaram a deteção do vírus em águas residuais.