Segundo Bárbara Bulhosa, num post que fez na sua conta de Facebook, da lista de livros selecionados pela Tinta-da-China para figurarem na Festa do Avante foi "retirado o diário de prisão do Luaty Beirão, com o argumento que incomodaria os camaradas do MPLA que irão á Festa".
Bárbara Bulhosa completou o desabafo, dizendo que "é uma tristeza verificar que para o PCP os presos políticos continuam a ter nacionalidade, e que os que interessam são só os nossos, durante o Estado Novo".
Contactada pelo SAPO24, a Tinta-da-China clarificou que a informação foi avançada "num post pessoal da Bárbara [Bulhosa] e não da Tinta-da-China". A editora confirmou, contudo, que após ter feito "uma sugestão de uma lista de livros para estar à venda" o PCP "informou a Tinta-da-China" que havia alguns livros que "preferiam não vender e um deles era o do Luaty". A editora advertiu ainda que Bárbara Bulhosa se encontra de férias, pelo que remeteu mais esclarecimentos num futuro próximo.
O livro, intitulado “Sou Eu Mais Livre, Então”, é um diário que Luaty Beirão, rapper e ativista luso-angolano, manteve durante 13 dias enquanto esteve detido preventivamente na prisão de Calomboloca, em Angola.
A detenção de Luaty Beirão e de outros 16 activistas ocorreu sob o pretexto de conspiração contra o Presidente de Angola, mandato na altura ocupado por José Eduardo dos Santos, que também é o líder do partido Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). O caso foi amplamente noticiado, especialmente quando Luaty Beirão iniciou uma greve de fome de 36 dias que o levou a ser assistido num hospital de Luanda.
O grupo acabou por ser libertado a 29 de junho de 2016 por decisão do Tribunal Supremo e depois da pressão da comunidade internacional, tendo depois sido foi alvo de uma amnistia presidencial.
Em resposta a este caso, o PCP enviou um comunicado oficial ao SAPO24, dizendo que a "A 'Festa do Livro' que marca presença na Festa do Avante! é da responsabilidade da Editora 'Página a Página' que assume os seus próprios critérios e opções editoriais quer quanto às editoras convidadas quer quanto aos títulos à venda". O Partido Comunista adianta ainda que "pela expressão e reconhecimento que o espaço granjeou ao longo de quatro décadas, expôs milhares de títulos, de largas dezenas de editoras, é natural que a editora responsável observe critérios seus de qualidade e seriedade nos títulos que põe à disposição dos visitantes".
Em resposta ao post de Bárbara Bulhosa e à confirmação da Tinta-da-China, o PCP diz rejeitar " operações difamatórias vindas de quem sem crédito se move pelo preconceito e o mais primário anticomunismo."
O SAPO24 tentou contactar a editora Página a Página - que para além da Festa do Avante é responsável pela por feiras do livro na Gare do Oriente e em parceria com autarquias como Almada ou Loures -, mas não obteve qualquer resposta.
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