No primeiro dos três dias do 22.º Congresso do PCP, que se realiza em Almada, a intenção de ouvir militantes e simpatizantes sobre a vida do partido rapidamente se transforma numa odisseia marcada por várias respostas negativas, com vários dos delegados e convidados a alegarem não poderem ou não quererem partilhar a sua leitura dos tempos que o partido vive.
Mas houve quem aceitasse, e entre os comunistas ouvidos pela agência Lusa à porta do Complexo Municipal dos Desportos “Cidade Almada” há uma análise comum: a comunicação social, por motivos estratégicos ou preconceitos entranhados, dizem, orquestra uma campanha contra o partido e é a principal responsável por uma eventual degradação da imagem pública do PCP.
Vítor Duarte, metalúrgico aposentado, de 67 anos, é militante e participa no congresso como convidado. Diz que é “evidente” a “fase complicada” que o partido atravessa e garante “ter as suas ideias, que não irá expor”, mas não hesita em atirar na direção do que diz ser uma “campanha atroz da comunicação social que faz tudo e mais alguma coisa para denegrir” a imagem do PCP.
“Há partidos que à menor coisinha que possam dizer ou fazer são enaltecidos, e nós fazemos a mesma coisa e somos esquecidos, somos postos para canto”, lamenta, para depois assumir que há alguma responsabilidade própria e que “quanto menos militância houver, mais fraco” estará o partido e “mais dificuldade terá para fazer passar a mensagem”.
Gonçalo, estudante, 24 anos, delegado pela Juventude Comunista Portuguesa (JCP), garante que os resultados eleitorais do partido não estão esquecidos, mas rapidamente passa para responsabilizar “uma campanha declarada contra o partido” orquestrada pelo grande capital em conjunto “com a comunicação social que domina”.
“Procuram atingir o PCP, porque veem no PCP a principal força de defesa dos trabalhadores”, argumenta.
O estudante garante que o partido também tem responsabilidades, mas não se arrisca a enumerá-las, limitando-se a enfatizar a necessidade de uma maior capacidade de recrutamento e, como outros ouvidos pela agência Lusa, a reservar esse tipo de apreciações para o debate interno.
Também delegada pela JCP Clara, de 21 anos, reitera a ideia de que uma das grandes batalhas do PCP é travada com a comunicação social, mas prefere que o partido se foque em perceber como aprofundar a relação e a intervenção junto dos trabalhadores e da juventude, para aumentar a sua influência.
A jovem comunista acredita que, neste momento, procurar culpados pelo declínio do PCP é um assunto secundário e que o partido deve focar-se no que “vai fazer amanhã” e em definir as principais linhas da sua ação.
Henrique Chester, aposentado, de 72 anos, não é militante, mas veio até Almada como “amigo do partido”. Tem dificuldades em culpar o partido pelo seu enfraquecimento nas urnas e acredita que “não há grandes mudanças a fazer” na ação política do PCP.
Repete a ideia de que é da comunicação social grande parte da responsabilidade e a culpa pelos resultados dos comunistas, pelos seus “preconceitos imbuídos” que denigrem a imagem do partido.
Henrique diz que não lhe “parece que haja grandes falhas” na comunicação da mensagem do partido e acredita também que o partido recuperará a relevância que já teve no passado. Esta fase, considera, “é passageira” e resulta de mudanças na organização e comportamentos da sociedade.
No último ano o partido, com exceção das regionais na Madeira de setembro de 2023 e das dos Açores de fevereiro de 2024, perdeu sempre eleitores e, desde 2020, perdeu cerca de dois mil militantes, não tendo um aumento no número das adesões compensado essas perdas.
O PCP iniciou hoje, em Almada, o seu 22.º Congresso, que conta com a participação de cerca de 1.040 delegados e arrancou com um discurso do secretário-geral do partido, Paulo Raimundo.
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