No encerramento de uma audição pública sobre o Plano Ferroviário Nacional, Paulo Raimundo referiu-se ao programa de investimentos Ferrovia 2020, questionando “por que está concluído apenas 15% quando passaram dois anos da data em que estava prevista a conclusão”.

“A primeira razão é uma evidência, que é o ‘enrolanço’ do PS, com aquele sucessivo adiar de investimentos, com aproveitar este ou aquele projeto, aquela obra, para inauguração da primeira pedra, para inauguração da pedra e meia, do troço, do troço e meio, e por aí fora”, criticou.

O secretário-geral comunista considerou que esta “é uma parte importante da justificação para apenas 15% deste plano estar concretizado dois anos depois da data prevista para ter acabado”, mas apontou que, “até mais preocupante do que a política de propaganda do PS, aquilo que é mais decisivo, é que foi retirada ao país a capacidade produtiva e de executar obras desta dimensão e investimentos desta dimensão nos prazos que estão previstos”.

“Este é que é o problema central”, salientou, defendendo que “falta a estrutura que foi desmantelada durante anos a fio, faltam os trabalhadores que entretanto saíram dos seus lugares e não foram substituídos, faltam ferroviários, faltam alterações de fundo nas opções mais amplas para o país e faltam comboios no Plano Ferroviário Nacional”.

Na sua intervenção no final da audição pública promovida pelo PCP, que decorreu no Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa, Paulo Raimundo apontou o que na sua opinião são as falhas deste plano.

“Salta logo à vista uma questão evidente, é que é um Plano Ferroviário que deixa de fora os ferroviários, como se isso fosse possível. Os ferroviários, os conhecedores, aqueles que têm a mão na massa, os que põem literalmente a máquina a carburar, esses, com todo o seu conhecimento e toda a sua experiência, com toda a riqueza do seu contributo, esses ficam de fora”, criticou.

E considerou que “não é possível avançar para nenhum plano de forma responsável, com horizonte a médio e longo prazo, deixando de fora os ferroviários”.

O líder do PCP defendeu que é necessário “formar, motivar e valorizar os ferroviários, falta e é urgente valorizar as carreiras e aumentar os salários”, o que considerou ser “uma emergência nacional em todos os setores”.

Paulo Raimundo apontou também a necessidade de “uma opção política estruturante também ao nível do financiamento da CP”, além de “acabar com a externalização de serviços”, sustentando que quando as empresas “são devidamente financiadas obtêm resultados operacionais equilibrados”,

“Neste Plano Ferroviário Nacional faltam também as empresas dos ferroviários. Falta a crítica ao processo de fragmentação da CP e o apontar de um caminho para a reconstrução de uma forte e una empresa ferroviária nacional, falta um balanço ao desastre da fusão da EP com a REFER e apontar um caminho para desfazer tal enguiço, falta a clara identificação da necessidade de reforçar a engenharia ferroviária, para recuperar capacidade de projeto, de fiscalização e de execução da obra”, acrescentou.

Raimundo alertou que "o Plano Ferroviário Nacional arrisca-se a ser apenas mais um planozinho, mais uma operação de propaganda, que coloca o país a discutir hipóteses na teoria enquanto a ferrovia, na prática, continua a degradar-se e todos os dias a empobrecer”.

Referindo-se ainda à situação dos trabalhadores dos bares da CP, o secretário-geral do PCP afirmou que é um "escândalo mais de uma centena de trabalhadores já com três meses de salários em atraso" e defendeu que a "resolução do problema está apenas na caneta do ministro das Finanças".

Paulo Raimundo considerou que este tema "pode não ter a mesma dimensão de impacto público" e mediático daquilo que é conhecido na comissão parlamentar de inquérito à TAP, "mas tem uma consequência muito gravosa na vida de centenas de pessoas".