Num discurso no 22.º Congresso do PCP, João Oliveira salientou que o período que decorreu desde a última reunião magna do partido, em 2020, “foi difícil e exigente”, devido à “degradação das condições de vida, à agudização das desigualdades e injustiças sociais, os preocupantes desenvolvimentos da situação internacional, em especial a pandemia e a escalada de confrontação e guerra”.

A esses elementos “particularmente negativos”, o eurodeputado do PCP referiu que se acrescentou ainda uma “violenta ofensiva contra o partido”, “com o objetivo de condicionar ou mesmo impedir” a sua ação e afirmação das suas posições políticas.

João Oliveira defendeu que o partido enfrentou “todas essas batalhas com a coragem e a determinação que caracterizam o PCP e a luta de mais de 100 anos dos comunistas portugueses”.

“Queriam-nos derrotados e em debandada, mas encontraram-nos firmes e unidos. Queriam-nos calados, encolhidos e isolados, mas encontraram-nos inconformados, determinados, a apontar o caminho ao encontro das massas e a confirmar, com elas, a força e a razão de ser das nossas condições”, afirmou, numa intervenção que levantou os delegados presentes no Congresso.

A intervenção de João Oliveira foi das mais aplaudidas do Congresso, só superada pelo discurso de abertura do secretário-geral, Paulo Raimundo, na sexta-feira, e do antigo líder Jerónimo de Sousa.

Jerónimo de Sousa: “O que a História nos diz é que o PCP, perante as maiores das dificuldades e adversidades que enfrentou, encontrou sempre força para se erguer e avançar"

Também presente no congresso, o ex-secretário-geral do PCP Jerónimo de Sousa recorreu hoje à História do último século para sustentar a tese de que os comunistas enfrentaram em vários momentos conjunturas extremamente adversas, sucederam-se as direções, mas sempre souberam erguer-se.

“O que a História nos diz é que o PCP, perante as maiores das dificuldades e adversidades que enfrentou, encontrou sempre força para se erguer e avançar e cumprir os seus compromissos com os trabalhadores e o povo”, declarou Jerónimo de Sousa no discurso que proferiu na manhã do segundo de três dias do Congresso Nacional do PCP, em Almada.

Numa intervenção de dez minutos, que foi aplaudida de pé pelos delegados comunistas e em que assumiu as dificuldades atuais do seu partido face a um processo “contrarrevolucionário que já dura há 48 anos”, Jerónimo de Sousa procurou sobretudo desdramatizar as condições do tempo do presente e transmitir uma mensagem de confiança em relação ao futuro.

“Quem olhar para a história do PCP verificará que, desde os longínquos anos da sua fundação, nunca teve uma vida fácil, mas nunca desistiu. Ilegalizado quase à nascença, não aceitou a sentença da sua liquidação e partiu para a luta pela conquista da liberdade e da democracia, correndo os maiores riscos e atravessando as mais tenebrosas conjunturas”, referiu.

Sobre os últimos anos da política nacional, o anterior líder não se pronunciou sobre a experiência da “Geringonça”, tempo em que liderou o PCP, com o partido a apoiar no parlamento executivos minoritários do PS. Falou apenas em termos globais, dizendo que “o Governo da AD (Aliança Democrática), com as costas quentes da Iniciativa Liberal e do Chega, quer levar mais longe” o processo contrarrevolucionário em Portugal.

Depois, fez uma defesa vigorosa sobre a utilidade da ação do PCP. “Onde não iria a liquidação das conquistas de Abril e do regime democrático, a própria exploração do trabalho, que seria mais profunda, se não fosse a luta constante, firme e leal do PCP?”, perguntou.

Paula Santos: “Todos os dias, a vida comprova, como é negativa para os trabalhadores e o povo a redução do número de deputados comunistas"

A líder parlamentar, Paula Santos, apontou, por seu lado, que as maiores dificuldades enfrentadas pelos comunistas “resultam da atual correlação de forças mais favorável ao grande capital” e que o partido precisa de perceber como superar as dificuldades e como “a intervenção dos deputados comunistas pode ser mais eficaz para a defesa dos interesses dos trabalhadores”.

“Todos os dias, a vida comprova, como é negativa para os trabalhadores e o povo a redução do número de deputados comunistas. São precisos mais para defender quem trabalha e vamos ter mais. E até lá, vamos lutar com todas as nossas forças”, sublinhou.

Paula Santos argumentou que o PCP avança nessa missão com a consciência do que diz ser “uma ofensiva contra o partido, a mentira e o silenciamento” e com “uma estrita ligação à realidade concreta” para dar “voz às aspirações dos trabalhadores e das populações”.

No parlamento, garantiu, os comunistas não perdem oportunidades “para avançar com soluções” e confrontar o Governo, enquanto outras forças políticas, na opinião da líder parlamentar do PCP, “procuram desviar a atenção do que é central para ocultar o seu comprometimento com os grupos económicos, que servem e de quem dependem”.

“Não alinhamos no compadrio do PS ao PSD, CDS, Iniciativa Liberal e Chega para favorecer os grupos económicos que exploram e acumulam riqueza à custa de quem trabalha e de quem trabalhou uma vida inteira”, atirou.

A deputada comunista lembrou as propostas do partido no âmbito da discussão orçamental e as iniciativas discutidas e chumbadas esta semana no sentido de aumentar o salário mínimo para mil euros.

Paula Santos argumentou que a intervenção do PCP no parlamento “pode e deve ser potenciada como um instrumento para afirmar a política alternativa” proposta pelos comunistas.

“A pergunta, o projeto de lei, constitui um elemento de agitação para o desenvolvimento da luta, não desperdiçando espaços de ação, de esclarecimento e conhecimento sobre o que defendemos”, sublinhou.

Antes, interveio Jorge Pires, membro da Comissão Política do Comité Central do PCP, que criticou o que diz ser uma “ofensiva política e ideológica contra o direito ao ensino e à escola pública”.

“Uma ofensiva que tem na sua matriz uma aposta muito forte no objetivo de manter o ensino como aparelho de reprodução do capitalismo para recriar as condições materiais e ideológicas da sua própria existência”, disse.

O dirigente comunista opôs-se ainda ao que diz serem insinuações de que “os professores podem vir a ser substituídos por máquinas cada vez mais poderosas e inteligentes” por considerar que “muitas das tecnologias da moda, em particular a inteligência artificial, ameaçam uma educação culta, criativa e humana”.

O PCP iniciou na sexta-feira o seu 22.º Congresso, que conta com a participação de cerca de 1.040 delegados e que arrancou com um discurso do secretário-geral do partido, Paulo Raimundo.

Os delegados elegem hoje a nova composição do Comité Central do partido, órgão máximo entre congressos, que deverá consagrar uma direção com menos membros, mais jovem e com mais mulheres.