“É muito lamentável que as pessoas tenham sido mortas por terem saído à rua para expressar as suas preocupações sobre o país (…). Condenamos os assassinatos e pedimos às agências de segurança que garantam a proteção dos manifestantes”, afirmou, por telefone, à agência de notícias espanhola EFE, Olawale Okunniyi, chefe de coordenação da Frente Unida da Sociedade Civil (UFCS), um dos grupos que lideram os protestos.
Okunniyi denunciou a “má gestão” dos agentes de segurança e disse que as mortes dos manifestantes mostram “falhas operacionais”.
“Dizemos ‘não’ àqueles que ontem se fizeram passar por manifestantes para levar a cabo atos destrutivos”, acrescentou a mesma fonte.
A sua organização, garantiu, “nunca apoiará aqueles que tentam desacreditar os protestos saqueando gabinetes governamentais e atacando esquadras de polícia”, sublinhou.
“Este não é o nosso objetivo e tem de acabar”, disse, referindo-se às tentativas de algumas pessoas que estavam no protesto de terem acesso à Assembleia Nacional e à zona em redor do Sokunniyi, adiantando que a morte dos manifestantes não impedirá a continuação das manifestações, que são impulsionadas especialmente pelos jovens através das redes sociais, como aconteceu recentemente no Quénia, e que deverão durar dez dias.
Milhares de jovens saíram à rua na quinta-feira para protestar contra o elevado custo de vida e a inflação recorde do país, em manifestações na sua maioria pacíficas.
As escolas, os bancos e os mercados permaneceram encerrados face aos protestos, que tiveram lugar em cidades como a capital, Abuja (centro), a grande cidade comercial do país, Lagos (sudoeste), e as cidades de Enugu (no leste) e Kano (no norte).
Várias cidades da Nigéria estão hoje a viver um segundo dia de protestos, incluindo Lagos, onde os jovens se reuniram no Parque Gani Fawehinmi, rodeados por polícias fortemente armados e veículos blindados, constatou a EFE no local.
“Não vamos parar até que o Governo tome as medidas adequadas”, afirmou Tunde Ajayi, 20 anos, em declarações à EFE, erguendo os punhos no ar.
O custo de vida na Nigéria tem aumentado desde que o Presidente, Bola Tinubu, chegou ao poder, em maio de 2023, com a inflação a atingir um máximo histórico de 33,95% em junho passado.
Esta situação fez subir os preços de produtos básicos como o arroz, o milho e o inhame, tornando-se incomportáveis para muitos nigerianos.
Todas as medidas de Tinubu – como a distribuição gratuita de cereais e o aumento do salário mínimo – não conseguiram atenuar o impacto na população de medidas como a supressão do subsídio aos combustíveis.
A Nigéria é o país mais populoso de África (mais de 213 milhões de pessoas) e também um dos seus principais produtores de petróleo, bem como uma das maiores economias do continente.
No entanto, quatro em cada dez nigerianos vivem abaixo do limiar da pobreza, de acordo com o Banco Mundial.
A inflação é, de facto, uma das causas da grave crise de desnutrição nos estados do norte do país, que levou a um “aumento sem precedentes de admissões de crianças gravemente desnutridas” com complicações potencialmente fatais, segundo os Médicos Sem Fronteiras (MSF), em junho passado.
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