Segundo o relatório da plataforma de monitorização eleitoral Decide, entre 13 e 20 de novembro, período de novos protestos convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, sete mortes foram registadas na província de Nampula (norte), duas na Zambézia e três em Manica (centro), dez na província de Maputo e cinco na cidade capital (sul).

Do total de 39 pessoas baleadas, 10 foram registadas em protestos em Nampula, cinco na Zambézia, dez em Manica, além de quatro na província de Maputo e mais cinco na capital, indicou ainda a organização não-governamental.

Aquela plataforma contabiliza ainda 198 detidos, 48 dos quais em Maputo (cidade e província), 34 em Sofala (centro), 30 em Manica e 25 na Zambézia.

Mondlane apelou aos moçambicanos para cumprirem três dias de luto nacional até sexta-feira, pelas “50 vítimas mortais” nas manifestações pós-eleitorais, incluindo uma paragem e buzinão de automóveis por 15 minutos.

“Vamos parar todas as viaturas e buzinar em homenagem aos nossos heróis (…) os que não têm viaturas, das 12:00 às 12:15 [das 10:00 às 10:15 em Lisboa], levantem cartazes, da reposição da verdade eleitoral, nos semáforos, no meio das ruas, como se fossem sinaleiros”, apelou Mondlane, anunciando uma nova fase de contestação aos resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro.

As vítimas foram “baleadas pelas autoridades que as deviam proteger”, lamentou o candidato.

“Não é de qualquer maneira que morrem 50 pessoas e a sociedade fica impávida e serena”, afirmou Mondlane.

Os manifestantes “morreram como heróis, como mártires de uma revolução”, acrescentou.

Mondlane contesta a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições e que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse na terça-feira que se registaram nos “últimos dias” mais de 200 manifestações pós-eleitorais que provocaram 807 feridos e 19 mortos.

“Apelo para que os mais jovens, repito os mais jovens, adolescentes e crianças, não sejam mais usados para disputas que devem-se resolver nas instituições, nos momentos próprios”, afirmou Nyusi, numa mensagem à nação, de cerca de 45 minutos, sobre a “situação do país no período pós-eleitoral”.

O chefe de Estado apresentou um “balanço preliminar”, apontando que “nestes últimos dias ocorreram mais de 200 manifestações marcadas pela vandalização de bens públicos e privados, roubo, saques em estabelecimentos comerciais, queima de pneus [e] bloqueio das vias públicas”.

“Estes dados dizem respeito à consequência indireta da onda de violência. Mas os tumultos provocaram danos diretos nas pessoas. Em consequência, ficaram feridos 807 cidadãos, dos quais 66 membros da PRM [Polícia da República de Moçambique]. Lamentamos a perda da vida de 19 concidadãos, cinco dos quais membros da PRM”, disse ainda.

Sublinhando as irregularidades das manifestações e protestos, Nyusi apelou, no entanto, à polícia para privilegiar a contenção e “uma intervenção não violenta”.

“Devem continuar a servir o seu povo. O recurso ao uso da força deve ser apenas em situações extremas para defender vidas e a economia nacional. Não queremos que ocorram situações de que todos sairemos a perder”, disse o Presidente.