O porta-voz da polícia, Olumuyiwa Adejobi, disse hoje à agência de notícias francesa AFP que mais de 90 manifestantes “foram detidos com bandeiras russas”.
Num comunicado publicado nas redes sociais, o porta-voz do serviço de informações internas da Nigéria (DSS) disse que o DSS tinha “detido alguns alfaiates no Estado de Kano responsáveis pelo fabrico das bandeiras russas distribuídas na região”, e que estava a conduzir uma investigação.
Milhares de pessoas têm-se reunido na Nigéria desde quinta-feira para protestar contra a subida dos preços e a má governação, numa altura em que o país mais populoso de África atravessa a sua pior crise económica desde há uma geração.
Segundo a agência espanhola EFE um total de 873 pessoas foram presas até agora, segundo as autoridades.
A mobilização diminuiu nos dias que se seguiram à repressão policial, mas centenas de manifestantes ainda saíram às ruas na segunda-feira nos estados do norte, nomeadamente Kaduna, Katsina e Kano, bem como no estado de Plateau, no centro do país.
Jornalistas da AFP e testemunhas viram alguns manifestantes a agitar bandeiras russas, um gesto fortemente condenado pelo chefe do exército nigeriano.
O Norte da Nigéria tem laços culturais, religiosos e socioeconómicos estreitos com os países vizinhos da região do Sahel, que assistiram recentemente a uma série de golpes de Estado liderados por militares aliados da Rússia.
“Os indivíduos que treinam outros para transportar bandeiras russas na Nigéria, a soberania da Nigéria, estão a atravessar a linha vermelha e não o aceitaremos”, avisou o Chefe do Estado-Maior do Exército, general Christopher Musa, num briefing em Abuja, na segunda-feira.
Por seu lado, a embaixada russa na Nigéria negou qualquer envolvimento no caso. “O Governo da Federação Russa e os funcionários russos não estão envolvidos nestas atividades e não as coordenam de forma alguma”, declarou a embaixada, num comunicado publicado no seu sítio da Internet.
“As intenções de alguns manifestantes de agitar bandeiras russas são escolhas pessoais e não refletem de forma alguma a posição oficial ou a política do Governo russo nesta matéria”, acrescentou.
Na semana passada, a ONG Amnistia Internacional acusou a polícia de ter matado pelo menos 13 manifestantes no primeiro dia de protestos, enquanto a polícia nigeriana afirmou que sete pessoas tinham morrido, negando qualquer responsabilidade.
Num discurso transmitido pela televisão no domingo, o Presidente Bola Ahmed Tinubu apelou ao fim das manifestações e ao “fim do derramamento de sangue”, mas os organizadores dos protestos prometeram continuar a mobilização.
O custo de vida na Nigéria tem aumentado desde que o Presidente chegou ao poder, em maio de 2023, com a inflação a atingir um máximo histórico de 33,95% em junho passado.
Esta situação fez subir os preços de produtos básicos como o arroz, o milho e o inhame, tornando-se incomportáveis para muitos nigerianos.
Todas as medidas de Tinubu – como a distribuição gratuita de cereais e o aumento do salário mínimo – não conseguiram atenuar o impacto na população de medidas como a supressão do subsídio aos combustíveis.
A Nigéria é o país mais populoso de África (mais de 213 milhões de pessoas) e também um dos seus principais produtores de petróleo, bem como uma das maiores economias do continente.
No entanto, quatro em cada dez nigerianos vivem abaixo do limiar da pobreza, de acordo com o Banco Mundial.
A inflação é uma das causas da grave crise de desnutrição nos estados do norte do país, que levou a um “aumento sem precedentes de admissões de crianças gravemente desnutridas” com complicações potencialmente fatais, segundo os Médicos Sem Fronteiras (MSF), em junho passado.
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