Perguntas e respostas sobre o uso de máscaras como forma de contenção da pandemia da covid-19:
Como é que as máscaras protegem do contágio com covid-19?
As máscaras faciais cobrem as mucosas da boca e do nariz por onde o novo coronavírus pode infetar o corpo humano. O coronavírus espalha-se através de gotículas expelidas a partir do nariz e boca quando uma pessoa infetada tosse ou expira.
Quando uma pessoa infetada usa máscara, contem a propagação das gotículas pelo ar, do mesmo modo que uma pessoa não infetada com máscara está a limitar os pontos de entrada do vírus: boca e nariz estão protegidas, mas não os olhos.
As gotículas podem atingir a cara de outra pessoa que esteja a menos de um metro de uma pessoa infetada. O vírus pode ainda ser transportado nas mãos se se tocar numa superfície onde tenham aterrado essas gotículas. O novo coronavírus e a maneira como contagia ainda não são totalmente compreendidas e a investigação científica sobre a covid-19 é contínua.
Que cuidados deve ter-se ao colocar e usar uma máscara de proteção?
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que as mãos devem ser lavadas com uma solução alcoólica ou com água e sabão antes de colocar a máscara. A boca e nariz devem ficar cobertas, sem folga entre a máscara e a cara. As mãos não devem tocar o tecido.
A máscara deve ser substituída se ficar húmida e as descartáveis não devem ser reutilizadas. As máscaras devem ser retiradas de trás para a frente, sem tocar na parte dianteira e colocadas num contentor fechado de lixo indiferenciado. Nunca devem ser colocadas em ecopontos. Depois disso, devem lavar-se novamente as mãos com solução alcoólica ou água com sabão.
Qual é a posição da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o uso generalizado de máscaras de proteção?
A organização só considera essencial o uso de máscaras para profissionais de saúde, pessoas infetadas e cuidadores de pessoas infetadas.
No início do mês admitiu que seja alargado à população em geral nos casos de comunidades onde não haja acesso fácil a água para lavagem das mãos e onde as condições de alojamento não permitam manter o distanciamento físico, outras medidas que considera essenciais para conter o contágio.
A organização aconselha os países que decidam generalizar o uso de máscaras a avaliarem os riscos, frisando que deve sempre ser complementar a outras medidas de prevenção contra a pandemia da covid-19.
A OMS considera que “o uso generalizado de mascaras por pessoas saudáveis em ambientes comunitários não é apoiado pelas evidências científicas atuais e acarreta incertezas e riscos críticos”.
O diretor geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, salientou que a investigação sobre a eficácia do uso generalizado de máscaras é limitada. A organização lembra reiteradamente que há escassez de máscaras cirúrgicas a nível mundial e alertou que o alargamento do seu uso pode pôr em perigo quem mais delas precisa, ou seja, os profissionais que estão na linha da frente do combate ao novo coronavírus.
Na sua página da Internet, recomenda-se o uso de máscaras em “casos específicos”, nomeadamente, se se tem “tosse, febre ou dificuldades respiratórias”.
Pessoas sem sintomas só devem usar máscara se têm a seu cuidado alguém doente ou com suspeita de estar contagiado. A OMS salienta que o uso de máscaras só é eficaz para evitar o contágio quando combinado com outras medidas de higiene, sobretudo a lavagem frequente das mãos com água com sabão ou com uma solução à base de álcool.
O Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças tem uma posição semelhante, admitindo o uso generalizado de máscaras pela população em locais fechados e com muita gente, apenas como complementar à etiqueta respiratória e distância de segurança para reduzir a transmissão de covid-19.
Esta organismo europeu também aponta o risco de falsa sensação de segurança porque pode levar as pessoas a distraírem-se, por exemplo, da distância física.
Qual é a posição das autoridades de saúde portuguesas sobre o uso de máscaras pela generalidade da população?
A ministra da Saúde, Marta Temido, já afirmou que o uso de máscaras não cirúrgicas ou sociais será generalizado à população em espaços fechados como farmácias, mas só quando o país regressar à normalidade e não no estado de emergência/confinamento. O princípio da precaução e a falta de efeitos adversos do uso de máscara justificam esta posição, tomada quase um mês e meio depois do surgimento do primeiro caso em Portugal.
A Direção-Geral da Saúde (DGS) admite numa norma publicada na segunda-feira o uso de máscaras por todas as pessoas que permaneçam em espaços interiores fechados com várias pessoas – como transportes públicos, supermercados e outras lojas - como medida de proteção adicional ao distanciamento social, à higiene das mãos e à etiqueta respiratória.
Por enquanto, quem deve usar máscara cirúrgica são as pessoas com mais de 65 anos, com doenças crónicas e estados de imunossupressão, sempre que saiam de casa, além de todos os profissionais de saúde, pessoas com sintomas respiratórios ou quem entre e circule em instituições de saúde.
Outros grupos profissionais, como forças de segurança e militares, bombeiros, distribuidores de bens essenciais ao domicílio, trabalhadores nas instituições de solidariedade social, lares e rede de cuidados continuados integrados, agentes funerários e profissionais que façam atendimento ao público, onde não esteja garantido o distanciamento social, devem também usar máscara.
O primeiro-ministro, António Costa, afirmou que alunos, professores e trabalhadores não docentes deverão usar máscaras de proteção nas escolas quando reabrirem as aulas presenciais dos 11.º e 12.º anos, que serão disponibilizadas pelo Ministério da Educação.
O Governo Regional da Madeira decidiu distribuir máscaras de proteção à população, afirmando que serão de uso obrigatório.
A DGS e o Ministério da Saúde que a tutela têm seguido as posições da OMS. Em fevereiro, a DGS afirmava que não era necessário usar máscaras, salvo para cuidadores de pessoas infetadas.
Quais são as posições dos outros governos sobre o uso de máscaras?
Em alguns países europeus, como a Bulgária, República Checa, Eslováquia, Eslovénia ou Áustria, o uso de máscara é obrigatório em diferentes graus. Na Áustria, as máscaras são obrigatórias para ir ao supermercado, enquanto na Bulgária todas as pessoas em espaços públicos devem usá-las. A República Checa, que impôs o uso obrigatório no exterior, passou a admitir exceções para quem pratique atividades desportivas ao ar livre.
Em Espanha, onde na segunda-feira passada foram aliviadas algumas das restrições impostas pelo estado de emergência e várias atividades regressaram ao trabalho, as forças de segurança começaram a distribuir 10 milhões de máscaras para as pessoas que circulem nos transportes públicos se protegerem nas viagens até ao local de trabalho.
Itália, um dos países mais afetados pela pandemia prevê também impor o uso de máscara generalizado à medida que se forem levantando as medidas mais restritivas à circulação de pessoas.
Nos Estados Unidos, as recomendações das autoridades de saúde passaram a partir do início do mês a ser o uso de máscara ou outro tipo de cobertura no nariz e na boca em espaços públicos.
Uzbequistão, Taiwan, Japão e China, onde o vírus surgiu no fim do ano passado, são outros países em que se adotou o uso generalizado de máscaras pela população, tal como Moçambique e Guiné-Bissau, onde passou a ser obrigatório o uso de máscara em transportes e outras aglomerações de pessoas, como mercados.
Marrocos impôs mesmo penas de prisão entre um e três meses para quem não use máscaras, obrigatórias para qualquer deslocação.
O diretor do centro chinês para o controlo e prevenção de doenças, Gao Fu, declarou à revista Science em março que o “grande erro” dos Estados Unidos e da Europa foi não decretar o uso de máscaras pela população quando pandemia surgiu.
Quais são as posições dos cientistas sobre a eficácia do uso de máscaras pela população em geral na contenção da pandemia?
Não se pode falar de consenso na comunidade científica, mas cada vez mais organizações nacionais e internacionais estão a adotar posições a favor da recomendação do uso generalizado de máscaras.
Nos Estados Unidos, a Academia das Ciências citou estudos segundo os quais o vírus se transmite não apenas pelas gotículas expelidas quando se tosse ou espirra mas no ar expirado quando se fala, apelando à Casa Branca para adotar a recomendação de uso generalizado de máscara.
Várias investigações científicas realizadas desde o início da pandemia estabeleceram que o contágio partiu até de pessoas sem sintomas, o que sugere que não é só pela tosse que o vírus pode espalhar-se.
O Conselho de Escolas Médicas Portuguesas, que defendeu o uso generalizado de máscaras, recolheu uma série de artigos internacionais segundo os quais é eficaz alargar o uso de máscaras, em conjunto com outras medidas de proteção, para controlar a transmissão de infeções respiratórias, reduzindo o risco de contágio, a taxa de ataque e diminuindo o número de contágios a partir de cada pessoa doente.
Sublinha que se poderá conter a pandemia atual e prevenir futuros surtos, mesmo com “qualquer tipo genérico de máscara” ou mesmo um pano da louça de algodão ou uma máscara caseira pode diminuir a exposição ao vírus, libertando as máscaras cirúrgicas e respiratórias para os profissionais de saúde, cuidadores de doentes e forças de segurança.
A Ordem dos Médicos portuguesa é favorável ao uso de máscaras por “toda a gente que frequente locais públicos”, incluindo nos hospitais, centros de saúde e superfícies comercias, como, por exemplo, supermercados.
Comentários