O Grupo de Ação Motociclista (GAM) anunciou para hoje à tarde um protesto em seis cidades, indicando para o Porto uma concentração às 15:00 nos Aliados, mas antes dessa hora já estava tudo articulado com a Divisão de Trânsito da PSP para iniciar um “passeio” pela cidade, passando pelas ruas Sá da Bandeira, Gonçalo Cristóvão, Praça da República, rotunda da Boavista, rua Júlio Dinis, Palácio de Cristal, Hospital de Santo António e Clérigos.
De acordo com Paulo Ribeiro, do GAM e do Moto-Clube do Porto, a manifestação pretende “mostrar as manipulações” de que os motociclistas se queixam, com a imposição de inspeções aos motociclos e da obrigatoriedade de carta de moto para conduzir viaturas até 125 cm3 de cilindrada, quando até agora bastava ter habilitação para conduzir automóveis.
“Estas medidas não são uma mais-valia em termos de segurança. Não é impondo estas ações que vamos reduzir a sinistralidade na estrada”, resumiu Paulo Ribeiro.
A organização esperava “mais de mil motas” e, pelas 15:30, a contabilidade da PSP apontava para isso e para cerca de 1500 pessoas, segundo informações de António Antunes, subcomissário da Divisão de Trânsito da PSP do Porto.
Depois das 16:00, quando a “cabeça da coluna” da manifestação chegava já à praça da República, o responsável da PSP revelou à Lusa estarem nas ruas do Porto “perto de dois mil motociclos”.
Paulo Ribeiro, do GAM, insistiu na questão das inspeções e da necessidade de carta de mota para quem já conduz motas com cartas de carro, dizendo não poder “pactuar com uma manipulação de números”.
“O aumento do número de mortos que é referido pelo Governo é falso, atendendo ao aumento de motos atualmente a circular e que são constantemente esquecidos nos relatórios do MAI”, frisou.
José Antunes, 65 anos, deslocou-se de Barcelos até ao Porto para se manifestar contra as pretensões do Governo.
Tem “carta de carro há 30 anos” e “há cerca de dez”, comprou uma Vespa, porque “não precisava de tirar carta de mota”, bastava a que já tinha.
Conduz desde então o motociclo vermelho com menos de 125 cm3 de cilindrada, que enfeitou “cheia de galos”, e “nunca” teve “um acidente”.
Tirar uma carta de mota, estudar para isso, não é coisa que lhe apeteça aos 65 anos, pelo que, a avançar a medida prevista pelo Governo, a Vespa vermelha “vai ficar para lá encostada”.
“Já estou velhote, não vou estar agora a estudar. Se for para tirar carta a mota vai ficar lá encostada, quem é que a vai comprar?”, observa, notando que os “grandes acidentes” de mota acontecem com as “de grande cilindrada”.
A bancária Marta Reis, de 38 anos, também esteve nos Aliados a protestar “contra as inspeções”, por considerar ser uma medida “mais para ir buscar dinheiro do que para verificarem a segurança das motas”.
“Isto é um negócio”, lamentou, lembrando que “há muitas motas modificadas” que, para passar na inspeção teriam de ser repostas como “de origem”, o que “vai ser muito complicado”.
De acordo com António Antunes, subcomissário da Divisão de Trânsito da PSP do Porto, o desfile de protesto pelo Porto foi acompanhado por cerca de 25 elementos da PSP, estando a cargo de nove motociclos daquela força policial assinalar o corte das ruas necessário para a passagem dos manifestantes.
De acordo com o subcomissário da Divisão de Trânsito da PSP do Porto, cada corte de rua deve demorar “cerca de 15 minutos” para permitir a passagem de uma “coluna de motociclos concentrada” ao longo de dez a 12 quilómetros da cidade, esperando-se a conclusão do passeio pelas 18:00.
Em janeiro, o ministro da Administração Interna anunciou que as inspeções periódicas a motociclos vão avançar no primeiro semestre de 2018, justificando esta medida com o aumento do número de acidentes mortais com motociclos em 2017.
O Governo quer também tornar obrigatória a carta de condução para quem conduzir motociclos a partir de 125 cm3 de cilindrada, mesmo que tenha já carta de automóvel.
Por lei, a inspeção periódica dos motociclos, triciclos e quadriciclos com cilindrada superior a 250 cm3 está prevista no Decreto-Lei n.º 133/2012, de 11 de julho.
Esta lei veio obrigar os centros de inspeção a adaptarem-se para fazerem inspeção a motas, mas ficou por sair a regulamentação.
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