A Comissão Nacional de Saúde do país asiático revelou que o país registou hoje 77 novos infetados e que dois pacientes morreram, numa altura em que vários países estão a elevar o nível de alerta.
Esta confirmação foi dada depois das autoridades da cidade chinesa de Wuhan terem anunciado que um homem de 89 anos faleceu devido ao novo vírus que causou um surto de pneumonia e que se espalhou por todo o país.
A vítima apresentava dificuldades em respirar e faleceu no domingo após ser atendida no serviço médico de Wuhan, cidade onde o novo vírus foi descoberto e já atingiu mais de 200 pessoas.
A Coreia do Sul confirmou ontem o primeiro caso de um paciente com este vírus no seu território, isto quando crescem as preocupações com a propagação regional da doença. Foram relatados três casos no exterior da China: dois na Tailândia e um no Japão.
A rápida propagação do vírus preocupa as autoridades chinesas, num momento em que milhões dos seus cidadãos desejam viajar para celebrar o Ano Novo Lunar.
O novo coronavírus é semelhante ao que provoca a Síndrome Respiratória Aguda Grave, mais conhecida como pneumonia atípica, que infetou os primeiros doentes no sul da China em 2002 e se espalhou a mais de vinte países, matando quase 800 pessoas, e a Síndrome Respiratória do Médio Oriente, que foi identificada pela primeira vez em 2012 na Arábia Saudita, estendendo-se a 27 países e que levou à morte de mais de 850 pessoas.
Em Wuhan, foram diagnosticados 198 casos, sendo que soube-se de casos noutras partes da China: cinco em Pequim (norte), e 14 no Cantão (sul), em frente a Hong Kong. Também há sete casos suspeitos em Xangai, e quatro, na província e nas regiões do leste, do sul e do sudoeste do país.
Quinze funcionários hospitalares também testaram positivo para o vírus, anunciou a Comissão Municipal de Saúde de Wuhan. A comissão tinha dito, na semana passada, que nenhum dos funcionários que teve contacto próximo com os pacientes tinha sido infetado.
Na sua primeira reação pública sobre o assunto, o presidente chinês, Xi Jinping, disse nesta segunda-feira que o novo vírus deve ser "completamente contido". "A segurança da vida das pessoas e a sua saúde física têm de ser prioridade", afirmou à rede de televisão estatal CCTV.
Xi Jinping instruiu também os departamentos do Governo na segunda-feira a divulgar prontamente informações sobre o vírus e aprofundar a cooperação internacional.
Durante a epidemia da pneumonia atípica, o Governo chinês tentou inicialmente ocultar a gravidade, mas o encobrimento foi exposto por Zhong Nanshan, médico reputado e especialista do Governo chinês, que ajudou a expor a verdadeira escala da pneumonia atípica, em 2002.
Nanshan agora disse à emissora estatal CCTV que duas pessoas na província de Guangdong foram infetadas a partir de familiares, confirmando também a transmissão de pessoa para pessoa.
Acredita-se que um mercado de peixe e marisco tenha sido o centro do surto na cidade de Wuhan, mas as autoridades de saúde informaram que identificaram pacientes que não tinham antecedentes de contacto com esse centro comercial.
Um artigo publicado na passada sexta-feira por cientistas de um centro de investigação do Colégio Imperial de Ciência, Tecnologia e Medicina de Londres apontou que o número de pessoas infetadas na cidade chinesa provavelmente ultrapassou o milhar de casos e é muito superior àquele avançado pelas autoridades locais.
Investigadores do Centro de Análise Global de Doenças Infecciosas, que aconselha instituições como a Organização Mundial de Saúde (OMS), estimam que "um total de 1.723 casos" em Wuhan apresentavam sintomas da doença desde 12 de janeiro.
No final de semana, o vice-presidente da Câmara de Wuhan, Chen Xiexin, disse à CCTV que foram instalados termómetros infravermelhos em aeroportos, estações ferroviárias e terminais de autocarro por toda cidade. Chen relatou a ocorrência de passageiros com febre, os quais foram levados para instituições médicas. De acordo com o mesmo canal de televisão, já foram realizados 300.000 testes de temperatura corporal.
Em Macau, as autoridades anunciaram que vão verificar individualmente os passageiros provenientes de Wuhan, "por via aérea, marítima ou terrestre". Já em Hong Kong, intensificaram-se as medidas de deteção, incluindo os rigorosos pontos de controlo de temperatura para os viajantes que chegam da China continental.
Na rede social chinesa Weibo, o Twitter chinês, vários internautas difundiram conselhos de prevenção, incluindo como usar máscaras e lavar as mãos. Algumas pessoas disseram ter cancelado os seus planos de viagem e que vão ficar por casa durante as férias do Ano Novo Lunar.
Segundo o ministério chinês dos Transportes, a China deve registar um total de três mil milhões de viagens internas durante os próximos 40 dias.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) convocou ontem um comité de emergência para debater sobre o novo vírus. O grupo da OMS vai reunir-se amanhã em Genebra para decidir se classifica este surto "emergência de saúde pública internacional", designação que costuma ser empregada somente quando se trata de epidemias muito graves.
A OMS admite que um animal é "a fonte primária mais provável" de contágio, havendo "uma transmissão limitada de humano para humano por contacto próximo".
A emergência de saúde pública internacional foi declarada para as epidemias da gripe suína, em 2009, do vírus Zika, em 2016, e do vírus Ébola, que atingiu uma parte da África Ocidental, de 2014 a 2016, e a República Democrática do Congo, desde 2018.
Na Coreia do Sul, o Centro Coreano de Controle e Prevenção de Enfermidades (KCDC) informou ontem que uma chinesa de 35 anos, que chegou ao país num voo proveniente de Wuhan, foi confirmada com contaminação de novo coronavírus.
De acordo com as informações disponíveis, esta mulher já tinha ido a um hospital em Wuhan com sintomas parecidos ao de uma constipação. Após receber medicação, entrou em um avião em Wuhan rumo a Seul, mas após aterrar no aeroporto de Incheon, foi posta em quarentena imediatamente.
O principal conselheiro para o ministério da Saúde da Austrália, Brendan Murphy, anunciou também que o país aumentou já a triagem nos aeroportos. A Austrália recebe um número significativo de viajantes da China, e conta com três voos diretos por semana de Wuhan para Sydney.
Os passageiros estão a ser recebidos por equipas médicas para avaliações, disse Murphy, citado pela imprensa australiana.
Japão, Coreia do Sul, Hong Kong e outros locais com vários voos diretos para a China também estão a adotar medidas mais rigorosas de triagem. Pelo menos três aeroportos nos Estados Unidos começaram a rastrear passageiros de companhias aéreas oriundas do centro da China.
"Precisamos de aumentar o nível de alerta, pois o número de pacientes continua a aumentar na China", disse o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe.
A Tailândia anunciou que está a analisar passageiros que chegam a Banguecoque, Chiang Mai e Phuket, e que logo introduzirá controlos similares nas casas de banho de Krabi.
[Notícia atualizada às 10:53]
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