Após uma campanha eleitoral marcada pela agressividade na troca de acusações entre os seus protagonistas, trinta milhões de eleitores polacos confrontam-se com a escolha entre o discurso nacionalista do partido no poder há oito anos, liderado pelo dirigente histórico Jaroslaw Kaczynski, ou a opção liberal, progressista e europeísta da coligação PO, do ex-presidente do Conselho Europeu e antigo primeiro-ministro, Donald Tusk.
Nas palavras dos respetivos líderes, de um lado está a opção manter a Polónia protegida dos seus traidores, do outro, salvar a democracia e os seus valores, acentuando as profundas diferenças ideológicas e programáticas entre ambos, mas também o valor histórico que atribuem ao escrutínio, e que muitos analistas consideram o mais importante desde a queda do comunismo.
Nenhum deles, porém, deve conseguir a maioria para formar governo, quando as urnas fecharem às 21:00 locais (20:00 em Lisboa) e foram conhecidos os resultados finais até terça-feira, estando, segundo as sondagens, limitados a projeções de 30% para o PiS e 26% para o PO.
Estas percentagens significam que estarão dependentes das forças emergentes da Terceira Via (conservadores) e Esquerda, ambos acima de 10% nas intenções de voto, e da Confederação (extrema-direita ultranacionalista), que tem vindo a perder nas projeções ao longo da campanha a sua capacidade de influenciar o desfecho eleitoral.
Entre as escolhas, os eleitores polacos confrontam-se com a narrativa patriótica do PiS e sua atitude de desafio às instituições europeias — como a rejeição do pacto migratório europeu ou o levantamento do bloqueio comercial aos cereais ucranianos – e postura musculada em matéria de migrações, na forma de um muro já construído na fronteira com a Bielorrússia, o destacamento de 10 mil militares para a região ou no alarmismo que coloca nos perigos associados à admissão de estrangeiros.
Em contraponto, a oposição propõe o desanuviamento nas relações com Bruxelas e um olhar mais humano para as migrações, como sucedeu no acolhimento de mais de um milhão de refugiados ucranianos, mas também noutras áreas em que o partido no poder tem merecido críticas, como o aborto, direitos de pessoas LGBT+ ou alterações climáticas.
A migração tem sido um dos temas-chave das legislativas, pelas suas implicações domésticas e relações com a União Europeia, e merece duas perguntas em quatro referendos a realizar no domingo, um sobre a barreira com a fronteira com a Bielorrússia, outro ainda mais polémico, que menciona “a admissão de milhares de imigrantes ilegais do Médio Oriente e de África”, de acordo com o mecanismo de relocalização forçada “imposto pela burocracia europeia”.
Os referendos — que incluem ainda duas perguntas sobre o aumento da idade de reforma para os 67 anos e a privatização de ativos estatais – só serão vinculativos com uma participação acima dos 50%, o que levou a oposição a apelar para o seu boicote.
A inflação a dois dígitos e os custos galopantes da energia pesam na carteira dos polacos, mas os temas económicos quase passaram ao lado da campanha, em que se procurou marcar as diferenças em questões ideológicas e sistémicas para os próximos anos.
Cerca de 30 milhões de eleitores vão escolher 460 deputados e 100 senadores em 41 distritos eleitorais. Os partidos que obtiverem menos de 5% dos votos e as coligações com menos de 8% de apoio ficam sem representação parlamentar.
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