Ponte de Sor, cidade do Distrito de Portalegre, "o menos habitado e o mais pobre" do país, conforme descreve Hugo Hilário, presidente da câmara municipal da cidade banhada pelo rio com o mesmo nome, vive, hoje, momentos bem diferentes dos que viveu em anos recentes. "Depois do encerramento da fábrica da Delphi (2008) com a General Motors a encerrar várias unidades em Portugal, chegámos aos 25% de desemprego. Hoje temos 5%".
As razões para a inversão operada em Ponte de Sor são duas: primeira, a indústria da transformação da cortiça, que é "o maior empregador da região"; a segunda assenta no setor aeronáutico.
"Aproveitámos a infraestrutura que estava criada (aeródromo municipal de Ponte de Sor), metemo-nos nos carros e nos aviões e fomos bater à porta de muitos. Manutenção, componentes e universidades", referiu à margem da apresentação à imprensa da 3ª edição do Portugal Air Summit cimeira aeronáutica que decorre em Ponte de Sor, de 30 de maio e 2 de junho, e que, em paralelo, será palco da Air Race Championship, uma corrida de aviões.
A Air Summit ajudou a mudar a realidade da cidade e o sector aeronáutico provocou "um impacto económico e social direto na região", reconheceu. "Atraiu investimento e criou postos de trabalho", assumiu. "Posicionámo-nos como território atrativo para captação de investidores e de empresas", continuou.
A consequência desta aposta tem sido visível. "Atraímos a L3, um dos líderes mundiais de escola de pilotos e a U Aerospace, grupo francês fornecedor do Air Bus, que reabilitou uma fábrica, criou 80 postos de trabalho e produz máscaras de oxigénio para aviões supersónicos", exemplificou.
Com um centro de negócios (e incubadora de startups) e industrial "as atividades são cada vez mais diversificadas", assumiu. Deixou de ser local exclusivo de ultraleves e passa pela "formação de pilotos, aviação civil e não tripulada (drones), manutenção de helicópteros (Kamov) e de aeronaves de superior dimensão" enumerou.
"Os drones e aviões já lá estão. Os satélites estão a caminho", deixou escapar enquanto discorreu sobre os limites da infraestrutura da pista (passou dos 900 metros para os 1800) e dos sistemas de informação que permitem "aterrar dos drones a um airbus A320, Boing 737, C130 da Força Aérea ou o Embraer K390", citou.
"Isto para dizer que a sustentabilidade do próprio aeródromo está repartida por várias atividades que não estão dependentes umas das outras. Se tivermos um problema numa não coloca em causa outra", garantiu.
Empresa apresentada em Beja aterra em Ponte de Sor. 9 milhões euros para três hangares e uma torre
Em 2018, a pista registou "40 mil movimentos" sendo que desse total, "85% são da escola", notou Hugo Hilário, presidente do município alentejano. "Em novembro de 2013, tivemos os primeiros 4 cadetes", recordou.
"Com a manutenção de aeronaves, parqueamento e apoio à aviação privada, com a estratégia correta e provada, não podíamos estagnar". Por essa razão e face ao crescimento visível, o município investiu "9 milhões de euros" em novas infraestruturas com a comparticipação a "85% pelo Portugal 2020".
O investimento está repartido: "cerca de 1,5 milhões de euros" na construção de uma nova torre de informação "que era improvisada" e que terá agora "um ângulo de visão 360 graus, o que permite operar o lado oeste e este da pista e, assim, aumentar o movimento" e "7,5 milhões de euros em três hangares (dois com a dimensão de 2 mil m2 e um grande hangar com 8 mil m2)" — este último para aeronaves de "grande porte".
"É evidente que não iríamos erguê-las [infraestruturas] sem ter a certeza do interesse de várias empresas", reforça. Uma delas, que se destina à manutenção de aviões de grande porte, foi desviada de Beja, "onde se apresentou primeiro" mas que viria a aterrar mais a norte, na cidade do Distrito de Portalegre, "onde levámos o projeto em frente", conta, sem no entanto dizer o nome da empresa.
Hugo Hilário deixa de lado eventuais questões de concorrência que possa canibalizar investimentos de um território para o outro. "O Portugal Air Summit mostra que não vale a pena competir", afirma peremptoriamente. "Assinámos o protocolo do cluster do Alentejo, Évora, Beja e Ponte de Sor. Completamo-nos uns aos outros e criamos escala para sermos mais competitivos lá fora, onde somos pequenos", atirou. "Tenho a certeza que Beja será nos próximos anos uma realidade no que diz respeito a uma dinâmica económica neste setor, na manutenção ou na operação. Pena não ter sido há mais tempo. Com o crescimento anual de 10 por cento não há volta a dar", garantiu.
Volta atrás na conversa para voltar a falar da formação e acrescentar a educação. Regozija-se pelo facto Ponte de Sor ter "Ensino Superior" o que ajuda a fixar e a atrair população e conhecimento.
Sobre o plano de negócios da empresa de instrução de pilotos (L3) de alargar dos "450 formandos para mil", assumiu que "sãos bons problemas" com que se depara, embora reconheça que não há, no presente, respostas para cobrir essa necessidade futura.
"Tenho a consciência de problemas. Nem sempre as respostas públicas caminham à velocidade das necessidades de um negócio privado", assumiu, referindo-se à necessidade de "mais respostas em certas aéreas" que "não são assim tão fáceis".
Para já, pelo menos surgiu uma resposta por parte da iniciativa privada. Do turismo. "O único hotel esteve fechado 10 anos e foi reabilitado. Agora há três hotéis, sendo um de 5 estrelas", frisou.
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