Quem percorrer a área do PNDI depressa se apercebe do “descontentamento” das populações provocado pelas restrições que são impostas pelos regulamentos e pela falta de ação do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), organismo que está no centro das críticas.
“É só restrições. A criação do parque não veio trazer benefícios nenhuns, apenas colocaram algumas placas informativas para quem faz percursos pedestre. No entanto, verifico que a avifauna do território está a desaparecer. O parque no fundo é zero”, vincou o agricultor João Luís.
Residente em Aldeia Nova no concelho de Miranda do Douro, um dos quatro abrangidos pelo Parque, admitiu estar muito desiludido, porque nestes 20 anos nada foi feito pela conservação da natureza.
O PNDI foi criado através de decreto regulamentar em 11 de maio de 1998, promulgado pelo então primeiro-ministro, António Guterres.
Já António Fernandes, agricultor em Freixiosa, no mesmo concelho, contou à Lusa que o seu filho construiu um armazém para guardar utensílios e máquinas agrícolas, mas que teve de ser deitado a baixo, já que a coima aplicada pelo ICNF era de dez mil euros.
“Como o meu filho não tinha dinheiro para poder pagar a coima, a melhor solução foi deitar abaixo o que construiu com grande esforço e algum dinheiro”, exemplificou.
Para o presidente da câmara de Miranda Douro, Artur Nunes, nestes últimos 20 anos nada mudou com a criação da área protegida do PNDI.
“Estamos mais pobres, há cada vez menos gente e não há investimentos na área protegida. É um Parque que pouco evoluiu na sua essência e na sua ligação com as pessoas que aqui residem. Em relação à proteção dos espaços e das espécies que aqui nidificam, nada é feito”, observou.
O autarca de Miranda do Douro recorda que muitas foram as promessas e que muito ficou por fazer.
Mais a sul, o presidente da câmara de Mogadouro, Francisco Guimarães, disse que têm sido as populações quem se tem preocupado em proteger o património do PNDI.
“Temos tido a preocupação de alertar a tutela, no sentido de haver uma alteração aos regulamentos em vigor no Parque, sendo por isso importante estarmos ao lado das populações, até porque são elas que vivem neste território e não podem ser impedidas de o fazer”, enfatizou.
Por seu lado, a secretária de Estado da Conservação da Natureza e do Ordenamento do Território, Célia Ramos, explicou à Lusa que as áreas protegidas são um atrativo estratégico do país e têm que voltar à ordem do dia.
“Está a ser publicada uma nova estratégia para conservação da natureza e da biodiversidade e que coloca tónica na gestão das áreas protegidas, como é caso do PNDI. Há aqui uma necessidade de uma gestão de proximidade com as populações. Pretendermos trabalhar com quem está nestas áreas protegidas (…) sendo esta a chave para o futuro destes territórios”, explicou a governante.
O PNDI apresenta também um elevado valor faunístico, nomeadamente no que se refere à avifauna, constituindo os vales encaixados e escarpados um local de excelência para a nidificação de aves rupícolas, como o abutre do Egito, o grifo, a águia de Bonelli, entre outras espécies ameaçadas, como a cegonha negra.
Estes atrativos trazem, principalmente na primavera, muitos apreciadores da natureza a estas paragens.
“Viemos fazer um fim-de-semana em família e chegámos ao miradouro de Paredela, onde o rio Douro entra em Portugal, e deparamo-nos com vistas fantásticas sobre a paisagem, num território com muito potencial turístico”, observou Sara Ribeiro, uma visitante que se deslocou de Penafiel para conhecer o PNDI.
O PNDI engloba os concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro, Freixo de Espada à Cinta, no distrito de Bragança e Figueira de Castelo Rodrigo, na Guarda e tem 122 quilómetros de extensão e uma área de cerca de 860 quilómetro quadrados.
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