Nuno Coelho, do Sindicato de Hotelaria do Norte, explicou à Lusa que o desfecho do processo “decorre da lei” e que o “administrador de insolvência teve de dar o direito de preferência ao senhorio, uma vez que ele o acionou”, situação que não deixa alternativa sobre o encerramento ocorrido a 07 de julho.
O Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia declarou a 04 de junho a insolvência da Sociedade Atividades Hoteleiras Galiza Portuense, proprietária da cervejaria, na sequência do requerimento apresentado pela Sociedade Real Sabor, de Vila Nova de Gaia, no qual reclamava 11.951 euros, havendo 30 dias para a reclamação de créditos.
A esperança dos cerca de 30 trabalhadores da cervejaria passou, então, para o desfecho da assembleia de credores, agendada para 04 de agosto, e na eventualidade de aparecimento de um investidor que garantisse os postos de trabalho e calendarizasse o pagamento das dívidas.
Apesar de a empresa registar dívidas de cerca de dois milhões de euros ao Fisco e à Segurança Social, os trabalhadores conseguiram um “investidor interessado em manter a cervejaria aberta e que lhes mantinha os postos de trabalho”, relatou à Lusa Nuno Coelho.
Durante o processo surgiu outro investidor, “com outro interesse para as instalações”, acabando o processo por se estender “até quinta-feira da semana passada, altura em que o senhorio acionou o direito de preferência”, acrescentou.
À Lusa, António Ferreira, ex-funcionário da cervejaria e representante dos trabalhadores comissão de credores, afirmou-se “surpreendido com o desfecho”, lembrando que “tinham um investidor, a empresa Imparávelpuzle, de Adriano Cardoso, que iria dar continuidade à cervejaria como marisqueira e cervejaria”.
“A recuperação do espaço pelo senhorio deixou uma incógnita sobre os trabalhadores que agora se veem sem perspetiva nenhuma”, acrescentou António Ferreira, confirmando que, embora todos “estejam no fundo de desemprego, mais de metade dos quase 30 restantes ainda estão longe da idade da reforma”.
Fundada a 29 de julho de 1972, no início de novembro de 2019, os então 33 trabalhadores da histórica cervejaria do Porto foram surpreendidos com uma tentativa de encerramento coercivo das instalações pela gestora da empresa, acabando por organizar-se e, até julho, assegurar a gestão diária do espaço.
Antes da tentativa de encerramento, a empresa dona da Cervejaria Galiza, num esforço em resolver as dificuldades financeiras, passou pelo recurso a um PER (Processo Especial de Revitalização), aceite pelo Tribunal do Comércio de Vila Nova de Gaia.
A tentativa de encontrar uma solução passou então para o Ministério do Trabalho, tendo a empresa e os representantes dos trabalhadores e do Sindicato de Hotelaria do Norte reunido várias vezes, desde dezembro, na Direção-geral do Emprego e das Relações do Trabalho (DGERT), no Porto.
No decurso dessas reuniões, as representantes da empresa prometeram avançar com um processo de insolvência controlada e recuperação da empresa, o que salvaguardava os postos de trabalho, mas que nunca se concretizou.
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