Os versos retirados do manual escolar de português para o 12.º ano "Encontros" da Porto Editora contêm linguagem que pode ser considerada obscena, escreveu o semanário este domingo, e foram substituídos por linhas a tracejado.
De acordo com a publicação, o manual escolar da autoria de Noémia Jorge, Cecília Aguiar, Miguel Magalhães faz parte das livros aprovados pelo Ministério da Educação e foi escolhido por cerca de 90 escolas em todo o país.
O alerta foi dado por uma dessas instituições ao jornal, depois de um grupo de alunos ouvirem uma gravação de uma declamação do poema e se aperceberem que os versos em questão não estavam na página 99 e 100 do manual.
No manual não há nenhuma referência ou justificação para a omissão dos versos “Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas” e “E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto belo e amo-o! - / Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada”.
Em comunicado enviado ao SAPO24, a Porto Editora, que tinha prometido esclarecimentos para hoje, reage à polémica e diz que "não há qualquer censura à obra de Fernando Pessoa".
A editora esclarece que o poema está disponível na íntegra na versão do professor e nessa edição "as autoras sinalizam ao professor quais os versos que se encontram omitidos na edição do aluno". Desta forma, explicam, "os docentes podem decidir se abordam em contexto de sala de aula – e de que forma".
Sobre a omissão dos versos já referidos, diz a nota da Porto Editora que: "Na edição disponível para os alunos, o poema “Ode Triunfal” encontra-se transcrito na íntegra, com exceção dos três versos referidos (versos 153, 169 e 170). No entanto, a indicação de que os versos foram cortados é visível tanto graficamente (linhas a tracejado) como através da numeração das linhas".
Leia o comunicado da Porto Editora na íntegra:
"O poema “Ode triunfal”, de Álvaro de Campos, está disponível na íntegra no livro escolar Encontros – 12.º ano, na versão do professor.
Nesta versão, as autoras sinalizam ao professor quais os versos que se encontram omitidos na edição do aluno. Assim, os docentes podem decidir se abordam em contexto de sala de aula – e de que forma – versos que têm linguagem explícita e se relacionam com a prática da pedofilia.
Na edição disponível para os alunos, o poema “Ode Triunfal” encontra-se transcrito na íntegra, com exceção dos três versos referidos (versos 153, 169 e 170). No entanto, a indicação de que os versos foram cortados é visível tanto graficamente (linhas a tracejado) como através da numeração das linhas.
A diferença entre livro do professor e livro do aluno assenta no pressuposto de que cada docente tem um papel central na preparação e na organização das suas aulas, em função das características específicas de cada turma. Os professores conhecem as suas turmas e conhecem o poema integralmente, pelo que saberão também se têm ou não condições para abordarem os referidos versos com o tempo e o cuidado necessários, uma vez que podem, obviamente, constituir fator de desestabilização ou de desvio da atenção dos alunos.
Por conseguinte, não há qualquer censura à obra de Fernando Pessoa, apenas e tão somente uma preocupação didático-pedagógica – seguida pela generalidade dos manuais existentes – que permite aos professores decidirem livremente sobre a abordagem mais adequada junto dos seus alunos."
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