O debate abriu com o Vitorino Silva, mais conhecido por ‘Tino de Rans’, a partilhar que tem “muito respeito por quem cava o mar” e que “não é por acaso que Cristo era pescador”, lamentando que Portugal esteja “de costas viradas para o mar”.
Em cerca de uma hora e meia, o candidato “do povo” que tem realizado apenas ações de campanha de forma virtual, cumprindo o confinamento decretado pelo governo na semana passada devido ao agravamento da pandemia da covid-19 no país, confessou estar ali “para ouvir”.
Paulo Faria, comandante, apontou que o “o porto de Leixões está esgotado, não há volta a dar” dando como bom exemplo o porto de Sevilha, “um dos mais importantes da Península Ibérica a nível de transação de contentores”.
“Temos que ter uma estratégia e isso não é só ir às rádios falar de economia azul. Fazemos estudos para tudo mas depois na prática esprememos a laranja e depois não sai sumo”, disse.
Nuno Remelgado, embarcado em Vila do Conde, lamentou a falta de formação de muitos marinheiros portugueses, “a facilidade com que se consegue uma cédula marítima” e os “conteúdos programáticos desatualizados” das escolas.
“É triste. Estou a pensar ir trabalhar para fora para poder ter uma vida melhor”, confessou.
Na resposta, Tino apontou que “uma equipa para ganhar, os jogadores têm que estar todos no sítio certo” e fez a ponte do mar para a política: “o problema deste país é que há muita gente que está a exercer um cargo para o qual não está preparado, só está lá por influências políticas e quem perde é o país”.
David Chuva, observador de pescas, também pediu “mais comunicação entre biólogos e pescadores para uma pesca sustentável”, lamentando que muitos dos seus colegas acabem a trabalhar “para empresas estrangeiras de biotecnologia ou vão trabalhar para o ramo da aquacultura”, defendendo que “o Estado deveria aproveitar mais os seus recursos humanos a sair de vários institutos”.
“Os nossos mares precisam de mimo”, apontou Tino, lembrando que a primeira vez que viu o mar foi quando a sua professora primária o levou e lamentando que “muitos portugueses nunca tenham visto o mar”.
Quem também partilhou dificuldades foi o empresário algarvio João Barbosa, do ramo do turismo náutico, que adquiriu uma embarcação para passeios na região por 40 mil euros mesmo antes do primeiro confinamento no país e ficou “com a criança nos braços”.
Por ser uma empresa nova, João candidatou-se para os apoios como o ‘lay-off’ simplificado mas não conseguiu ajuda, vendo-se hoje obrigado a regressar ao quartel de bombeiros, onde trabalhava antes de investir no ramo turístico, “para ter comida no prato”.
“Muita força e coragem”, respondeu o candidato apoiado pelo partido RIR (Reagir, Incluir, Reciclar).
O tema dos refugiados que chegam ao país foi também abordado, com Paulo Faria a salientar que “é obrigatório dar a mão” a estas pessoas mas que falta no país controlo de tráfego marítimo, matéria em que Tino concordou.
“Portugal está a deixar a pesca para trás também e não pode deixar não só o mar mas também a fiscalização. É um grande património e nós nem sabemos o património que temos. Às vezes as pessoas querem ir à lua e não conhecemos o nosso mar”, rematou o candidato presidencial.
As eleições presidenciais estão marcadas para 24 de janeiro e esta é a 10.ª vez que os portugueses são chamados a escolher o Presidente da República em democracia, desde 1976.
A campanha eleitoral começou em 10 de janeiro e decorre até sexta-feira, com o país a viver sob medidas restritivas devido à pandemia e em confinamento geral desde dia 15.
Concorrem às eleições sete candidatos, Marisa Matias (apoiada pelo Bloco de Esquerda), Marcelo Rebelo de Sousa (PSD e CDS/PP) Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), Vitorino Silva, do partido RIR - Reagir, Incluir, Reciclar, mais conhecido por Tino de Rans, João Ferreira (PCP e PEV) e a militante do PS Ana Gomes (PAN e Livre).
Desde 1976, foram Presidentes António Ramalho Eanes (1976-1986), Mário Soares (1986-1996), Jorge Sampaio (1996-2006) e Cavaco Silva (2006-2016). O atual chefe de Estado, eleito em 2016, é Marcelo Rebelo de Sousa, que se recandidata ao cargo.
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