“Estamos a trabalhar para isso, eu acredito que o Governo vai continuar a trabalhar nesse sentido. E há condições, mas sobretudo há capacidade no seio dos moçambicanos para manter a paz”, disse Filipe Nyusi, após visitar a Comunidade de Santo Egídio, em Maputo, uma organização católica dedicada à caridade e à promoção da paz.

Em Moçambique, a Comunidade de Santo Egídio notabilizou-se por ter mediado o acordo geral de paz assinado em Roma, em 1992, entre o Governo moçambicano, da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), que terminou com uma guerra civil de 16 anos.

Após o anúncio dos primeiros resultados das eleições gerais de 09 de outubro de 2024, Moçambique mergulhou em mais de dois meses de consecutivas paralisações e manifestações, que degeneraram em violência, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece aqueles resultados.

“Temos de encontrar uma saída”, respondeu ainda Nyusi, mas “sem dramatizar”, questionado pelos jornalistas à saída da comunidade, retorquindo tratar-se de um dia e de uma visita que não era para “fazer política” e sim para valorizar o trabalho, desde logo de reinserção social, realizado por aquela instituição.

O Conselho Constitucional (CC) de Moçambique fixou o dia 15 de janeiro para a tomada de posse do novo Presidente da República, que sucede a Filipe Nyusi.

Em 23 de dezembro, o CC, última instância de recurso em contenciosos eleitorais, proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.

Este anúncio levou de imediato a novos confrontos, destruição de património público e privado, manifestações, paralisações e saques, mas na última semana, sem novas convocatórias de protestos, a situação normalizou-se em todo o país.

Daniel Chapo, apontado pela Frelimo como uma “proposta jovem” e que vai ser o primeiro chefe de Estado nascido após a independência, assumirá a Presidência moçambicana no ano em que o país assinala 50 anos de independência, um período marcado, entretanto, pela maior contestação aos resultados eleitorais desde as primeiras eleições, 1994.

A sua eleição é contestada nas ruas e o anúncio do CC aumentou o caos que o país vive desde outubro, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane — candidato que segundo o CC obteve apenas 24% dos votos, mas que reclama vitória — em protestos a exigirem a “reposição da verdade eleitoral, com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.

Confrontos entre a polícia os manifestantes já provocaram quase 300 mortos e mais de 500 pessoas baleadas, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.

Além de Venâncio Mondlane, apoiado pelo partido Podemos, no percurso até à Ponta Vermelha (Residencial oficial do Presidente da República), Chapo enfrentou nas eleições de 09 de outubro Ossufo Momade (que obteve 6,62%), líder e apoiado pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal força de oposição, e Lutero Simango (que teve 4,02%), suportado e presidente do Movimento Democrático de Moçambique.

Mondlane, que lidera a contestação a partir do estrangeiro, afirmou, num dos seus diretos na rede social Facebook, que vai tomar posse no dia 15 de janeiro e prometeu anunciar, com detalhes, a próxima fase das manifestações, que designou de ”Ponta de Lança”.