Uma das imagens de marca das ruas do "Red Light District" são os bordéis com expositores virados para a rua e para os canais, onde trabalhadoras sexuais dançam para o prazer dos transeuntes que passem em frente destas "janelas". No entanto, para Femke Halsema, esta prática tem de sofrer alterações de fundo, tendo mesmo dito que a cidade tem de "atrever-se a pensar num Red-Light District sem prostituição".
A presidente da Câmara de Amesterdão, eleita em junho do ano passado pelos Verdes, defende que são necessárias várias alterações devido às mudanças sociais que têm decorrido, desde o aumento do tráfico humano até ao número crescente de turistas que visitam o bairro e tiram fotografias às trabalhadoras, acabando por colocá-las online.
À agência Reuters, Halsema disse acreditar que "muitas das mulheres que lá trabalham sentem-se humilhadas e um objeto de troça, sendo essa uma das razões pelas quais se está a pensar nesta mudança".
Outras motivações para as mudanças, disse a autarca numa entrevista ao jornal holandês, citado pelo The Guardian, passam por reduzir atividades criminosas como o tráfico humano, fraude e lavagem de dinheiro, assim como criar um ambiente mais calmo para residentes e empresários; paralelamente, quer também revitalizar o bairro onde está instalado o "red-light district" o De Wallen, que com 500 anos de idade é parte da zona considerada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO.
O Futuro da Prostituição de Janela em Amesterdão
Em cima da mesa estão quatro cenários distintos, presentes num relatório chamado "o Futuro da Prostituição de Janela em Amesterdão". Estas propostas são acabar com as janelas de exposição para a rua, aumentar a regulamentação, reduzir o número de bordéis no centro da cidade ou fechá-los todos e movê-los para outro ponto de Amesterdão. Para além disso, existe ainda uma potencial iniciativa de criar uma "zona erótica" vetada, com torniquetes a controlar as entradas, como existe em Hamburgo, na Alemanha.
Estas opções serão apresentadas aos residentes e donos de estabelecimentos da cidade e alvo de escrutínio em várias reuniões públicas. Depois da discussão, as propostas serão então reduzidas a duas alternativas, a serem votadas em sede de câmara ainda este ano. De acordo com o The Guardian, é quase certo que as medidas sejam aprovadas, já que os Verdes contam com o apoio dos liberais do Democratas 66 e dos socialistas para esta matéria.
A confirmar-se, esta é a mais radical mudança no comércio sexual da cidade desde que os Países Baixos legalizaram a prostituição em 2000. Ainda assim, apesar das mudanças propostas, não há planos para ilegalizar a prostituição no seu todo. "Nós legalizámos a prostituição porque acreditávamos, e ainda acreditamos, que a prostituição legal dá à mulher a possibilidade de ser autónoma e independente", defendeu Halsema, lembrando que a criminalização da atividade, prática ocorrente nos EUA, deixa as mulheres "extra-vulneráveis".
As tentativas de controlar o "Red-Light District" foram historicamente alvo de oposição das partes envolvidas na área, tanto dos responsáveis dos negócios como das próprias trabalhadoras sexuais, e estas novas medidas estão a ser recebidas com prudência.
Entrevistada pela agência, Foxxy Angel, uma profissional que usa este nome para trabalhar, pensa que esta estratégia está condenada ao fracasso pois a grande maioria das mulheres sente-se mais segura num espaço visível e com melhores condições sanitárias. "Se fecharem as janelas, todas as trabalhadoras sexuais vão ter de trabalhar na obscuridade e vai ser preciso haver muito mais gente para regular isso", defendeu, admitindo, porém, que existem problemas de assédio e de comportamentos desrespeitosos de grupos de visitantes.
No ano passado, uma auditoria feita a um projeto de 10 anos que envolveu fechar 100 janelas de bordéis e fazer mais verificações aos gerentes, concluiu que este foi incapaz de reduzir o tráfico humano.
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