Como se chega ao número de 520 mil milhões de euros?

  • Os programas da UE apoiaram startups europeias com 12 mil milhões de euros.
  • As startups que foram alvo desse investimento angariaram adicionalmente 70 mil milhões de euros em capital de risco.
  • Nestas rondas de investimento, as startups visadas conseguiram uma avaliação total de mercado de cerca de 520 mil milhões de euros.
  • Este valor representa 10% de todas as startups apoiadas por capital de risco na Europa.

Imagina entrar numa loja, escolher um vinho e, numa aplicação no telemóvel, tirar dúvidas sobre a escolha e ainda receber uma sugestão: “leve também um queijo que acompanha bem”. Para Miguel Fernandes, partner da PwC, este é o tipo de experiência que define o futuro frictionless (sem atrito): “Ajuda a pessoa na compra, dá mais conforto e ajuda a escolher melhor”.

No fundo, um mundo sem filas, sem stress e sem confusão — onde tudo é rápido, intuitivo e quase invisível.

Os obstáculos à compra

Apesar de estarmos cada vez mais avançados do ponto de vista tecnológico, continuam a existir vários fatores que nos afastam da compra. Em termos práticos, há obstáculos que fazem com que as lojas percam dinheiro na hora H – a hora de pagar.

São detalhes simples, como: “Ia comprar estas calças, mas não há o meu tamanho. Não vou voltar atrás à procura, nem quero experimentar outras. Desisto.”, partilha Miguel Fernandes.

Por isso, têm sido identificados vários fatores-chave para evitar aquilo que é chamado como o “desgaste do consumidor”.

Para retalhistas, estes são os pontos essenciais a ter em conta para atrair clientes cada vez mais exigentes:

  • Filas e tempos de espera: “Eu quero estar no estádio de futebol e ao intervalo quero comprar cerveja, mas basta-me passar o relógio ou o cartão e já estou servido. Não quero ficar 10 minutos na fila para ter uma cerveja”, explica Miguel Fernandes.
  • Way finding (localização de produtos): Quem nunca se perdeu num supermercado à procura do açúcar? “É nestes casos em que a experiência morre que temos de facilitar a vida às pessoas”, sublinha o Partner da PwC. Uma aplicação que nos mostre onde estão as coisas evita perdas de tempo e frustração.
  • Sistemas de pagamento complicados: processos fragmentados, apps em excesso e checkouts demorados afastam clientes.
  • Stocks inconsistentes: nada pior do que querer comprar uma coisa e descobrir que está esgotado, apesar do site dizer o contrário.
  • Pouca personalização: receber recomendações genéricas em vez de sugestões adaptadas ao perfil do cliente torna a experiência fria e impessoal.
  • Navegação confusa: sites lentos, apps que bloqueiam e interfaces mal organizadas são barreiras diretas à compra.
  • Processos complexos de devolução: políticas pouco claras e burocracia.

As tecnologias que estão a mudar o jogo

É no seu hub de Manchester, que a PwC trabalha o conceito Frictionless Futures, onde apresenta soluções tecnológicas integradas que podem revolucionar o retalho

    • Realidade aumentada e virtual try-on: “Se eu quiser experimentar uma peça de roupa, consigo, com recurso a espelhos inteligentes, pedir tamanhos diferentes, cores diferentes. Olhando para o espelho consigo de forma virtual ver peças de roupa ou acessórios”, explica Eduardo Barroso da Silva, Senior Manager da PwC Portugal.
    • Pagamentos ultra-rápidos: pulseiras, relógios, cartões contactless, que permitem um pagamento em segundos.
    • Experiências omnicanal: integrar o espaço físico, online e a aplicação para que o cliente navegue entre diferentes canais sem barreiras.

Mas é preciso considerar outros aspetos: nem tudo faz sentido em todos os contextos. É importante, por exemplo, ter em conta o ponto vista geracional.

“Não podemos pôr um vestiário altamente sofisticado numa loja de bairro de uma senhora que tem a sua clientela. O cliente de uma certa geração habituou-se a ter um contacto humano que tem de continuar a existir. Nesses casos não faz sentido investir só porque é giro”, alerta Miguel Fernandes.

Vale a pena investir num futuro sem atrito?

Segundo dados da PwC, 41% dos consumidores estão dispostos a pagar mais por uma experiência rápida e fluída.

E não é só o cliente que ganha: para as empresas, estas tecnologias oferecem dados valiosos sobre preferências, hábitos e interações, permitindo personalização, cadeias de abastecimento mais ágeis e processos sustentáveis.

No fundo, como resume Miguel Fernandes: “O ponto é resolver problemas. Arranjar soluções”. Um futuro sem atrito não é apenas sobre tecnologia — é sobre facilitar a vida às pessoas.