As tropas de Moscovo invadem a Checoslováquia na noite de 20 para 21 de agosto de 1968 pondo fim à "Primavera de Praga" e às reformas de Alexander Dubcek que tinha abolido a censura e autorizado o direito de reunião além de ter anunciado a preparação de novas propostas económicas motivando retaliações por parte do regime soviético liderado por Leonid Brejnev. O "sonho de um socialismo de rosto humano" chegava ao fim e fica marcado pela resistência dos civis contra os tanques soviéticos durante o mês de agosto provocando tensões políticas na Europa.
No dia 22 agosto de 1968, o embaixador de Portugal na República Federal da Alemanha (RFA), Homem de Mello, emite informações confidenciais sobre o encontro reservado entre o secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, e “alguns dos mais cotados jornalistas alemães” sobre a invasão da Checoslováquia.
Com base em fontes governamentais e partidárias o embaixador apura que Kissinger, que se encontra de visita a Bona no dia da invasão da Checoslováquia pelas forças soviéticas, considera que a RFA deve prosseguir a “détente” com o Leste europeu, mas defendeu o chanceler social-democrata Willy Brandt (SPD) afirmando que concorda com as declarações de “apaziguamento”.
“Devo dizer que não sei até que ponto as declarações feitas por Kissinger traduzem o pensamento íntimo ou pretendem evitar maiores atritos no seio da coligação governamental. Contam-me de certos meios democratas-cristãos (CDU) que os pontos de vista são diferentes e preconizam atitudes mais duras”, escreve o embaixador.
Para Homem de Mello as supostas posições da CDU seriam bem compreendidas pela “grande maioria” da opinião pública alemã “muito chocada” pela invasão da Checoslováquia e que, segundo o embaixador, pergunta: “Quando chegará a vez de Berlim?”.
No mesmo dia, Homem de Mello refere em telegrama “confidencial” informações sobre a falta de previsão dos meios militares de Bona face aos acontecimentos na Checoslováquia que se prolongavam desde o princípio do ano.
“Constou-me em julho que serviços secretos do Ministério da Defesa (RFA) haviam recebido informações que levavam a supor a iminência da invasão da Checoslováquia. Como tal não sucedeu (em julho) a previsão teria sido comentada com ironia”, relata.
Na correspondência que consta do Arquivo Histórico Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros destaca-se também o acompanhamento das críticas de Moscovo contra Portugal por causa da guerra colonial (1961-1975) e a utilização da base aérea de Beja pelos militares alemães.
No dia 23 de outubro, o secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, de novo em Bona, refere-se a Beja em conferência de imprensa afirmando que se trata de "importante" para os Estados Unidos e para a NATO.
"A uma outra pergunta, Kissinger respondeu que 'a Alemanha daria todo o seu apoio a uma associação de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE)", relata o embaixador no dia 23 de outubro de 1968.
A adesão de Portugal à CEE, apoiada por Kissinger em 1968, ocorre em 1985, após a queda da ditadura em 1974.
A Checoslováquia invadida pelos soviéticos em 1968 só passa a conhecer a democracia com a "Revolução de Veludo" em 1989.
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