O porta-contentores Joseph Schulte, com pavilhão de Hong Kong, partiu na quarta-feira do porto ucraniano de Odessa, desafiando a Rússia, que ameaçou atacar tais embarcações desde que pôs fim, em julho, ao acordo pelo qual a Ucrânia podia exportar os seus cereais.
O navio atracará “provavelmente esta noite” em Istambul, indicou hoje um porta-voz do grupo Schulte, com sede em Hamburgo, no norte da Alemanha.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que o cargueiro percorreu a rota de “um novo corredor humanitário” definido por Kiev, depois de a Rússia ter procedido, no fim de semana passado, a disparos de advertência contra um navio de mercadorias que se dirigia para Izmail, um porto do rio Danúbio, no sul da Ucrânia.
Moscovo intensificou também os seus ataques às infraestruturas portuárias ucranianas no mar Negro e no Danúbio desde que se retirou do acordo dos cereais concluído sob a égide da ONU e da Turquia e que entrou em vigor no verão de 2022.
Esse acordo permitia que os cereais ucranianos saíssem dos portos do sul da Ucrânia, apesar do cerco instalado pelas forças russas.
O novo corredor humanitário “será principalmente utilizado para retirar os navios que estavam nos portos no momento da invasão russa”, em fevereiro de 2022, anunciou o ministro das Infraestruturas ucraniano, Oleksandr Kubrakov.
Ao mesmo tempo, a comunidade internacional procura encontrar uma forma de garantir a segurança das rotas de transporte para o resto do mundo dos cereais a tempo da colheita do próximo outono, sendo a Ucrânia e a Rússia grandes exportadores.
O acordo do ano passado contribuiu para fazer baixar os preços globais dos alimentos e proporcionou aos ucranianos grandes receitas. A Ucrânia exporta agora através do Danúbio uma grande parte dos seus produtos agrícolas.
Segundo o diário norte-americano Wall Street Journal, há responsáveis norte-americanos em conversações com a Turquia, a Ucrânia e os países vizinhos sobre o aumento do tráfego ao longo do Danúbio, que desagua no mar Negro, na fronteira entre a Ucrânia e a Roménia.
Um desses responsáveis afirmou que Washington iria analisar todas as opções, incluindo a de um acompanhamento militar dos navios mercantes ucranianos.
Mas um funcionário do Ministério da Defesa turco, falando a coberto do anonimato, pareceu hoje descartar essa hipótese.
“Os nossos esforços concentram-se na reativação do acordo sobre os cereais”, declarou à estação de televisão privada turca NTV.
O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, espera encontrar-se com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, ainda em agosto, e a recuperação do acordo sobre as exportações de cereais ucranianos deverá estar na agenda de debate.
Erdogan tentou, desde a eclosão da guerra, manter a neutralidade do seu país e reforçar o seu papel diplomático. A Turquia acolheu, assim, as duas primeiras rondas de negociações de paz com a Ucrânia e intensificou as suas trocas com a Rússia enquanto fornecia armas a Kiev.
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