Karamba Diaby nasceu no Senegal e mudou-se para a então Alemanha de Leste em 1985. Doutorado em química, fez história ao tornar-se no primeiro deputado de origem africana a entrar no parlamento alemão, eleito pelas listas do Partido Social-Democrata (SPD). No entanto, Diaby anunciou que vai deixar a vida parlamentar, recusando uma candidatura às eleições federais do próximo ano, escreve o The Guardian.

Diaby citou a vontade em dedicar-se à vida familiar e dar o seu lugar a políticos mais novos como causas para o abandono do Bundestag, o parlamento alemão. No entanto, o anúncio ocorre semanas depois do deputado ter revelado uma série de mensagens de ódio que ele e a sua equipa parlamentar receberam.

O deputado do SPD tem sido alvo de ataques racistas e tentativas de intimidação nos últimos anos. O seu gabinete em Halle, na Saxónia-Anhalt, foi alvo de fogo posto e de balas disparadas contra a janela no ano passado.

Além disso, alguns dos seus funcionários têm sido alvo de tentativas de chantagem para deixarem de trabalhar para ele. "Nos últimos anos, fui alvo de várias ameaças de homicídio. Isto agora ultrapassou os limites", afirmou há algumas semanas.

Diaby cita a entrada do partido populista de extrema-direita AfD na vida pública alemã e no parlamento como razão para o aumento do abuso racista e das ameaças de morte que tem vindo a sofrer. "Desde 2017 que o tom no parlamento alemão tornou-se mais duro", afirmou ao podcast Berlin Playbook da revista Politico.

"Ouvimos discursos agressivos de colegas da AfD, com conteúdos depreciativos e ofensivos nessas intervenções. Trata-se de uma situação totalmente nova em comparação com o período entre 2013 e 2017. Este estilo agressivo de falar é um terreno fértil para a violência e a agressão nas ruas", alertou.

"O ódio que a AfD semeia todos os dias com as suas narrativas misantrópicas reflecte-se em violência psicológica e física concreta. Isto põe em perigo a coesão da nossa sociedade. Não podemos simplesmente aceitar isto", avisou ainda.

Diaby frisa, contudo, que esta não foi a principal razão para abandonar a carreira parlamentar e que vai manter-se ligado à política. Numa carta dirigida aos colegas de partido esta terça-feira, prometeu manter-se ativo no SPD, especialmente nos 15 meses que antecedem as eleições: "Temos pela frente grandes desafios e muito trabalho".