O relatório "indica que, à luz dos factos conhecidos à data da sua redação, não pode ser estabelecida uma ligação entre a intervenção das forças policiais e o desaparecimento de Steve Maia Caniço", disse Edouard Philippe numa declaração pública em Paris.
O primeiro-ministro falava depois da confirmação pelas autoridades de que um corpo retirado do rio Loire, na segunda-feira à noite, era do jovem lusodescendente de 24 anos, que estava desaparecido há mais de um mês.
Steve Maia Caniço estava desaparecido desde 22 de junho, em França, tendo sido visto pela última vez durante uma intervenção policial numa festa em que participava, em Nantes.
O desaparecimento do lusodescendente causou ondas de choque em França, devido às imagens e descrições da intervenção policial, que mostravam a utilização de gás lacrimogéneo e balas de borracha contra os jovens.
Na sequência do ocorrido, o Ministério do Interior francês ordenou, a 24 de junho, a abertura de uma investigação à atuação das forças policiais, cujas conclusões foram tornadas hoje públicas pelo primeiro-ministro francês.
Edouard Philippe adiantou que o relatório evidencia as dificuldades ligadas à intervenção policial, adiantando que o arremessar "consecutivo" de projéteis contra os polícias levou ao uso de gás lacrimogéneo.
Segundo o primeiro-ministro francês, as conclusões da investigação levantam também dúvidas sobre a organização da festa.
"Mais de cinco semanas depois, o desenrolar dos acontecimentos daquela noite permanece confuso", disse.
Acrescentou que mandatou a Inspeção Geral da Administração para conduzir uma investigação às responsabilidades dos poderes públicos, nomeadamente câmara municipal (mairie) e prefeitura, bem como dos privados na organização da festa.
As conclusões desta investigação deverão ser conhecidas dentro de um mês.
Na mesma declaração pública, Edouard Philippe apresentou condolências à família de Steve Maia Caniço e prometeu transparência em todo o processo.
"O falecimento de Steve Maia Caniço é um drama que nos toca a todos. Gostaria de exprimir o meu pesar e do Governo e endereçar aos pais deste jovem as mais sinceras condolências. Sei que as palavras significam pouco quando perdemos um filho, mas desejo encontrá-los em breve, juntamente com o ministro do Interior, para lhes testemunhar o nosso apoio e a nossa vontade de transparência total", disse.
Na sequência da retirada do corpo do rio Loire e da sua identificação, as autoridades anunciaram a abertura de uma investigação por suspeitas de "homicídio involuntário", enquanto decorrem várias outras diligências para tentar esclarecer as circunstâncias da intervenção policial.
Duas associações francesas abriram um processo contra as autoridades, em nome de mais de 80 pessoas que estavam presentes aquando da carga policial.
Esta queixa coletiva foi apresentada por a ação policial ter "posto em perigo a vida" dos jovens, recorrendo a "violência voluntária", tendo reunido cerca de 140 testemunhos.
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